Capítulo 12

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Não sinto mais a raiva que sentia de Klaus e Tony, mas procuro manter a distância enquanto caminhamos a fim de nos distanciar cada vez mais da base. Klaus parece entender o motivo da minha distância, esconderam muita coisa durante muito tempo sobre mim, ainda me causa um certo choque os últimos acontecimentos.

Klaus me ofereceu um pouco de água e eu a peguei, era um pedaço do paraíso sentir aquelas gotas, ainda que quentes, sobre meus lábios.

- Klaus, preciso saber de algumas coisas. Por favor, não posso viver sabendo que sou uma incógnita e que as únicas pessoas que estão comigo são você e Tony. Por favor, me responde a somente uma pergunta. - Char.. Eu..- Por favor Klaus.

É então que eu sinto as lágrimas sobre meu rosto, é como se eu quisesse a muito tempo liberá-las mas não pudesse. É um alívio instantâneo. Klaus enxuga minhas lágrimas, olha no fundo dos meus olhos e somente encosta seus lábios nos meus.

- Faça então sua pergunta.
- Klaus, meus pais - E antes que eu termine de dizer algo ele me interrompe.
- Eles não são seus pais. Char, todos na sua vida foram postos por algum motivo, sua mãe tbm é do núcleo, junto com seu pai. Por isso o desaparecimento deles sem nem ao menos darem satisfação.
- Então é por isso o sonho.
- Que tipo de sonho Char?
- Quando eu estava em coma no núcleo eu sonhei com uma menina que estava com a mãe e ela parecia exatamente com o rosto de minha mãe, mas agora eu entendo. Não era com o rosto de Elisabeth e sim da minha verdadeira mãe. Era com ela que eu estava no sonho. Estávamos num campo e eu estava entre as flores. Ela mantinha sempre um sorriso no rosto, eu sabia que era minha mãe, mas o rosto parecia ter sido colocado nela, era como um rosto fixo e inexpressivo que ficava estaticamente no sorriso.

- É Char, eles fazem isso, manipulam seu sonho para que você veja o que eles querem que você veja. É assim que funciona.

Com o passar das horas vai ficando cada vez mais quente e as temperaturas oscilam de uma hora para outra sem pestanejar, não há nenhuma segurança de que ficaremos vivos, além de não fazermos a mínima do que podemos encontrar aqui.
Algumas horas depois escuto bippers ao meu lado. Eles vão acelerando a cada passo que dou. Klaus sinaliza para deitarmos de bruços no gramado e assim fazemos enquanto uma espécie de laser saem dos olhos de alguns pássaros que voam sobre nós.

Avisto uma borboleta ao meu lado, suas asas são azuis florescente e ela é de longe a criatura mais bonita que eu já vi. Parece tão ingênua e presa no seu mundinho, vivendo e sobrevivendo constantemente nesse mundo em que nos encontramos. Ela sobe em meus dedos e rapidamente alcança vôo. Então eu me levanto e dirijo a palavra a Klaus.

- O que foi isso?
- Inspeção, é o que indica que estão procurando por nós. Essa área eu conheço e é a mais cheia de espiões possíveis, procuram qualquer organismo que possam produzir algo, qualquer que seja o tipo de DNA. Nesse caso, devem estar focados a nos encontrar.

- Há bastante coisa que você não sabe sobre esse lugar Char, pode apostar. - Tony está cada dia mais bonito, parece forte, não como Klaus, mas de um jeito mais sutil.

- Gente, pra onde estamos indo? - Sinto uma pressão indecifrável sobre mim e minha voz é claramente de alguém que está extremamente exausta, além do meu cheiro que está me incomodando faz tempo.

