-Eu vou pegar o cobertor e travesseiro - minha mãe avisou.
O Lucas se levantou antes que ela.
-Eu vou, mãe. Não se preocupe.
Meu pai, o Lucas e o Maurício entraram no quarto do meu pai. Fui falar com a pessoa que devia estar sofrendo mais.
-Está tudo bem, mãe? - perguntei ao me sentar do seu lado.
Ela secou os olhos, tentando fazer com que nenhuma lágrima caísse.
-Sim - a voz dela saiu trêmula.
Passei meu braço pelo seu ombro e minha mãe aconchegou sua cabeça entre meu ombro e minha cabeça.
-Por que você não se separou? - perguntei.
-Como assim? - ela perguntou confusa.
-Por que mesmo sabendo da traição do pai não se separou dele?
Minha mãe tirou a cabeça do meu ombro e sentou melhor para podermos ficar frente a frente.
-Eu não podia, e não posso - ela explicou.
-Claro que pode, você tem mais que o direito - reclamei, já irritada com aquela situação.
-Não, eu não posso. - Ela balançou a cabeça. - Eu fiz uma promessa, não pode quebrá-la.
Franzi a testa. Que promessa?!
Minha mãe continuou:
-A vinte anos atrás eu fiz uma promessa, em frente à várias pessoas, diante a Jesus. Prometi estar com seu pai e ser fiel a ele, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, nos momentos bons e maus, eu não posso nem se queria me separar dele.
-Mas ele quebrou essa promessa antes - protestei.
-Mas nem por isso eu vou quebrar a minha.
Os homens voltaram do quarto e aquele assunto teria que ficar para outra hora.
-Aqui - meu pai disse entregando um travesseiro e uma coberta para o Maurício.
Minha mãe tomou a dianteira da situação, pegou as coisas das mãos do meu pai e tratou de ir arrumar o sofá para o Maurício.
Não vi o Lucas ali, como imaginei que ele estava no quarto, fui até lá. Entrei em seu quarto e ele estava lá, deitado olhando pro teto.
-Oi. - Me deitei ao seu lado.
-Oi. O que achou disso tudo?
-Do Maurício ser nosso irmão? - encarei ele.
-É.
-Um grande azar. Logo o Maurício?!
-Pois é. Parece que não temos muita sorte - ele brincou.
-Não mesmo. - concordei.
Ficamos lá, olhando para o teto e soltando suspiros.
-Vai se comportar, né? - ele disse de repente.
-Não posso prometer nada, não controlo minha paciência, e muito menos minha raiva. - Dei de ombros.
-Pelo menos tenta. Não por ele - ele disse aprontando o queixo para sala, falando do Maurício -, por nossos pais, por mim.
-Tá bom.
Eu sei que o Maurício vai me provocar de todas as formas possíveis, mas por mim e pela minha família vou ter que me controlar, minha mãe já não está muito bem, não quero dar mais um motivo para ela ficar mais pra baixo.
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