Capítulo Vinte e Dois

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- Não acredito! - ri, passando a mão pelo seu rosto sorridente repetidas vezes. - Não sabia que você vinha. Papai não disse nada. Cortou o cabelo, hein! - passei os dedos pelos fios chocolate. - Gostei mais assim. 

- Apesar dos homens conservarem os cabelos mais compridos durante boa parte da evolução da raça humana, o jeito mais curto foi o que se solidificou nos estágios mais avançados da sociedade. Estudos mais recentes de historiadores italianos demonstram que isso se relaciona a ideia de limpeza, consagrada com o hábito de tomar banho. A barba também foi outra característica abandonada em nome de uma aparência mais respeitável. Então, apesar de cabelo mais comprido e barba serem muito mais antigos, as características atuais se encaixam melhor no que é esperado dos homens, e, assim, acabam por atrair mais a atenção feminina - terminou o discurso com aquele sorriso de lado.

Ainda rindo, não fiz qualquer tentativa de conter minha vontade de abraçá-lo com toda a força que consegui reunir. Seus discursos de conhecimento infinito sobre um tema bobo - ou sobre qualquer outro tema possível - tinham o poder de me fazer sentir em casa mais do que qualquer outro lugar ou pessoa. Talvez porque cresci ouvindo isso quase todos os dias, ou talvez fosse apenas porque ele era o melhor amigo. De qualquer jeito, sentia-me como se tivesse de novo oito anos. Assim, exatamente como quando éramos crianças, eu dei um passo para trás e apertei suas bochechas antes de dar dois tapinhas no topo de sua cabeça e voltar a passar os braços ao seu redor. Seu sorriso fechado aumentou um pouco mais e ele me olhou indulgente. 

- Você sabe que não é mais alta que eu desde que tínhamos doze anos, não é mesmo, Rave? 

Ri, de novo encostando a cabeça em seu peito.

- Ravenna Reid! 

O grunhido atrás de mim me fez dar um pequeno pulo e voltar para o presente, onde ainda estava agarrada a meu primo. Havia me esquecido completamente de meu namorado bem atrás de mim e, principalmente, havia me esquecido de que estava usando só uma camiseta em um frio de menos de dez graus. E parece que foi só lembrar do clima que ele me atingiu em cheio. Dei um pulo instintivo para trás, voltando para dentro de casa e me chocando contra o corpo do meu namorado. Imediatamente Duke passou o braço por minha cintura, tirando meus pés do chão e girando 180° para me colocar cerca de um metro de distância de onde estava há dois segundos - agora estava de frente para meu namorado, que estava de costas para porta.

- O que você pensa que está fazendo? - sibilou, mais baixo e perigoso do que jamais havia visto, mas, apesar de toda a advertência em seu tom, já estava tirando o casaco de moletom e o fechava ao meu redor.

Se meus dentes não estivessem batendo tanto, teria agradecido. Sacudindo a cabeça, Knight me puxou até que estivesse confortavelmente aquecida em seu abraço.

- Francamente, Ravenna Reid. Que porra você estava pensando?

Antes que pudesse me explicar, contudo, Spence voltou a falar:

- Rave, quem é esse? O que está acontecendo?

Os braços dele se retesaram ao meu redor e tive que me esforçar para me remexer e ficar nas pontas dos pés para enxergar minimamente sobre seu ombro. Meu primo nos encarava com o cenho franzido enquanto coçava distraidamente atrás da orelha de um animado Cookie e depois dava algumas batidinhas carinhosas na cabeça de Sir Edward, que logo depois, já satisfeito com a atenção, saiu de volta para a sala. Meu cachorro soltou um latidinho animado e seguiu o melhor amigo. O barulho me sacudiu daquele estado meio letárgico. Espalmei a mão sobre seu ombro e mandei que Duke me soltasse, ou ao menos foi isso que teria dito se as palavras não tivessem saído tão abafadas contra seu ombro. Enquanto tentava me libertar, ouvi passos atrás de mim e logo mère passava por nós dois, correndo para esmagar seu sobrinho favorito em um daqueles abraços apertados que tanto gostava de dar.

BlackbirdWhere stories live. Discover now