Capítulo 6

85 13 1
                                    

Quando Klaus me abraçou eu senti aquele misto de sensações que eu não sentia a muito tempo. Confesso que isso me fez falta e me arrependo por não ter retribuído seu abraço, mas é que tudo ocorreu tão rápido que a minha única reação foi a de ficar gélida e imóvel. Eu não consegui envolvê-lo nos meus braços como eu queria de verdade, algo me impedia.

Ele se retira e eu só fico ali, perdida, sem saber como agir. Judy olha pra mim com uma expressão estranha, confusa, suas sobrancelhas formam um V e suas bochechas coram, ela olha o gesto como se estivesse desaprovando o que ele fez, mas logo sorri pra mim, e eu vejo que entendi mal.

Judy tem se tornado uma grande amiga, uma ótima pessoa na verdade, mas nada me tira da cabeça que ela e Klaus são próximos de alguma maneira. Avistei os dois conversando no refeitório, e algo me diz que não devo confiar totalmente nela. Ultimamente não devo confiar em ninguém, já que até meu suposto melhor amigo me traiu.

Na volta pra casa me dou conta de que eu estou definitivamente na turma, e não sou mais uma dos incipientes e que brevemente faremos uma simulação de como é a superfície. Eu não faço a mínima ideia de como será tudo isso, e apesar de aparentar confiança estou com medo. Relembro-me de tudo que tem acontecido nos últimos dias. Aquela menininha, Klaus, a morte do Chanceler Norman, minha mãe falando com Chanceler Richard, meu programador piscando. Nada disso faz sentido pra mim, mas tenho certeza de que está tudo interligado.

Quando chego em casa, olho meu programador e vejo memorandos de vários códigos diferentes, mas os mesmos dígitos em todos eles.

"Charlotte, você é a escolhida"

De supetão largo o celular e ele cai no chão, fazendo um barulho estridente, por sorte a minha mãe ainda não voltou da reunião de Curandeiros, o que significa que eu não precisarei explicar o motivo do barulho.

Um choque de realidade me toma, e eu sinto minhas mãos soar sem parar, e meus olhos piscarem descontroladamente, além do meu rosto queimar. Eu não lia ou escutava essas palavras já havia um bom tempo, apesar de nunca tê-las esquecido e esse retorno repentino me assustou como nunca.

Decido procurar o programador debaixo da cama, já que foi lá onde ele foi parar depois de eu tê-lo soltado de forma brusca. Volto a olhar aquela pequena tela em horizontal, e vejo que não há mais

memorandos, e não havia nenhum código programatório relatado. Havia só aquela tela branca e com luz fraca.

Sei que não estou louca e que vi aqueles memorandos. Não era só um código, eram vários, impossível de eu ter confundido. Impossível de tudo aquilo ser meramente fruto da minha imaginação. Eu sei que não é.

Decido ir ao banheiro e tomar um banho, e torço para que a água que eu deixo cair em meus cabelos compridos, leve todos os meus pensamentos. Por um momento tudo some, e eu me deixo ser levada pela água, mas tudo termina quando minha mãe bate à porta do banheiro.

- Char, cheguei. - Sua voz parece cansada, e do tipo que não quer muita conversa

- Já estou saindo mãe. - Termino de secar os meus cabelos com uma toalha cinza que fica pendurada no gancho perto da porta, visto meu confortável pijama e saio para falar com a minha mãe.

Nunca tinha reparado em como minha mãe é bonita. Ela tem os cabelos curtos e loiros na altura dos ombros, e apesar do olhar cansado, ela ainda possui um ar de juventude.

- Oi mamãe, como foi a reunião ? - Vejo que sua expressão é confusa e que ela está prestes a dizer algo que pelo visto é bem importante.

- Bem, mas preciso falar com você. Amanhã você não vai para o treinamento de Analisadores, preciso que converse com alguém, e não posso revelar quem é agora. Somente esteja de pé as 7 para que a gente possa ir até o corredor oeste com o norte. - Ela não dá espaço para que eu fale nada, somente se retira. Eu não tenho muito o que falar pra dizer a verdade, apenas fico ali parada.

TriagemWhere stories live. Discover now