Capítulo Dezoito

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  A noite de New York sempre foi uma das coisas que sempre admirei. Desde pequena. Desde que tive idade suficiente para entender como aquele azul escuro conseguia guardar os segredos de milhares de pessoas. Pessoas de todo o mundo, segredos de todos os tipos. Engraçado perceber só agora que até aquele momento, apenas conhecia aquela vibração única da cidade mais famosa do mundo.
Não entendia. Apenas conhecia. 

O estalinho que crepitava em minha pele a cada passo para dentro daquele manto escuro só fez sentido quando, com sua mão enorme cobrindo todo meu antebraço, Knight me guiou para fora de Los Sei-lá-o-que-e-não-me-importo. 

As luzes que normalmente gritavam, exigindo atenção, pareciam apenas dançar ao nosso redor. Os sons de trânsito, das pessoas, da cidade em geral se tornaram meros sussurros. Quase como se alguém abaixasse o volume de tudo ao redor e só Duke Knight estivesse em foco. Nem mesmo as fantasias que poderia ter criado graças às palavras sujas que havia me dito dentro da boate, e que haviam sido as últimas até o momento, existiam, pois minha mente tinha derretido como marshmallow enfrentando o fogo. 

Se bem que a chama responsável pelo curto-circuito em meu sistema estava longe de se parecer com uma fogueira. Na verdade, depois de basicamente quebrar a mão de Robert e sussurrar em meu ouvido as palavras mais excitantes que já havia ouvido na vida, Duke se fechara em si mesmo.
Não reagiu quando chamei seu nome ou quando as pessoas em quem esbarramos pelo caminho reclamaram irritadas. Se algum neurônio tivesse sobrevivido à seção fritura, talvez tivesse visto como seria adequada a comparação entre um míssil teleguiado e meu namorado. Duas forças poderosas imparáveis em uma missão. 

Duke só parou de marchar e me arrastar junto quando conseguiu intimidar, sem dizer uma única palavra, o cara que havia parado um taxi, para pegar a vaga dele e conseguir nosso transporte para casa. 

A viagem de volta foi bem diferente da de ida. Knight não me tocou ou mesmo agiu como se soubesse que eu estava ali. Sua atenção permaneceu fixa no encosto do banco à sua frente, a mandíbula travada e o corpo todo tenso. Não importou o quanto o encarei ou as vezes que tentei tocá-lo. Duke permaneceu absorto em sua própria raiva gelada. 

Não sabia o que fazer com minhas mãos, que estavam inquietas apertando o banco do carro, já que meu vestido era justo demais para que conseguisse revirar o tecido entre meus dedos em uma tentativa fútil de aliviar um pouco da tensão. A cada quilometro que o carro vencia, a cada prédio familiar que passava, sentia-me mais e mais como alguém encarando o abismo. Era a vertiginosa sensação de saber o que te esperava ao pular para o fosso sem fundo e, ao mesmo tempo, ter a ciência de que o que te esperava lá embaixo era o mais puro e completo desconhecido.
Passei a língua pelos lábios. Quase podia sentir o gosto apimentado do perigo. 

Engoli em seco quando finalmente paramos. Meu namorado entregou uma nota que era suficiente para pagar por nossa corrida duas vezes e saiu, sem esperar pelo troco, mantendo a porta aberta para mim. Não houve nenhuma palavra ou carinho trocado durante todo o caminho até nosso andar. Suponho que deveria ter esperado por isso, mas ainda assim me surpreendi quando, ao invés de seguirmos para minha casa, como estávamos acostumados, Duke abriu a porta do apartamento da frente. Os arrepios correram com mais força sob minha pele enquanto minhas pernas tremiam como gelatina e simultaneamente pesavam como centenas de tijolos a cada passo. 

Ouvi a porta sendo fechada e trancada, depois nada mais. A sala caiu em um breu completo. A tensão subiu a níveis incríveis. Podia senti-lo se mexendo atrás de mim, mas não tive a coragem para me virar. A antecipação estava me consumindo de novo. 

Mantive a atenção na parede ao longe, o ar saindo por minha boca em lufadas fortes. O peito subia e descia, pesado. Minhas bochechas queimavam e a calcinha que havia escolhido com tanto cuidado estava arruinada. Sentia-me como a presa sendo rodeada por uma pantera. 

BlackbirdWhere stories live. Discover now