Encontre-me no Lago

Vinte e Oito - Entendimentos

Já tinha chorado muitas vezes na vida, mas escutar essas palavras de seu filho mais novo, fez com que Tedy Hepburg sentisse uma alegria imensa, suas lágrimas, desciam por todo o seu rosto. Seu sorriso cada vez mais proeminente.

- E você, Dean? Você concorda com o que o seu irmão acabou de falar?

- Ainda tenho raiva do senhor. Mas, não posso mudar o que aconteceu, e ainda não muda o fato que você é o nosso pai. Acho que uma chance não iria fazer mal. Vai demorar um pouco para me acostumar com a ideia. Vai demorar um pouco para eu deixar de sentir essa raiva. Quem sabe um dia passa. Afinal, você deu o primeiro passo para deixar de ser um covarde.

Daniel não estava acreditando no que estava vendo e ouvindo, não esperava que aqueles dois meninos magros, seus irmãozinhos fossem falar daquele jeito. Fossem defender aquele homem. Tinha vontade de gritar para eles " Esse homem trocou todos nós por uma mulher qualquer, esse homem foi o motivo da nossa família ficar de cabeça para baixo. Ele nos deixou perdidos. Ele deixou a mamãe arrasada" Mas, não podia. Isso eles já sabiam. Achava que eles estavam falando daquele jeito por que estavam simplesmente cansados de tudo. Estavam cansados de sofrer. Algo tinha que mudar.

- Venham cá! Deem-me um abraço, meus filhos!

Judith virou-se para olhar aquele abraço. Os seus dois meninos, que haviam sofrido tanto com aquela separação agora estavam correndo para os braços daquele homem de olhos cansados que destruíra todos os sonhos que ela havia construído um dia. Eles estavam felizes. Dava para ver pelas expressões calmas que seus rostos tomaram quando seus corpos se reencontraram. Era somente isso que eles queriam para voltar a paz? Uma coisa tão simples, mas que não poderia ocorrer com ela. Ela não poderia ser curada desse ódio com apenas um abraço apertado. Ela estava ferida por dentro. Olhou Daniel.

Ele não estava em paz como os seus irmãos. Ele ainda sofria. Achou que isso tudo em parte era sua culpa. A última vez em que tentara voltar a ser o que era antes com ele, a senhora Hepburg não conseguiu por conta de Maria. Por conta do filho que ela acreditava que ele tivesse renegado ou matado. Às vezes ainda acordava no meio da noite, escutando os gritos da menina e o sangue a lhe escorrer pelas pernas. Todas as vezes ela nunca conseguia salvar aquela criança. Todas as vezes ela sempre chegava tarde demais.

Ele a fazia lembrar de Tedy quando era jovem. Como havia dito para Tedy, achava que o motivo por ser tão rígida com ele, por ser tão autoritária e não levar fé nele era justamente por que ainda se lembrava dele. Por que ainda culpava Tedy. O cafajeste da história não era o seu filho e sim seu ex. Mas, por que nunca admitira isso? Ainda não sabia explicar o porquê. Seu rancor era tão grande assim, que ela conseguira ferir o seu filho?

- Tudo isso que você está fazendo é só para fingir à sua nova esposa que se dá bem conosco? – disse Daniel da maneira mais ríspida que ele conseguira interpretar.

- Lógico que não. Eu já lhe falei Daniel. Estou aqui por que eu cansei de ser um covarde. Aquilo estava me matando por dentro. Eu queria muito que as coisas melhorassem. Eu demorei demais. Estou construindo uma nova vida e quero que vocês façam parte dela. Eu não quero mais fugir. Quero que vocês comecem essa nova vida comigo. Com o pai de vocês. Nunca deixei de amar vocês.

- Não irei aceitar que se aproxime de mim agora. Não irei ceder a você. Mas, não tenho objeção quanto aos meninos. Eles sabem, nesse caso o que deve ser melhor para eles. Mas, vou lhe falar mais uma vez. Se você machuca-los de alguma forma de novo, não venha pedir perdão.

- Daniel, eu queria... Na verdade eu quero que você também vá. Quero muito.

- Acho que é pedir um pouco demais. Seria muita falsidade. Eu não estou feliz pela sua nova vida. Não estou feliz por você estar aqui.