Capítulo Dez

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Primeiramente queria pedir desculpas, mas tive que "ajeitar" algumas palavras nesse capítulo para que ele não fosse classificado como "privado" pelo wattpad. Fiz isso porque tentei deixá-lo do jeito que escrevi, mas, mesmo me seguindo (como o wattpad exige nesses casos), algumas pessoas não estavam conseguindo ler esse capítulo, então tive que mudar o jeito de escrever de certas palavras (elas ficaram gramaticalmente erradas). Nada do conteúdo foi alterado. Obrigada pela compreensão.

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Tive minha cota de surpresas na vida. Algumas maiores do que outras. O dia em que minha mãe faleceu, a noite em que tomei um tiro de fogo amigo no braço, a manhã em que me vi concordando em ir trabalhar na KI e quando Chase me convidou para ser padrinho do casamento relâmpago dele. Nada, contudo, chegou nem perto de ouvir minha vizinha fazer um discurso sobre como eu reprimia minha homossexualidade. Como se isso não fosse imaginação o suficiente, ela ainda pensava que eu tinha um relacionamento com Chase.

Chase.

Meu melhor amigo, Chase.

Aquilo era tão, mas tão surreal para mim que nem mesmo conseguia passar a fase do choque. Normalmente quando alguém comenta alguma coisa com você, seu cérebro tende a, involuntariamente, imaginar o cenário em questão. O que ela dizia, entretanto, era descabido ao ponto de que nem mesmo conseguia ultrapassar a parede fictícia em meu cérebro que separava a noção do possível do impossível. Minha imaginação, ao contrário da dela, não conseguia chegar nem perto de formar uma imagem em que Chase e eu fossemos um casal. Aquela noção equivocada que Reid criou conseguiu apagar tudo que ela havia dito antes, sobrando só uma incredulidade curiosa em mim. Antes que pudesse cortar toda aquela baboseira, porém, Ravenna Reid continuou com seu discurso, no qual conseguia criar uma explicação plausível e, ao mesmo tempo, completamente errada sobre meu comportamento.

Só podia ser algum tipo de dom. Ninguém normal conseguia juntar tantas informações certas e chegar a uma conclusão tão errada.

Uma parte de mim só queria colocar a mão sobre sua boca e pedir alguma explicação a respeito de como ela havia montado aquele raciocínio, contudo, outra parte – a maior e mais primitiva delas – estava instigada demais, havia sido provocada demais para agir racionalmente.

Ela não parava de falar.

O dia no trabalho havia sido estressante para além do usual e, chegando em casa, precisava encarar outro furacão.

Ela simplesmente não parava de falar.

Como um autômato sem controle, vi-me marchando até ela. Não conseguia enxergar uma razão para isso senão o fato de que havia oficialmente chegado ao meu limite.

A mudança tão brusca de ambiente. Do deserto para selva de concreto.

Minha vizinha destrambelhada.

Ter ido, entrado e permanecido dentro do prédio em que prometera jamais pisar outra vez.

Minha vizinha sacudindo de maneira hipnótica aquela delícia de bunda cada vez que cruzava meu caminho ou apertando seus seios ao cruzar os braços por estar chateada com algo que eu disse.

Todas as vezes em que o insuportável do meu velho aparecia do nada para escrutinar e reclamar sobre algum aspecto insignificante de um assunto que nem mesmo lhe dizia respeito.

Ravenna Reid me atormentando de diversas maneiras a cada vez que nos encontrávamos.

O trabalho burocrático que me irritava além do que considerava ser possível.

E então o ápice de tudo: A responsável por me deixar de pau duro praticamente a cada vez que nos encontrávamos, a culpada por toda frustração sexual acumulada desde que voltei à América, me passava uma análise psicológica completa sobre como eu era gay.

BlackbirdWo Geschichten leben. Entdecke jetzt