Nunca é muito tempo...

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Levou cerca de duzentos e quarenta e sete minutos no Skype para que os Três Marias aceitassem o pedido de desculpas de Caio e conseguisse reaver a sua vaga de padrinho para a cerimônia de casamento. Tudo bem que dois terços dos seus argumentos foi pura falácia, mas ele gostava dos meninos e não queria arriscar perder a amizade deles. O único ponto negativo foi a "punição" dada por eles: ele faria um discurso para os noivos. Mesmo a contragosto, aceitou. Encarou como um trabalho e estava disposto a escrever o maior discurso de sua carreira.

Os deuses estavam de bom humor naquele domingo. Além do dia ensolarado, a noite estava enfeitada por uma cortina de estrelas com uma lua cheia brilhante. A cobertura dos tios de Mário ficava num luxuoso condomínio na Barra da Tijuca, em frente à praia. A cerimônia contava apenas com alguns familiares – dos três noivos – e alguns amigos. Entre eles estavam Aline, Carol, Pedro e Max, o único que não foi educadamente frio com Caio ao cumprimentá-lo.

— Que surpresa te ver por aqui! – Abraçando o amigo. – Mudou de ideia?

— Eu acho que tenho sido muito cruel com os sentimentos das pessoas ultimamente. – Disse Caio, se dirigindo aos amigos. – Eu não quis magoar vocês e sinceramente peço desculpas.

O grupo olhou a atitude, perplexo. Carol foi a primeira a se manifestar:

— Tá, qual é pegadinha?

— Nenhuma. Eu fui cruel com vocês. Sei que é muito cômodo falar merda e vir pedir desculpas, mas são sinceras. Eu não tenho muito amigos, mas os que tenho me são muito preciosos. Vocês podem chegar e me mandarem a merda, mas meu pedido é sincero...

Aline, Carol e Pedro se entreolham. Ficam alguns instantes em silêncio até que Pedro quebra o suspense:

— Beleza. Desculpas aceitas. Mas faça algo assim de novo e será a desculpa perfeita pra eu poder quebrar a sua cara.

O grupo comemora num breve abraço coletivo em torno de Caio. Até que uma senhora se aproxima do grupo e avisa a Caio que os noivos o estão procurando. Estava na hora do discurso do padrinho. Ele respirou fundo e andou rumo até a grande varanda da cobertura, até que esbarrou sem querer em uma pessoa.

— Desculpe, senhor. Foi sem querer.

— Sem problemas, rapaz. Vai lá fazer o seu discurso.

Até ver que o homem parrudo, com uma certa barriguinha, careca e com uma grande barba negra era um (não tão) velho (e não tão) amigo seu.

—Eros??? – sussurrou Caio.

—Deus do amor, lembra?

Preferiu não entender a presença do deus ali e seguiu até a varanda, onde os três noivos estavam abraçados. Ao seu lado estava uma mesa farta, cheia de docinhos, dos quais se distinguiam os cupcakes e os bem casados, cercando um grande bolo de três andares, com cobertura branca em tons dourados e no topo três bonequinhos vestidos como o Link da série The Legend of Zelda, erguendo as suas espadas para o alto, como os três mosqueteiros. Postou-se próximo aos noivos, onde algum dos parentes lhe entregou um microfone. Caio retirou um papel do bolso, deu uma lida rápida, voltou a guardá-lo. Respirou fundo e pôs se a falar:

—Independente das crenças - ou não crenças - de cada um dessa sala, existe uma linguagem que é universal a todos nós. Uma força que já foi retratada por diversos poetas, artistas; que foi responsável por guerras e por acordos de paz. Uma força invisível que, de repente, rouba o nosso ar, nos faz perder o raciocínio. Também pudera, já que essa força mexe muito mais com o nosso coração do que com a nossa cabeça...

Caio olhava para as pessoas a sua frente. Detestava esse tipo de interação. Até mesmo na faculdade dava um jeito de outros fazerem a parte oratória dos trabalhos em grupo. Isso sem falar no pesadelo que foi a defesa do seu TCC. Mesmo aquele truque que lhe ensinaram, de focar num ponto e ignorar a multidão não funcionava direito com ele. Mesmo sem querer acaba encarando uma ou outra pessoa.

Caio não acredita no amorOnde as histórias ganham vida. Descobre agora