Capítulo 1

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Castelos de areia. Eu amava ver aquele monte de areia junto, formando uma coisa, amava ver  todo o trabalho que as crianças tinham e fazer um quase perfeito, aí vinha um babaca qualquer e o destruía sem dó nem piedade.

Essa loucura por castelos de areia veio de um dia que eu estava na praia com minha família. Eu tentava de todo jeito fazer um castelo que parasse no lugar, mas em nenhum sequer eu tive sucesso. Minha vó vendo minha fracassada tentiva de fazer um castelo, foi até mim e me ensinou como se fazia um. Ela ficou ali comigo a tarde toda. Me ajudando a proteger o castelo no menor sinal de risco.

Ela me disse que um dia eu teria que ser como aquele castelo: forte. Que eu não poderia desmoronar na primeira dificuldade e que eu deveria saber que tinham pessoas ao meu lado, me ajudando a proteger o castelo. Nunca entendi aquilo e depois eu não pude perguntar, pois três meses depois ela morreu de câncer.

Prometi a mim mesma que quando chegássemos na praia, eu ficaria de olho nos castelos de areia das crianças e a qualquer menor sinal de perigo eu iria até elas ajudar a proteger sua fortaleza. Esse seria o meu trabalho do fim de semana.

Pela terceira vez conferi minha mala, estava faltando meu óculos de sol. Tive que pegar minha cadeira de rodinhas e arrumar perto do guarda-roupa, subir com cuidado para pegar meus óculos e torcer para eu não cair.

O Lucas entrou no quarto e ao me ver ali, prendendo o ar para não cair de cima da cadeira, não perdeu a chance de me assustar e balançou a cadeira, quase uma fazendo cair.

-Para Lucas - gritei, me segurando no guarda-roupa.

-Medrosa - ele xingou, saindo de perto da cadeira.

Peguei os óculos e desci da cadeira.

-Não tenho medo de nada - afirmei.

Na verdade, eu tinha medo de várias coisas. Até de aranha, um bicho inofensivo, eu tinha medo, mas óbvio que eu não deixava ninguém saber desse medo, nem dos meus outros medos bobos.

-Me ajuda a conferir a mala? - perguntei.

-Ajudo - o Lucas concordou, revirando os olhos.

Calcei minhas sapatilhas enquanto perguntava:

-Toalha de banho?

-Aqui.

-Maquiagem?

-Aqui.

-Escova de cabelo?

-Não aqui.

Minha escova de cabelo estava bem na minha frente e não vi. Se fosse um bicho teria mordido. Peguei a escova e joguei por trás dos meus ombros enquanto me levantei.

Pude ver quando acertou bem na cabeça do Lucas.

-Foi mal - pedi.

-Aqui - ele disse passando a mão na cabeça.

-Chinelas? - perguntei.

-Aqui.

-Carregador, livro, chapinha aí?

-Aqui, aqui e aqui.

-Tudo aí, me ajuda a levar?

-Ajudo.

-Por isso que você é meu irmão preferido.

-Preferido e único - ele reclamou.

Ri e peguei minha bolsa de franja na minha escrivaninha, enquanto o Lucas levava minha mala vermelha para a sala, onde o Gui já me esperava.

Surpresas do DestinoWhere stories live. Discover now