Capítulo 03

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Porém, como dizem as Escrituras Sagradas:
"O que ninguém nunca viu nem ouviu,
e o que jamais alguém pensou que podia acontecer,
foi isso o que Deus preparou para aqueles que o amam."
1 Coríntios 2:9

Lucas

Era tinta de todas as cores, não sei nem como estou conseguindo enxergar o que se passa ao meu redor. Vou empurrando as pessoas para sair do meio da multidão. Solto um suspiro aliviado quando estou longe o suficiente. Então eu a vejo. A garota do corredor. A reconheço também da minha sala. E segundo Pedro se chama Elisa. Nome bonito para uma garota bonita, com olhos verdes exuberantes. Ela está sendo esmagada pelas pessoas, e tenta sair. Quando mais insiste, a aglomeração aumenta e mais tinta é derramada. Noto seu desespero e quando dou por mim, saio empurrando as pessoas para ajudá-la. A pego pela cintura, tirando- a para fora da confusão. Seu rosto está todo coberto de tinta, e pela sua reação de não está entendendo nada, tenho certeza que não consegue enxergar. Pego a garrafa de água que guardo na minha bolsa, também toda suja de tinta e lavo o seu rosto delicado.

— Essas são minhas desculpas pelo acontecimento no corredor — Digo puxando um sorriso amigável a ela — desculpas aceita?

Ela finalmente ergue seus magníficos olhos verdes para me mim. Acho não ter visto em lugar algum. São lindos, expressivos. Ela fala silenciosamente através dos seus olhos. Entretanto, eu não sei como interpretá-los.

— Na... não precisa pedir de... desculpas a culpa do que aconteceu fo..foi minha — enuncia toda atrapalhada. Solto uma risada baixa achando graça de seu jeito. Ela cora. Isso é incrivelmente engraçado. Nunca vi uma mulher corar penas por falar comigo.

— Então você fica me devendo uma — digo-lhe. Ela ergue sua sobrancelha e abre a boca para dizer algo, mas fecha novamente.

— Lucas — Apresento-me erguendo minha mão para cumprimentá-la -- Suponho que deveria saber pelo menos o nome da pessoa que está em dívida.

— Elisa — sussurra. Ela olha para minha mão por um longo tempo, antes de me cumprimentar.

— Bonito nome — ouso dizer. Ela rapidamente abaixa o olhar e para minha decepção se desprende da minha mão.

Nesse momento uma garota que também reconheço da minha sala, surge gritando.

— Vamos embora Elisa preciso de um banho para tirar essa tinta horrível do meu cabelo.

— obrigada por ter me salvado — Elisa me mostra um sorriso de despedida, saindo rapidamente ao encontro de sua amiga. Fico no mesmo lugar observando-a desaparecer.

Solto um suspiro forte indo em direção ao meu carro. Carro que acabei de comprar e vai está todo sujo de tinta. Quando chego a casa, vou diretamente para o banho, mas não antes de ser zoado por todos os caras da república. Meia hora depois saio banho, pensei que a tinta nunca ia acabar, tentei tirar o máximo possível. Na hora do jantar, todos estão reunidos na cozinha e quando desço encontro eles conversando sobre as novas mulheres do campus. Felipe está em uma discussão com Nick sobre a pontuação que a tal de Vick merece. Tento não dar muita atenção para a conversa sem noção deles, porém, o nome seguinte me chama atenção.

— Elisa é nota dez — Confirma Felipe — Almocei com ela, Gustavo e Vick hoje, estava babando por mim. Essa já é minha, sem falar que é muito bonita e faz medicina.

— Espera — Disse Nick pensativo — Se ela faz medicina, tem grande possibilidade de está na mesma sala que Lucas.

Olham em minha direção atrás do balcão da cozinha, no momento que coloco para aquecer a macarronada. Faço uma cara de desentendido, demostrando não está interessado muito na conversa.

— Conhece a Elisa? Ela faz medicina, ruiva, alta, bonita, olhos verdes — Felipe descreve.

