Capítulo 13 - Bernardo

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O dia e o horário estão perfeitos para andar.

Não estou caminhando em pleno sábado, ao meio dia, porque sou obcecado pela natureza. Meu único objetivo é chegar a livraria em que Jane trabalha. Tenho tempo livre e preciso de algum livro que só deve ter lá. Quem se importa em ser discreto? Quase posso dizer que somos bons amigos.

Encontro com alguns conhecidos no caminho e me sinto grato por morar em uma cidade pequena. Isso raramente aconteceria em casa, a menos que eu andasse a pé pelo meu bairro e os conhecidos fossem meus vizinhos. Poder encontrar pessoas de outros cursos com quem tive uma única aula no primeiro semestre é um privilégio que não vejo acontecendo em cidades maiores. A não ser que esteja dentro do campus, claro.

Além disso, poder ir a vários lugares importantes como mercado, padaria e universidade sem precisar de transporte público ou carro é outra maravilha. Basta se programar com meia hora de antecedência para ajudar o meio ambiente, fazer exercícios e chegar onde precisamos ir.

Atravesso a praça da cidade e desvio de um punhado de crianças correndo, competindo para ver quem será o primeiro da fila no próximo brinquedo inflável da lista deles. Sinto cheiro irresistível de cocada, assim como a promoção "pague duas, leve três". Lembro da obsessão por coco de Júlia e faço uma anotação mental para não esquecer de trazê-la aqui quando vier me visitar com os pais.

Realmente gosto de quando eles vêm aqui. É claro que sinto falta de casa, da Magali, do colchão decente e de lençóis que sempre cheiram bem (mágica, só pode), mas já que não posso ter tudo isso, pelo menos terei minha família por perto.

Paro em frete a livraria que fica na esquina de um cruzamento. Alguns transeuntes e eu esperamos os carros pararem para podermos atravessar, outros atravessam meio correndo, meio prepotentes, desafiando os carros a acelerarem.

Do outro lado da rua está uma das poucas livrarias da cidade. A loja ocupa o primeiro andar de um prédio de três andares, cujas cortinas coloridas indicam ser um prédio residencial. As vitrines da loja estão cobertas por livros, com cartazes de best-sellers ao fundo. Apesar de estar longe, percebo que uma parte da vitrine é dedicada à papelaria, com cadernos estampados e conjuntos de canetas enfileiradas. Toda sua extensão é coberta por toldos, provavelmente para prevenir o desgaste dos livros pelo sol.

O semáforo abre e atravesso a rua. Hesito ao ver a porta fechada e procuro meu celular no bolso para checar o horário. Antes que pudesse tirar o aparelho do bolso, a porta abre e um senhor alto e grisalho sai da loja carregando uma sacola de papel. Cumprimento-o com um sorriso e aproveito a porta aberta para entrar.

"Bem-vind@", me saúda a placa em madeira, cheia de detalhes florais pintados. Minha mãe adoraria uma dessas na entrada do nosso apartamento. Há mais de dois anos moro na cidade e nunca entrei na livraria, apesar de ter passado por aqui inúmeras vezes. Assim como a placa, toda a loja parece exalar conforto e aconchego. A iluminação das janelas, ajudada por luminárias de parede e estantes em madeira escura me fazem querer sentar numa das poltronas espalhadas pelo lugar e ler algum desses livros.

A porta se fecha com um clique discreto e, antes que conseguisse escolher qual caminho seguir (para procurar algo que ainda não sei o que é), um rapaz se aproxima. Sua expressão prestativa substitui qualquer "bom dia, como posso ajudá-lo". A situação não era exatamente o que esperava, então procuro ao redor da loja aquilo que quero, graças às prateleiras de um metro e meio de altura, que me permitem ter uma visão geral da loja.

Mesmo assim, não encontro o que queria.

- Olá – cumprimento. – Gostaria de um livro... – pauso alguns segundos, tentado completar a frase. Não preciso de algo para mim, já que os livros que costumo ler são técnicos e estão disponíveis na biblioteca. Talvez um livro para Júlia? Ou para meu pai? – Um livro de detetive – termino.

A fórmula matemática de Bernardo e JaneOnde as histórias ganham vida. Descobre agora