|QUARENTA E UM| - NO OLHO DO FURACÃO.

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A famosa coleção de adagas.

Provindas de várias partes do mundo, demorou um certo tempo para que meu pai as adquirisse por completo. No entanto, até hoje não entendo o seu fascínio por tais objetos, assim como não compreendo como ele não foi capaz de as expor pela casa e sim optar em manter guardadas ao sótão. Talvez, fossem tão preciosas que o senhor Velmonte não gostaria que ninguém tivesse contato com os objetos pontiagudos a não ser ele.

Levanto, caminhando até a mala, enquanto o olhar de Harry me segue. Busco espaço para alcançar o meu objetivo e odeio meu pai por ter deixado o sótão nesse estado. Olho as fechaduras com senhas, e desejo mentalmente que não tenham sido mudadas. Aciono os números 6745 que para mim são aleatórios enquanto para o senhor Velmonte deve possuir um maior significado.

─ Quem fez isso com você?  ─ Pergunto, olhando de relance para Harry, que encolhe os ombros, mantendo-se cabisbaixo.

─ Eu não sei. ─ Sua voz expressa a confusão que o atormenta, ao mesmo tempo que meus olhos analisam as pontas afiadas das várias adagas que contemplam a maleta.

─ Como não sabe? ─ Indago, escolhendo pela adaga mais fina que encontro, e que talvez possibilite um melhor funcionamento.

─ Assim que chegamos, eu fui direto para o meu quarto do hotel, estava cansado e adormeci. Quando acordei eu estava aqui com você. ─ Ao perceber meu caminhar perto de sí, seu olhar se ergue, analisando o que tenho em mãos. ─ Cuidado com isso! ─ A aflição e o receio são evidentes em toda a sua postura, o que eu acho graça e por breves segundos eu esqueço do que nos aguarda ao andar de baixo.

Enfio devagar a ponta da adaga entre seu punho e as cordas, percebendo o olhar de Harry pesar sobre mim, jogando toda a responsabilidade sobre as minhas costas. Em movimentos cuidadosos e lentos, eu faço o movimento de vai e vem, percebendo que aos poucos a corda começa a ceder, o que aparentemente ameniza e alivia a dor que Harry está sentindo.

Seu olhar encara ansioso e esperançoso para que a amarra seja rompida, e assim que efetuo o ato, Harry toma de minhas mãos a adaga, que sem muito cuidado a enfia por dentro da corda de seu outro pulso, puxando contra e arrebentando aquilo que o prende. Meu olhar automaticamente paira sobre as marcas avermelhadas e roxeadas, à medida que Harry se livra das cordas em seus tornozelos. Ele suspira abrandecido, massageando seus pulsos, abrindo e fechando as mãos conforme o fluxo de sangue começa a percorrer novamente pela região.

Em movimentos rápidos, ele se levanta e coloca a adaga dentro do cós da calça, enquanto seus olhos percorrem pelo ambiente bagunçado, velho e empoeirado do sótão. Eu o observo, sem conter meus pensamentos sobre nós, sobre nossa briga e o término que tivemos ao final. Tento decifrar sua postura em relação á mim, mas, Harry não deixa nada transparecer.

Seu olhar se cruza ao meu, os conectando, como se as íris verdes pudessem transpassar até o alcance de minha alma. E eu sou surpreendida por seus braços que me envolvem em um abraço de carinho e conforto, evidênciando a saudade que sentimos, e que transmite o amor que nunca deixou de existir entre nós.

Aconchego-me em seu peito, à medida que seus braços me acalentam. Harry deposita um beijo ao topo da minha cabeça, apoiando o queixo sobre ela em seguida. Consigo ouvir o palpitar de seu coração em um ritmo calmo e sereno, mas que há resquícios de preocupação.

─ Nós iremos ficar bem, eu prometo! ─ Harry se afasta, mas sem deixar de quebrar nosso abraço, ao mesmo tempo que seu olhae procura pelo o meu, em uma tentativa de me acalmar e me fazer sentir segura novamente.

Contudo, seria Harry capaz de manter tal promessa?

A entrada do sótão se sobressai do chão algumas vezes em estalos altos, refletindo o choque de algo sendo investido contra a fechadura.  Assusto-me com o som, e Hary me aperta em seus braços, ressaltando o perigo eminente que teremos que enfretar. Pois pelo balançar da porta é evidente que, independente, de quem esteja do outro lado, está disposto e preparado para arromba-lá a qualquer instânte.

O SEGREDO DA NOITEWhere stories live. Discover now