— sim, conheci Elisa, se for a mesma pessoa, está sim, na minha sala -- Digo, dirigindo de volta a minha atenção ao meu jantar.

Eu já fui igual eles. Tratava as mulheres piores que eles. Não que eu seja melhor, de maneira nenhuma. Pois, se Deus não tivesse me dando essa oportunidade, eu era bem pior. Balanço a cabeça dispersando esses pensamentos, e me permito pensar em Elisa. Quer dizer, não me permito nada, pois ela não sai da minha mente. Não consigo controlar, e eu jamais poderia esquecer aqueles olhos verdes. Tive a impressão que eles querem te contar todos os segredos e, ao mesmo tempo, te pedem para não tentar descobri-los. E eu quero descobrir? Não sei, mas gostaria de mostrar o verdadeiro amor de Deus ela. Eu necessito mostra-la. É um desejo ardente no meu coração que ficar mais forte à medida que nos encontramos. Certo... Foram somente duas vezes.

Depois do jantar, eu, Pedro e Rafa preparamos uma atividade para os jovens da igreja que ia acontecer no parque nesse final de semana. Estávamos muito animados, principalmente depois que o pastor me pediu para ajudar nesse evento. Várias Bandas de louvor local irão participar, com uma maneira de atrair muitas pessoas para ouvirem a palavra de Deus, por isso necessitam de toda ajuda. Tudo o que faço é para Deus e somente Deus. As pessoas precisam entender que tudo é sobre Ele e nada para nós. É Cristo ou nada! Eu me entreguei para Jesus inteiro. Não tinha nada, nem mesmo família, nem amigos. Tudo o que tinha perdi. Ele me deu tudo de novo, coisas novas, que nunca experimentei. Quando você sabe de onde veio, que veio do esgoto, demostra um zelo especial por Deus e pelas suas obras e meu coração se senti de uma forma que não pensei que poderia acontecer. Em paz.

No começo me sentia indigno. Sempre lhe sussurrava, "Jesus, tenha piedade de mim, por favor!". E Ele diariamente tem piedade, e eu diariamente me emociono quando estou de joelhos orando. Pois, Ele me escolheu. Muitos são chamados, mais poucos o escolhem, poucos escolhem servi-los. Poucos dizem sim, pois não querem pagar o preço de mudar de vida. Descobrir que o Sim, que Deus espera de mim, não está na obra que faço, mas na obra do Espírito Santo dentro de mim.

Terminamos tudo. Vou à cozinha para beber água. Encontro Nicole sentada na cadeira, com alguns livros espalhados pela mesa. Ela ergue o seu olhar e sorri para mim. Felipe disse serem somente amigos, mas julgo que sua definição de amizade é muito diferente da minha.

— boa noite — enuncia me oferecendo uma piscadela. Nicole é bonita, mas vulgar e muito perigosa. Devo me manter longe dela. Bem longe, se for possível a cem metros de distância.

Aceno educadamente. Abro a geladeira, apenas sinto sua respiração de roçar no meu pescoço.

— precisa de algo? — pergunto fechando a geladeira desistindo de beber água. Viro-me para sair de perto. Nicole rir da minha reação.

— De você — enuncia vindo novamente na minha direção. Sei que preciso fugir, mas fico no mesmo lugar. Ela para na minha frente, observo estender sua mão direita para tocar no meu ombro. Agarro seu braço a impedindo.

— você pode ser melhor que isso, eu sei que pode -- digo a encarando.

Pedro surge na porta da cozinha. Observa a situação e pigarreia. Largo o braço dela sem parar de olhá-la. Ainda sim, ela sorri para mim e se vira pegando seus livros da mesa sem a menor pressa. Acena para Pedro antes de desaparecer no corredor.

— fuja o quanto puder — diz Pedro achando graça da situação.

— seu conselho chegou um pouco atrasado — digo andando em direção a geladeira para pegar água e acalmar os nervos.

Através do Seu Olhar ( Degustação)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora