No decorrer do trajeto até minha casa, ela me conta de como foi seu dia. Eu gosto quando compartilha essas coisas simples da vida. Sara me faz sentir um garoto normal. Não um garoto que já foi quatro vezes para reabilitação por causa de problemas com drogas. Fico constantemente perguntando como ainda não desistiu de mim.

Ela estaciona o carro na frente de casa, e juntos caminhamos para dentro. Mamãe está no sofá assistindo televisão. Vira-se para nós. Imediatamente vejo seus olhos vermelhos. Meus olhos caem para o que está segurando na mão. Droga! Esqueci a maconha no bolso da minha calça.

— Eu já disse para não mexer nas minhas coisas! — Nervoso, chego perto dela e tiro a maconha de sua mão.

— Você me prometeu — as lágrimas caiam em seu rosto. Olhei para Sara que me encarava decepcionada.

— Eu odeio Você — gritei para minha mãe. Será que ela não sabe que não sou forte o suficiente? -- Você pode me internar quantas vezes forem, mas sempre volto.

— Você é meu filho, jamais vou desistir de você! Eu te amo.

É demais ouvir essas palavras dela. Não mereço ouvir isso. Saio da sala e vou para o meu quarto. Bato a porta com força. Grito alto. E jogo as malditas drogas contra a parede. Quebro minha guitarra, espalho meus livros por todos os cantos. E continuo a gritar. Sento-me no chão, apoiando à costa na cama. As lagrimas saem, lagrimas de derrota. Posso até lutar e vencer meus adversários, mas e eu? Será que consigo me vencer?

Sinto uma mão massagear meus cabelos. Ergo meu olhar e encontro Sara. Ela também está chorando. Diversas vezes já lhe pedir para ir embora, mas todas as vezes que isso acontece ela continua aqui. Sara senta ao meu lado, passando seus braços ao redor do meu pescoço.

— Eu te amo tanto — sussurra nos meus ouvidos. Ela não sabe como me maltrata falando essas coisas. Não a mereço e não sei se um dia serei homem suficiente para merecê-la.

Deito-me colocando a cabeça nas suas pernas. Enquanto passa seus dedos no meu cabelo, fecho os olhos querendo que toda essa dor desapareça de dentro de mim.

*****

Acordo na minha cama. Não lembro como vim parar aqui. Viro-me e Sara está ao meu lado. Ela quase não dorme comigo, as raras vezes sempre são noites como a de ontem. Dou-lhe um beijo na sua bochecha e sigo para o banheiro me desequilibrando entre a bagunça que causei. Tomo um banho e quando volto Sara ainda está dormindo. Visto minha roupa e pego a minha bolsa de treino. Saio silenciosamente para não acorda-la.

Vou caminhando até academia que treino. Sempre sou o último a sair e o primeiro a chegar. A luta está marcada para hoje à noite e depois disso tem uma festa em comemoração. Isso deve ser bastante o suficiente para manter minha cabeça ocupada. No decorrer do dia não treino muito, fico apenas matando o tempo ajudando os alunos, e conversando com os outros lutadores.

Finalmente as pessoas começam a chegar para a luta, meu treinador o Senhor Jackson vem em minha direção.

— Tudo certo garoto? — ele é como um pai para mim, já que o meu sempre vive viajando. E não importam quantas pessoas eu derrote com minha luta, sempre serei um garoto para ele, apesar de ter apenas dezesseis anos.

— tudo certo — digo.

— Mande ver daqui a pouco — diz passando por mim indo para seu escritório.

As lutas nem sempre acontecem na academia, elas sempre variam conforme as academias de lutas que disputam. Hoje será aqui.

— Garoto sua vez — diz o treinador abrindo a porta. Respiro fundo e saio em direção à arena. As pessoas gritam meu nome quando passo por elas, já me acostumei, sou bem conhecido. Assim que entro na arena olho para o a primeira fila de bancos. Sorrio ao ver Sara sentada, ela grita meu nome torcendo por mim.

Através do Seu Olhar ( Degustação)Where stories live. Discover now