Murphy não se esqueceu de você

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Se você for na Wikipédia e procurar pela definição de "Inferno", vai encontrar que é um termo usado por diferente religiões, mitologias e filosofias como a morada dos mortos, ou um lugar de grande sofrimento e condenação. Para Caio, não havia definição melhor para o mês que se passou. Quando acumulou a função de redator na agência, não imaginava que ia pegar de cara três projetos, felizmente dois deles ele faria em parceria com Max, que usando uma analogia a RuPaul's Drag Race, dublava por sua vida todos os dias para se manter no emprego. O desempenho do amigo o estimulava a continuar, mas todas as noites pensava se tinha feito a escolha certa.

E Alberto gostava de verificar pessoalmente o desempenho dos dois. Era um chefe exigente, mas sabia elogiar uma boa ideia ou iniciativa. Porém, se algo saísse fora do cronograma, era preferível que soassem as trombetas do apocalipse.

— Gente, mas ele é tão ruim assim? – perguntou Aline, numa das poucas vezes que Caio e Max conseguiram se reunir com seus amigos, no já conhecido Boteco do Tião.

— Não é que ele seja um mau chefe, mas ele pega pesado com a gente. — tentou justificar Caio, devorando um pedaço de frango à passarinho.

— Mas também quem mandou ir lá e desafiar o cara? – riu Max. – O doido chegou e ameaçou se demitir se não me mantivessem no emprego.

— Você tinha muito mais a perder do que eu.

Realmente tinha. Mas Caio tinha a vantagem de ter convivido quase um ano com Alberto, na Terra Prime. Foi uma jogada arriscada, mas valeu a pena tentar.

— Gente, mas e se ele demitisse vocês? – Perguntou Carol, tomando mais um gole de chope.

— Eu acusava ele de homofóbico e ameaçava processar. – respondeu Caio, rindo.

— Mas ele não é gay também? – perguntou Pedro.

— Pior ainda, eu o acusava de gay homofóbico e ainda chamava de bolsomita.

O grupo gargalhava. O bate papo não durou muito, pois ainda era quarta-feira e as meninas ainda pretendiam ver um show no Circo Voador. Caio aceitou a carona de Pedro e Max. Foi durante o trajeto que Pedro comentou:

— Sabe, Caio...

— Hum?

— Eu nunca fui muito com a sua cara.

Max olhava para Pedro, que dirigia calmamente. E continuou:

— Não sei se era o seu jeito arrogante, sua proximidade com o Max, ou se o meu santo não batia com o seu.

Caio ouvia tudo em siêncio. De certa maneira já sabia. Pedro sempre foi distante com ele. E quando interagiam eram sempre coisas superficiais.

— Mas desde que você ajudou o Max, eu passei a te respeitar. Você sabia como é importante para nós aumentar a família, e não pensou duas vezes em sacrificar sua posição em prol da dele.

— Max é meu amigo, Pedro. Assim como você.

Pedro ficou em silêncio por alguns instantes e esboçou um sorriso. Max se encolhia no banco do carona envergonhado.

— É. Amigos. – finalizou Pedro.

O resto da viagem transcorreu normalmente. O casal deixou Caio em frente ao seu prédio. Mal entrou no apartamento, tomou uma ducha e caiu na cama. Amanhã seria um dia daqueles.

* * *

Alberto se dividia entre a ponte aérea Poá/Rio. Geralmente passava três dias na Cidade Maravilhosa e o resto em Porto Alegre. Como ainda não tinha nomeado um supervisor para a Venture, esses primeiros meses teria que se desdobrar entre as duas agências. O lado bom é que as vezes passava o fim de semana no Rio e aproveitava um pouco as praias. Como seu companheiro, Leonardo, estava no último período da faculdade de Design Gráfico, não podia acompanha-lo sempre. Infelizmente, nem a beleza das praias cariocas amenizavam seu mau humor.

Caio não acredita no amorOnde as histórias ganham vida. Descobre agora