XVII- Banimento

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ADVERTÊNCIA : As invocações que seguem abaixo, são um ritual Enochiano LEGÍTIMO. Não leiam em voz alta.

A luz dos raios rasgava a noite, e os graves urros dos trovões que os seguiam, abafavam sem piedade a ruidosa melodia orquestrada pela volumosa chuva sobre os telhados.

O vento implacável reinava absoluto contornando esquinas, como um sentinela assegurando-se em manter perene o deserto escuro em que as ruas haviam se tornado, após ter derrubado vários postes da rede elétrica.

Tremeluziam modestas chamas das velas acesas através das cortinas, iluminando parcamente as casas e conferindo-lhes uma atmosfera lúgubre e taciturna.

A benevolência se ausentara naquela noite, concedendo passagem livre aos arautos dos maus augúrios... O mal estava à espreita da caça.

A lua de sangue do Esbat resplandecia una no manto negro enevoado que configurava o céu, pronta para atender do mais ínfimo ao mais cruel dos desejos evocados e à ela dirigidos.

Brasas estalavam ferozes sobre um antigo tacho de cobre, embalando jogos de sombras que dançavam sobre o despido corpo ancião e flácido de Salazar.

Dentro de um grande pentagrama de sal, delimitado por um círculo com igual grandeza, tinha o velho, os olhos do avesso e o rosto bastante sulcado pelo tempo, voltado ao leste. Uma intensa vibração lhe percorria do espírito às entranhas e aparentava semiconsciência.

Certamente uma nefasta visão para algum desavisado que viesse à adentrar o cômodo e que se tornara ainda mais impressionante e sobrenatural à medida que, tomado de um timbre gutural, escarrava uma voz tão pesada e sombria que se sobressaía aos ensurdecedores trovões que há pouco comandavam em coro.

Com uma guia de pequenas contas às mãos, erguidas sobre a cabeça, invocava:

"LONSA AMMA OI NETAAB.

OL LVSDI INSI BLANS NOMIG OAI ORS

OIAD INSI DLVGAR OLLOR RIOR EOPHAN

OIAD INSI NANAEEL OI NOBLOH OD NOROMI I DARBS

OIAD PON GAH ZAH

AMMA NOASMI OI MONASCI OD OI ADOIAN TONVG

AREPT BAMPOI MADACHE

OIAD AMMA LONCHO OBZA NOSTOAH

OI MAD GEMEGANZA NOASMI"

Que se podia traduzir em:

"Toda feitiçaria está extinta

Que Meus pés andem protegidos mesmo entre as trevas

Deus passa deixando um lamento de viúvas

Quando ele avança e desce seu punho, então pessoas morrem

O deus que destrói o seu interior

Amaldiçoado seja seu nome e que seu rosto seja desfigurado

O nome do mal encarnado

Que esta maldição caia sobre ele,

E que ele seja esquecido.

Que seja feita a vontade divina

Com a voz de mil trovões"

E repetia palavra por palavra, sucessivas e incontáveis vezes, como se no intento de manter um campo de força, até que a tempestade cedesse e os primeiros raios de sol ameaçassem aparecer no horizonte.

As Crônicas de Ostara.  Livro 1- UM CONTO DE BRUXAS (Em Revisão)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora