Capítulo Bônus (Klaus)

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Ando meio confuso com tudo que está acontecendo. Entendo a Charlotte não querer falar mais comigo, mas eu só quero protege-la. Quero um dia poder dizer a ela que ela é a aquela que me faz sentir único. Eu a amo de verdade, mas não é somente como uma irmã. Eu a amo além disso. Quero senti-la nos meus braços novamente, quero poder dizer que ela é tudo pra mim. No entanto, isso está a cada vez mais distante de acontecer.

Acordo cedo, sem necessidade de que o programador desperte. Toda essa minha sensação de perda está me corroendo e não consigo dormir bem a dias. Entendo toda a amargura de Char porque ela não tem culpa, ela não sabe da metade do que eu sei e a cada dia eu tenho mais vontade de contar, porque quando a verdade aparecer, tenho a esperança de que ela me perdoe. Faria tudo por ela.

Levanto-me da cama sem o mínimo de sono, tomo um banho gelado na tentativa falha de tirar a Char da minha cabeça, quando retorno para o meu quarto avisto um desenho na minha mesa de cabeceira.

Lembro-me muito bem daquele dia. Tínhamos 8 anos, Charlotte sempre fora mais segura do que eu e isso é uma de suas melhores qualidades, fomos até a praça central e ficamos lá, conversando e brincando o dia todo. Ela gostava bastante de desenhar e mantinha sempre consigo lápis e papel. Nesse dia ela fez o desenho, esse que eu encaro agora, eu e ela de mãos dadas e logo acima escrito em uma letra não muito clara.

"Charlotte e Klaus, amigos para sempre"

Não consigo evitar, e sinto uma lágrima descer pelo canto do meu olho esquerdo, lembrar de tudo que eu passei com ela me machuca. Lembrar de cada momento faz com que eu anseie pela sua volta, espero um dia conseguir. Quando isso acabar, e quando eu puder contar a ela o porque desses acontecimentos.

Visto minha roupa para a aula de hoje, uma espécie de macacão cinza e azul que não serve para nada. Sinceramente, espero que meus pais não estejam em casa. Não me sinto a vontade com eles, não consigo ser eu mesmo nem na minha própria casa, esse era também um dos motivos pela qual eu amava ficar com Charlotte. Com ela, eu era simplesmente eu. Olhar para os seus olhos todos os dias sem querer abraça-la e ainda ter que fingir minha indiferença é muito difícil, ainda que seja para protege-la.

Para minha felicidade, eles não estão. Devem estar no centro de Curandeiros, já que os dois se reúnem toda segunda feira, juntamente com a mãe de Charlotte e os Chanceleres para uma reunião geral sobre as baixas e a situação dos hospitais. Pelo que tudo indica, faltam materiais e a cada dia que passa as pessoas se tornam mais curiosas para saber o que tem lá em cima.

Assim que saio de casa avisto Charlotte, como todos os dias. Gosto de vê-la saindo, e sinto vontade de me aproximar e pedir para acompanha-la novamente, mas lembro-me de que agora nada é como antes. Sem mais abraços ou carinhos, agora ela nem olha mais pra mim, finge que eu nem existo. Assim como sou obrigado a fingir que ela também não existe.

Quando saio de casa já estou atrasado tendo em vista o tempo de caminhada que faço todos os dias, no caminho encontro Tony e peço as últimas atualizações dos programadores, já que esqueci de ver o meu esta manhã.

- E ai Tony ? O mesmo de sempre ? - Tento dizer com a maior animação possível.

- Sim Klaus, a mesma coisa. - Com a voz fraca de quem acabou de acordar.

- Tem falado com Charlotte ? - Ele percebe meu semblante triste e apenas responde que não e que não sabe se vai continuar tentando, já que toda vez que ele tenta ela o ignora. Ainda que Tony saiba de tudo e que faça parte do plano, as vezes ele se torna dispensável.

- Por isso decidiu não acompanha-la hoje ?

- Ela anda me evitando.

Não conversamos até chegarmos ao local. Gosto de Tony, apesar de as vezes ser um tremendo mané.

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