Capítulo 5

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Klaus me espera no mesmo lugar e exatamente do mesmo modo de sempre. Seus loiros, seus olhos azuis e sua boca formando uma linha fina faz com que eu fique apreensiva. Andei pensando o porque de tudo isso, se tudo isso tiver realmente a ver comigo, por que ninguém me diz nada ?. Minha mãe se comporta estranhamente desde o dia que ele estava conversando com o Chanceler Richard. Não reconheço mais meu melhor amigo, que mentiu pra mim e fingiu o tempo inteiro, e agora Tony começa a falar comigo, por que isso tudo ? E por que agora ? Interrompo meus pensamentos quando escuto Klaus.

- Charlotte ? - Ele me olha com um olhar de clemência, como se estivesse pedindo perdão, apenas tento ignorar esse fato.

- Eu não sei nem o que estou fazendo aqui, você mente pra mim, você me esconde coisas e ainda diz que me ama e que é meu amigo. Eu não aguento mais tudo isso acontecendo. Sinceramente, eu espero que você tenha a resposta para pelo menos uma das minhas perguntas, caso contrário, eu não vejo motivo para estar aqui. - Sinto meu rosto queimar, como toda vez que fico com raiva. Vejo seu olhar apreensivo e ele só me responde uma coisa.

- Eu te amo, isso é verdade, e um dia você vai ver que eu fiz isso tudo por você. - Ele só se retira, e me deixa ali, sozinha, sem explicação alguma, sinto vontade de correr atrás dele e gritar, exigir que ele me explique tudo que está acontecendo, já que obviamente ele sabe de tudo desde o começo, e estava fingindo esse tempo todo, mas decido não fazer, não vou me humilhar.

Fico por um tempo naquele pátio cinza e escuro, pensando em tudo que Klaus tem me dito e feito. O lugar realmente parece um festival de horror, como a maioria das coisas aqui em baixo. Um candelabro grande no centro é a única fonte de luz por aqui, além de algumas lâmpadas menores que iluminam os cantos, pois o candelabro não dá conta de todo o espaço. Já as câmeras, a direção não se importa de instalar em todo lugar. Os únicos espaços restritos são os banheiros e as casas.

Encontro minha mãe no sofá observando seu programador, prefiro não puxar papo, o dia hoje foi bastante cansativo e amanhã começam as aulas de Analisador. Vou ter que encontrar Klaus novamente e Tony, sendo que estou evitando ao máximo me comunicar com um dos dois. Passo pela cozinha e abro a velha geladeira, amarelada e pequena que minha mãe herdara de minha avó. Bebo um copo de água e decido ir para o meu quarto, mas uma voz ressoa no corredor.

- Char, por que chegou tão tarde ? - Hesito em responder, o fato dela querer saber tudo da minha vida me irrita bastante.

- Estava com Klaus mãe, ele queria falar comigo. - Ela fica quieta por algum tempo depois somente responde: "Tudo bem, vai dormir que está tarde".

Minha mãe está estranha tem uns dias, desde que a vi conversando com o Chanceler Richard ela se mostra desse jeito, parece que sempre está escondendo algo. Apenas tenta disfarçar quando eu pergunto alguma coisa, e tenta se relacionar o menos possível. Não sei mais quem é meu amigo de verdade, e a indiferença da minha mãe demonstra que eu não posso confiar nem nela mais.

                                                                                           (...)

As sete da manhã o programador desperta, vejo que tem um memorando que não foi visualizado, vejo que é da direção, somente o lembrete de que as aulas para os incipientes começam hoje. Estou extremamente ansiosa, tirando o fato de que terei que encarar Klaus e Tony. Desde a noite de ontem eu fico pensando sobre aquilo que o Klaus falou, de estar me protegendo. Isso é muito estranho, de que maneira ele me protegeria assim ?

Somente levanto da cama e pego os armamentos que a direção liberou para cada um. Sob minha mesa de centro estão um soco inglês, além de uma faca pequena e uma espécie de pote que guarda alguma substância fedida e que parece ser tóxica se inalada por muito tempo. Acho que é tudo que eu preciso para a aula de hoje. Minha mãe me chama para o café, já que hoje ela decidiu que ficaria até mais tarde para me desejar boa sorte. Ela até que aceitou bem, mas vejo nos seus olhos a desconfiança e o medo.

TriagemWhere stories live. Discover now