CAPÍTULO 10

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 Outubro, 2015. Brasil.

–Isabella, vem almoçar. –Chamou minha mãe pela segunda vez seguida.

–Não vou, mãe. To estudando. –Repeti. O cheiro que saía da cozinha era muito bom, mas eu estava com vontade de vomitar só de sentir, era como se eu me sentisse cheia mesmo sem ter comido nada.

–Tu precisa se alimentar, daqui a pouco ta desmaiando por aí. –Insistiu. E era verdade, eu não estava me sentindo muito bem. Na verdade, eu estava péssima, mas não podia desgrudar das questões de matemática do caderno do ENEM do ano retrasado. Eu precisava limpar minha mente por alguns segundos para conseguir resolver aquele problema.

–Vou tomar banho. –Gritei avisando enquanto levantava da cama e pegava uma toalha. Duas: uma para o corpo e outra para o cabelo.

–Isabella, vem comer alguma coisa. Não vai adiantar nada estudar pra entrar em uma faculdade se você estiver internada em um hospital. E pode tomar o biotônico que eu comprei pra ti.

Saí do meu quarto e me arrastei até a cozinha, servi um copinho com o líquido com gosto de ferro nomeado de Biotônico e bebi tudo fazendo uma careta. Já estava me acostumando com o gosto então não foi tão difícil. Era melhor que Emulsão Scott. Fui até a mesa onde meus pais e meu irmão estavam sentados e servi um copo com suco de laranja. No meu prato coloquei duas colheres de sopa de carreteiro: carne moída, arroz e milho.

–Só isso? –Perguntou meu pai.

–Pelo menos ela ta comendo. –Disse minha mãe. Coloquei a primeira garfada na boca, parecia que eu estava morrendo, eu mastigava por minuto praticamente. Eu não tinha mais ânimo, é sério, meus pés se arrastavam pelo chão como se eu não possuísse força o suficiente no meu corpo para levantá-los do chão nem por um centímetro. Eu passava noites estudando e bebendo o café que eu preparava sem meus pais perceberem, no escuro. Então é, eu via meus amigos e namorado apenas na escola e não tinha contato virtual com nenhum deles.

Eu não estava vivendo, na verdade, eu estava aprendendo uma nova forma de morrer.

Finalizei minha refeição e voltei para o quarto, quebrei a cabeça e desisti de tentar sozinha. Enviei uma mensagem de texto para Andri e pedi socorro, ela estava estudando também então não iria responder na hora. Resolvi deixar pra lá um pouquinho, coloquei os fones no ouvido e deixei tocando minha playlist de músicas fáceis de se escutar e tranquilas, fechei os olhos e deitei a cabeça no travesseiro. Eu precisava de um tempo.

Depois daquilo tudo no meu aniversário eu e Josh conversávamos bem mais, não tanto quanto antes, mas... ainda valia. Ele me mandou mensagem logo pela manhã do dia 22 de Setembro, pedindo desculpas por ter saído sem me dar nenhuma resposta, mas estava sendo difícil, tudo aquilo. Eu tinha saudades do quanto nós conversávamos antes, das besteiras diárias e dos assuntos sem nenhum fundo de nexo. Eu sentia falta do garoto pelo qual me apaixonei e não do ídolo. Mas não era mais como antes e só restava superar porque, ao que tudo indicava, não ia mais voltar a ser o mesmo.

Naquele final de semana saí com Guilherme para a capital, passamos a tarde toda em uma praça só jogando conversa fora e rindo. Ele me deu um buquê de rosas vermelhas com algumas brancas perdidas, foi lindo. Eu sentia pelo nosso relacionamento, porque eu sabia que no final um de nós dois saíria machucado, e sim, eu pensava no nosso término, porque eu sei que nada dura para sempre, principalmente namoros de colegial. Isso foi algo que o Chad, de High School Musical, já me ensinava desde cedo.

Segurei meu celular em cima do rosto e abri a pasta de screenshots, fui até o final e abri os prints que havia tirado de algumas partes de conversas com o Josh. Comecei a ler e a sentir saudades, sorria lendo algumas, me lembrava exatamente do que senti em outras, tentava não chorar com algumas outras e depois subi um pouco mais, achando as mensagens de Guilherme que eu também havia printado. Quem diria que estaríamos namorando hoje em dia? Que mundo louco.

Falling ApartOnde as histórias ganham vida. Descobre agora