Prólogo

9.5K 720 104
                                    

Dois anos atrás

O suor escorre pelo meu rosto, mas continuo esmurrando o saco de pancada. Um, dois, três... Vinte... Sessenta... Cem. Eu poderia ficar fazendo isso por horas até não aguentar mais. Amanhã é o grande dia, já lutei em vários campeonatos e nenhum é igual ao outro. Levo o que faço muito a sério, e a luta de amanhã não seria diferente.

— Vim resgatá-lo — paro de socar e viro para Sara. Estava tão concentrado que nem percebi sua chegada.

Ela sorri para mim, caminho em sua direção ainda ofegante. Assim que chego perto dela, passo meus braços ao redor do seu corpo. Ela fica de ponta de pé, conforme aperto seu corpo contra o meu.

— Você está todo suado — resmunga tentando se desvencilhar de mim. Eu sei que ela não liga para isso, então ignoro suas reclamações -- estou sentindo-me sufocada Lucas.

Diminuo meu aperto, e lhe dou um beijo antes de soltá-la.

— Exagerei não é? — Pergunto me referido ao longo tempo que passei nessa academia treinando. Ela apenas revira seus olhos azuis.

— Sua mãe pediu para vim buscá-lo.

— Eu não preciso de babá — solto a procura de minha bolsa. ­

Minha mãe sempre costuma se meter onde não é chamada.

— Eu não sou sua babá, sou sua namorada! — observo quando ela caminha para fora da academia furiosa. Suspiro forte, ao invés de segui-la para pedir desculpas, carrego minha bolsa e vou para o banheiro.

Dez minutos depois, tranco a academia e caminho para o estacionamento. Sara está sentada no capô do seu carro, com o fone de ouvido e os olhos fechados. Ela se balança conforme o ritmo da música. Paro para olhá-la, minha namorada é linda e sinceramente não sei o que faria sem ela. Seu cabelo ruivo encaracolado está amarrado em um rabo-de-cavalo. E as sardas do seu rosto são maravilhosas. Amo suas sardas, apesar dela odiá-las. Tiro seu fone de ouvido, ela abre seus olhos imediatamente.

— Me desculpe — sussurro — às vezes eu sou um verdadeiro babaca.

— Me diga uma coisa que eu não sei — fala tornando a colocar seu fone de ouvido. Nem sempre é fácil fazer as pazes com ela. Sara sempre me faz correr atrás. Preciso ter apenas paciência e esperar que esteja de bom humor.

Retiro novamente seu fone de ouvido.

— Eu te amo amor, me desculpe — digo com toda sinceridade. Ela sempre se derrete quando digo que a amo. Observo suspirar forte, me encarando.

— Tudo bem, vamos esquecer isso, mas não me chame de amor — reclama. Fazendo uma cara como se quisesse vomitar. Segundo Sara, todos os casais chamam um ao outro de amor, e outros apelidos carinhosos. Sara odeia apelidos carinhosos. O máximo que ela aceita é quando lhe chamo de querida.

Beijo sua bochecha achando graça. Ajudo-lhe a descer do capô do carro. Abro a porta do motorista para ela, já que ainda não tenho idade suficiente para dirigir. Assim que sento no meu banco, pego o meu maço de cigarros.

— Você prometeu que iria parar — diz pegando da minha mão. Bufo, mas não digo nada. Ela liga o carro.

— Vai jantar na minha casa hoje? — Essa é a minha maneira de reclamar que estamos muito ocupados sem tempo para nós. Passo muito tempo na academia e na escola, enquanto Sara trabalha como garçonete e estuda.

Ela balança a cabeça confirmando.

— Amanha será o grande dia — diz empolgada. Mas sei que estará uma pilha de nervos na hora da luta. Eu nunca perdi uma luta desde quando comecei a praticar MMA, sei que sempre tem uma primeira vez. Apenas quero fazer o meu melhor.

Através do Seu Olhar ( Degustação)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora