XVIII- Cilada

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O horizonte preparava o cenário para receber os primeiros raios de sol quando ela atravessou a largos passos o longo caminho em campo aberto.

Sem dar importância à relva ainda molhada pelo orvalho noturno que umedecia a barra de sua saia esvoaçante, seguia obstinada e atenta que ninguém a observasse.

Tinha o coração acelerado e as mãos suadas denunciavam a ansiedade que lhe consumia o espírito.

Estava feliz ao ponto de carregar nos lábios um sorriso indissolúvel e nos olhos cintilavam êxtase.

Não via à hora de contar as boas novas...

Sem trazer consigo a parcimônia, adentrou abruptamente à austera tenda que erguia-se imponente e ostensiva, destacando-se entre às demais do acampamento.

Assim que afastou os véus que guardavam o aposento principal, expirou profundamente, como se fosse a primeira vez que o fizesse nos últimos minutos enquanto fitava com cumplicidade os olhos da ansiã.

- Está feito Bába Iolanda...

- Fiquei feliz com sua demora. Parece que as coisas se estenderam por lá... E pelo seu sorriso deu tudo certo, presumo. - Constatou a velha cigana, levando aos lábios uma xícara de chá preto.-

- Sim. Saiu tudo conforme planejamos. - Respondeu Samara com uma alegria quase infantil. -

- Vocês chegaram às "vias de fato"? - Perguntou Iolanda em tom de suspense.-

- Sim!!! Já não sou mais virgem! Deixei meu sangue impresso nos lençóis de Igor.

Foi maravilhoso.

Esperei até ter certeza de que ele estivesse dormindo profundamente até entrar silenciosamente em sua tenda. Sem despertar ele cedeu aos meus encantos e me possuiu por horas até que resolvesse acender às velas... - Relatou Samara, sentindo-se vitoriosa.-

- E como ele reagiu quando a viu?

- Ah... Pareceu confuso e assustado no primeiro momento e logo em seguida, converteu-se em arrependido e raivoso. De certo que gostaria que fosse aquela gadji quem estivesse com ele e não eu. Mas sei que posso mudar isso. - Falou Samara confiante.-

- Hum. Típico de Igor a reação. Muito bem filha.
Thie Aves Thiatlô Lom, Manrô Tai Sunkai! Que você seja abençoada com o sal, o pão e o ouro!
Do jeito que meu neto é honesto, com certeza não haverá discussão para que aceite se casar com você. Agora deixe comigo. Saberei conduzi-lo ao nosso objetivo.

- Nais tuke. Obrigada.
Eu amo Igor e nem sei como lhe agradecer.

- Sabe sim. Agora temos uma dívida entre nós. E você vai me pagar com a vida daquela gadji impura. - Impôs Iolanda. -

- Não se preocupe. Cumprirei com prazer.

- Agora vá. Deite-se em sua cama, cubra-se até os olhos e não levante o dia todo. Deixe seus pais pensarem que está doente e preocuparem-se. Qualquer pergunta que venham à fazer, não responda. Diga apenas que se sente mal. O resto cabe à mim. Aguarde minhas instruções... Ande logo, antes que outros da Kumpania despertem e a vejam sair daqui. -Ordenou a velha.-

Abraçaram-se rapidamente ao se despedir e Samara saiu mais rapidamente do que havia entrado...

Nai lovê ane lumia thie potinás ek chau... Não existe dinheiro no mundo que pague um filho... Lolla terá um custo alto por ter feito meu filho sofrer. Sentirá minha dor escarificar sua própria pele. Minha vingança não tarda. -Prometeu Iolanda de fronte ao espelho da penteadeira, com a expressão pesada e maligna de quem espera que o pior aconteça. -

As Crônicas de Ostara.  Livro 1- UM CONTO DE BRUXAS (Em Revisão)Where stories live. Discover now