Nova vida

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O barulho dos carros, o cheiro de chuva e a inegável tranquilidade da cidade para onde havia se refugiado conseguia trazer um sorriso sincero na face de Dominic Galli, que agora se chamava Dominic Revalli. Deixou seus cabelos crescerem um pouco mais, assim como a sua barba lhe dando um ar mais selvagem. Ele não conseguia acreditar que já havia se passado um ano desde que fugira de sua família e ninguém havia ido atrás dele, lhe procurar. Em seu íntimo desconfiava que Vlad havia feito alguma coisa, talvez ameaçado alguém como fizera quando sua irmã decidiu casar-se com uma pessoa "normal". Dominic jamais iria esquecer a expressão de horror na face de sua mãe. A mãe deles sonhava em aumentar o território da família Chevalier Galli, enquanto o seu pai tinha apenas um desejo: Manter a sua família saudável e segura, coisas que sua mãe jamais entendera apesar de amar o pai deles. Eles possuíam uma visão de vida diferenciada.

Dominic tinha consciência que Vlad não conseguiria manter a sua família longe por tanto tempo, e em algum momento a sua mãe apareceria para leva-lo de volta ao mundo da máfia. De volta a um mundo que ele não pertencia. E por mais que odiasse a podridão da máfia, sabia que eles eram a sua família. Um família distorcida e cruel, mas ainda assim sua família. Um suspiro escapou de seus lábios ao apertar o casaco em seu corpo, optara por sair na noite mais fria do mês. Os pingos da chuva molhavam o seu cabelo, mas não se importava. A sensação da água fria tocando a sua pele assemelhava-se a liberdade que sentia em seu interior.

O local para onde havia fugido consistia em uma cidade pequena, que vivia de agropecuária na maior parte, tudo era calmo e silencioso, apenas a noite que movimentava-se como em todas as cidades pequenas. Por mais que odiasse admitir, mal se recordava do nome da cidade. Aquela era a segunda cidade em que se escondia após o casamento de Vlad, no inicio imaginou que seria seguido, mas percebeu após sair da primeira cidade que ninguém procurava por ele, tranquilizando-o. Agora tinha tempo para decidir o que queria de sua vida, sem que sua mãe se intrometesse e impusesse seus sonhos sob seus ombros, como ela fazia com todos os filhos. Desde pequeno todos os seus irmãos haviam sido criados para não ter piedade e nem compaixão. Sendo obrigados a matar traidores quando fizessem doze ou quinze anos, essa havia sido a sua realidade. Uma realidade doentia e perversa que apenas os Chevallier e Galli poderiam pensar.

Um doloroso sorriso escapou de seus lábios ao se recordar da primeira pessoa que havia matado sobre o olhar atento de sua mãe, ela lhe dissera com frieza que se não o matasse jamais poderiam pertencer a família e nunca mais seria seu filho. Um homem que havia traído a família pela sua própria família, esse havia sido o primeiro assassinato que Dominic cometeu. E desde aquele dia prometeu a si mesmo ser diferente. Se formou em medicina acreditando que poderia seguir seu próprio caminho, mas se enganou ao descobrir que sua mãe já havia comprado um hospital e que ele seria responsável por todos os feridos da máfia. E obviamente, Dominic seria o diretor e médico principal.

Atormentado por tudo, esperou o momento certo para fugir e encontrou no casamento de Vlad a oportunidade perfeita para isso. Fugiu sem olhar para trás, mas agora percebia que em algum momento teria que visitar a sua sobrinha mais uma vez e a sua família. Ele não poderia continuar fugindo, infelizmente. A única vida que ele desejava era uma vida pacifica em que pudesse cuidar das pessoas, apenas isso. Mas ninguém entendia suas necessidades, e a cada segundo que permanecia na família Gali sentia-se sufocado e preso a algo que não queria.

Talvez um dia eu seja livre, pensou com esperança ao parar em frente ao semáforo. Ser médico acabou sendo a única coisa que sua família que lhe dera de positivo, e por gostar de sua profissão optou por exerce-la assim que chegou na cidade. Não foi difícil encontrar uma vaga no único hospital da cidade. Tentou sorrir ao se recordar que metade dos documentos que havia levado eram falsos. Se alguém consultasse sobre ele em seu antigo trabalho, não iria demorar para que todos os Galli aparecessem na cidade e acabasse com tudo. Com a sua paz, com a inocência do local. Apertou o casaco ainda mais contra o seu corpo ao perceber que a chuva aumentara gradualmente.

Doce PerigoWo Geschichten leben. Entdecke jetzt