- Estamos indo para uma antiga casa, localizada no centro da America do Sul.
- Não tem como eles saberem que estamos lá ?
- Essa casa tem quase 300 anos, foi feita pelos primeiros fundadores do núcleo para que passassem uma ou duas temporadas fazendo pesquisas, mas logo essa área foi ficando sem vida e os próximos estudiosos se desinteressaram. Hoje, a maioria dos membros do núcleo nem ao menos sabe que essa casa existe, pensam ter sido destruída com o tempo e a força da natureza.
- E como não foi? Se tem a duração que você diz ter é bem provável que já tenha sido destruída. 
- A casa era revestida por uma espécie diferente de plástico, o que faz com que ela dure por vários anos.

Ando olhando para os lados a fim de escutar qualquer barulho suspeito, mas nada. As pedras aqui são de uma cor verde esmeralda. Nada é realmente como eu imaginava ser, e o calor é predominante.

Tony está cada vez pior, parece que não dorme a dias e seu rosto está cansado e ao mesmo tempo bonito. Klaus é de uma força inexplicável, seus olhos pesam mas ele enfrenta a tudo isso como se nada tivesse acontecendo, buscando transmitir o máximo de segurança pra mim, ainda que eu saiba que ele está com tanto medo quanto eu.

Minha maior preocupação não é o que vamos encontrar no caminho, é o que nos espera por lá, se essa casa ainda existir, como ninguém nunca descobriu que ela permanecia de pé. Se há comida, água. Faz dias que eu não como algo além de alguns frutos. Klaus matara um esquilo, mas eu me recusei a comê-lo cru, era muito nojento e eu me sentiria canibal, mesmo o bicho não sendo um ser humano, não é normal se comer esse tipo de coisa.
Meu corpo já sente o efeito da falta de nutrientes, a água é limpa, mas não dura muito.

Então eu vejo tudo girar, e cada vez mais vou me aproximando do nada. Então Klaus se aproxima, e então eu vejo tudo e nada.

"Charlotte, entregue-se e tudo ficará bem, confie na mamãe meu amor, tudo ficará bem."

Quando acordo vejo Klaus segurando um animal, ensanguentado, mas que já sei que será nosso jantar de hoje, e é a única coisa que temos para comer.

- Por quanto tempo eu apaguei?
- Não por muito tempo, umas duas horas talvez. - Sua expressão é de quem indica que eu vou ter que passar por uma das coisas mais agoniantes da minha vida e eu sei exatamente qual é.
- Sonhei com minha mãe, quer dizer, com Elizabeth. - Minha voz sai sem que nem ao menos eu perceba. - Ela me dizia para que eu me entregasse, dizia que tudo ficaria bem. - Nem o rosto de Klaus ou de Tony demostrou surpresa.
- É assim que eles fazem, o soro ainda está em você, podem entrar na sua mente, controlar você. - A voz de Tony era fraca, ele realmente não estava bem, mas estava sendo forte. - Você não cogita essa ideia não é?. - Ele parece saber exatamente o que vou responder.
- Sim, quem sabe não seja melhor? A gente ao menos sai daqui.
- Você não entendeu não é Charlotte, isso nunca vai parar, irão usar você pra gerarem mais células como a sua, elas serão postas em nós pra ver a reação de nossos corpos. Todos nós somos cobaias Charlotte, você fazer isso é colocar todo esse esforço por água abaixo.
- Mas e as pessoas que precisam das minhas células? - Dessa vez quem toma a palavra é Klaus.
- Tony está certo Char, isso nunca vai acabar, é um ciclo vicioso, o que retirarão da sua pele não durará para sempre, e então eles buscarão mais, e mais e mais, e com isso milhares de pessoas pobres vão morrer.

Não há mais o que falar, não posso me entregar, não agora, mas não posso garantir que eu não vá.
••••
Povoooooo, me dá um abraço, estou de volta com a história. Queria pedir desculpas para pessoas que acompanham o livro por ficar tanto tempo sem escrever. Vou confessar que desanimei um pouco, e ainda vieram as provas da faculdade então ficou um pouco mais difícil de escrever. Bom, a partir de hoje tendo a colocar os capítulos mais curtos, porém tentarei postar o máximo possível. Continuem acompanhando, posto novo capítulo em breve. Beijinhos.

TriagemWhere stories live. Discover now