De volta para o meu futuro

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Não havia sensação melhor que poder respirar novamente, pensava Caio em frente ao prédio onde, horas antes, fizera o discurso do casamento dos Três Marias. Assim que recuperou o fôlego, pôs a mão no bolso em busca de seu iPhone. Foi um misto de alívio e decepção constatar que era o seu antigo modelo 5 em vez do 6s Plus. Seu plano havia dado certo. Estava de volta à Terra Prime.

A segunda coisa que verificou era se a Lágrima de Cronos estava em seu outro bolso. Quando fez o primeiro salto, voltando quase quatros anos no passado, a Lágrima havia voltado com ele. E, desde então, a mantinha perto de si, mas não no pescoço. Constatou que havia voltado sem o objeto. Seria um sinal de que não teria uma outra chance de consertar as coisas? Foi quando seus pensamentos foram interrompidos por uma pergunta familiar:

—Aquilo que você disse sobre voltar no tempo era verdade?

Era Eros. A primeira reação do jovem era de dar uma voadora na cara do deus, mas se conteve. Até porque quebraria o pé no processo. Fora isso, tinha um script a seguir.

—É pessoal e intransferível, Eros? Não acha que já chega? A noite foi tão legal! Não quero estragar tudo agora.

—Você iria reviver seu amor com Alberto, certo?

—Pelo contrário. Ia cuidar para que ele nunca atravessasse meu caminho e, quem sabe, com isso, eu não saberia que fui um erro de percurso na vida dele, tampouco o amasse.

—É isso que você realmente quer?

—Sim, seria ótimo.

E, conforme o script, Eros tira uma corrente prateada do bolso, com um pingente cristalizado em forma de lágrima.

—Toma. Um presente.

—Eu achando que, quando eu trocasse o amor que teria nessa vida por dinheiro, levaria bem mais que uma bijuteria.

—Isso é uma Lágrima de Cronos. Pode te levar a qualquer lugar do passado.

Sentiu-se aliviado em ter de volta o artefato em suas mãos. O seu sumiço quando voltou deve ter sido obra de algum paradoxo temporal, pensou o jovem. O resto do diálogo se desenrolou de acordo como anteriormente. Eros explicou as regras de como usar a Lágrima de Cronos, falou sobre os gatilhos. Caio por sua vez confirmou de que Eros só se lembraria de que Caio tinha usado a Lágrima quando se encontrassem no dia do salto. Ou seja, daqui a pouco mais de um mês, na Terra 2.

— Não vai usá-la? – indagou o deus.

— Não aqui. Preciso absorver isso tudo. Saber se eu quero mesmo fazer isso e para quando eu quero voltar. — respondeu Caio, tentando parecer o mais desinteressado possível.

Eros não disfarça seu descontentamento. Mas antes que dissesse qualquer coisa, os faróis do taxi anunciavam a sua chegada. Caio se despediu de Eros, entrou no carro e seguiu para a sua casa, mergulhado em pensamentos. Precisava de ajuda. E sabia exatamente a quem procurar. Era só um palpite, mas precisava que desse certo. Concentrou-se no cheiro e no sabor de bife à milanesa e das fritas e, num piscar de olhos, estava de volta à pensão, almoçando com 'seu' Moura. Ou melhor, Moros, deus do destino. Retornou no exato momento de terminava de folhear o Livro do Destino. Na verdade, um caderno velho com anotações, recortes e notícias da sua vida.

— Vejam quem está de volta. – disse 'seu' Moura.

Dessa vez, o salto não parecera tão tranquilo. Parecia que seu crânio havia sido esmagado por uma fatia de limão envolvida em uma barra de ouro de bom tamanho.

— Vamos, beba isso. – dizia o velho senhor cego, oferecendo um copo d'água. – Vai te fazer sentir melhor.

Parecia água, mas era amargo como fel. Em compensação, a cada gole que tomava, a dor de cabeça diminuía.

Caio não acredita no amorOnde as histórias ganham vida. Descobre agora