Abra a Janela

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Todas as madrugadas o garotinho acordava com o som de batidas dessincronizadas e urgentes em sua janela, e sempre que se levantava para ver o que causava o barulho podia jurar que um rosto distorcido o observava do outro lado do vidro, quase que camuflado na escuridão da noite.

Então, assustado, clamava pela mãe que repetidamente lhe afirmava que as batidas eram apenas os galhos da árvore que tinham no quintal que, por conta do vento, acabava por bater na janela, e o rosto? Era somente o reflexo do próprio menino que parecia diferente por conta da iluminação precária.

Depois da velha rotina se repetir mais vezes do que o garotinho podia contar, ele passou a acreditar nas palavras da mãe e não mais temer o tal rosto na janela – paz esta que foi quebrada quando sua família recebeu a notícia de que a filha de doze anos de seus vizinhos havia sido encontrada morta naquela madrugada, com a garganta dilacerada e o rosto agora eternamente paralisado numa expressão do mais puro pavor, com os olhos tão arregalados que quase saltavam para fora das órbitas, e os lábios azulados abertos em um grito silencioso que jamais seria escutado.

Atordoado, o menino subiu para o seu quarto apenas para encontrar preso entre o vidro e o peitoril de sua janela, um bilhete em um papel amassado, com letras distorcidas num tom escuro de escarlate como o de sangue seco.

"Ela também acreditou nas palavras da mãe, então resolveu deixar a janela aberta naquela noite. Por que não faz o mesmo?"

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