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Puxei mais as mangas do meu casaco para baixo e peguei no meu telemóvel, desligando a música e tirando os fones das orelhas. Terceira semana de aulas e cá estava eu, sozinha pelos corredores. Típico. Não estava propriamente à espera de ser a miúda mais popular da escola, longe disso até. Nunca fui e nem quero ser. A minha irmã era e sempre vi as amizades falsas de estava rodeada. Mas eu pelo menos tinha tido sempre amigos, ou pelo menos companhia.

A verdade é que em Portugal temos a mesma turma para todas as disciplinas, o que torna a tarefa de fazer amigos muito mais fácil. Claro que se convives com o mesmo grupo de pessoas 5 dias por semana, não sei quantas horas por dia, vai chegar a um ponto em que se sentes minimamente confortável. É inevitável. Aqui não, cada aula, cada turma, e assim não consigo conhecer ninguém. Depois há a coisa que eu realmente não sei fazer amigos. Sou muita tímida, para além de que nunca tive a necessidade de o fazer. Tinha sempre gente conhecida na turma, tornando tudo muito mais fácil. Raio de ansiedade social.

"Bem" pensei eu para mim mesma "ao menos assim não tens de fingir que estás feliz a toda a hora" Tentei reconfortar-me a mim mesma pensando assim. Passei as mãos rapidamente pelas calças, para sacudir a sujidade por me ter sentado mo banco sujo da escola. Continuei o meu caminho até à sala de aula onde ia ter Inglês, sentando-me no lugar habitual lá atrás. Assim ninguém me chateava.

Aos poucos e poucos foram entrando todos os alunos, que se iam sentando nos seus lugares, junto dos seus amigos, esperando a chegada do professor. Viravam-se para trás, rindo alto, sentados em cima das mesas, apesar de terem as cadeiras vazias. Eu, como estava sozinha, observava-os a eles. Mas com cuidado, para que não reparassem, a última coisa que precisava era que achassem que eu era ainda mais estranha.

Havia uma loira obviamente falsa e com a pele demasiado laranja a fazer-se da maneira mais evidente possível a um rapaz que tinha mesmo ar de come-todas. "Ugh, que típico" pensei e revirei os olhos "As escolas americanas estão a ser bastante clichés até agora"

E aí entrou um rapaz pela porta da sala, e eu nunca o tinha visto, pelo menos não na sala. Lembrava-me de o ter visto na escola, no entanto. Era alto e bonito, e o cabelo não passava indiferente, era vermelho vivo. Seria um bocado difícil não reparar nele.

"Como é que será ter sempre as pessoas a olhar para nós por causa do cabelo?" pensei. Eu mesma tinha o cabelo pintado de vermelho, mas era escuro, e mesmo assim sentia demasiados olhares postos nele. Aqui nem tanto, mas em Portugal nem se fala. Deviam pensar que eu era uma delinquente ou assim, só por causa da minha cor de cabelo. O rapaz sentou-se no lugar vazio ao meu lado, sorriu-me e disse "Hey" baixinho, focando-se depois no telemóvel.

Tinha as mãos pequenas, mas mexiam-se rapidamente a mandar mensagens. Vestia umas calças pretas justas e um camisola dos Iron Maiden. Tinha um piercing na sobrancelha e os olhos de um verde vivo. O que mais me chamou a atenção foram os seus lábios, rosados e que pareciam super macios. Deve ser o rapaz com os lábios mais bonitos que já tinha visto. Percebendo que provavelmente estava a olhar para ele feita idiota, abanei a cabeça como que para me concentrar novamente e tirei os livros da mochila, à espera que a aula começasse.

"Bom dia alunos." falou o professor entrando na sala, com a mala pela mão. Não gostava lá muito deste professor, pelo o que conhecia até agora. Tinha a mania de ser indelicado. Olhou para a turma e parou quando viu o tal rapaz do meu lado, sorrindo falsamente "Oh, vemos que finalmente teve o prazer de se juntar a nós, senhor Clifford"

Ouvi o rapaz ao meu lado grunhir e remexer-se na cadeira, respondendo depois "Olá para si também. Vejo que continua igual ao ano passado" Obviamente ele o professor não se davam bem.

BrokenWhere stories live. Discover now