|TRINTA E UM| - UM PORTO SEGURO.

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─ É melhor você atender, loira. ─ A voz de Liam se sobressai, enquanto ele indica com os olhos em direção ao celular. ─ Às vezes, as pessoas com quem mais evitamos de falar, na maioria das vezes são as primeiras que devemos escutar.

Olho de canto para meu primo, lançando-lhe um olhar de reprovação, que por sua vez sustenta em seu semblante o ar de conselheiro que ele adora esbanjar e eu o odeio por isso. Ainda mais por Liam estar certo, sei que meu pai não tem nada haver com meus problemas com Harry, e eu não deveria descontar minhas frustações nele.

─ Alô, Mia? Onde você está? ─ Escuto a voz cansada e preocupada de meu pai soar do outro lado da linha assim que aciono a chamada.

─ Eu estou bem. Preciso de um tempo para pensar. ─ Murmuro, tendo a incerteza como a minha melhor companhia para o momento.

─ Você precisa voltar para casa. ─ Fecho os olhos ao ouvir o seu pedido, sabendo que esse é o único lugar que eu não desejo estar. ─ Por favor, filha, venha para casa.

─ Tudo bem. ─ Cedo, por saber que independe dos meus impasses com Harry, meu pai possue problemas muito maiores que esses e ter sua preocupação a mais sobre mim não precisa ser outro complemento na sua lista de aborrecimentos.

─ Por favor, tenha cuidado. Estarei lhe esperando. ─ Ele é cauteloso em suas palavras, demonstrando sua inquietação e apreensão por me ver fora de casa, sem saber onde realmente estou.

Desligo a chamada, sem me despedir, e me arrependendo no mesmo segundo que o faço. Deixando algumas lágrimas escaparem de meus olhos. Evito de encarar meu primo, a medida que seus braços me rodeiam novamente, e ele beija o topo da minha cabeça em carinho.

─ Você sabe que sempre estarei do seu lado, seja para o que for! ─ Liam afirma, apertando-me em seus braços, e eu sinto o calor e o amor na veracidade de suas palavras. ─ Fique bem, por favor.

Seu olhar busca pelo meu, em uma tentativa de compreender o que se passa comigo. Aceno, concordando, enquanto enxugo as lágrimas que ainda insistem em escapar de meus olhos. Despeço-me de meu primo, dando-lhe um abraço e depositando um beijo em sua bochecha, fazendo o sorrir com o gesto.

Caminho cabisbaixa pela areia, em direção ao carro estacionado em frente a orla da praia, não voltando a olhar para trás, mas tendo a certeza que Liam acompanha meus passos, certificando-se que chegarei bem até o veículo e que eu não fuja novamente.

Ao passo que me afasto, sinto a onda de melancólica me invadir à medida que a voz de Harry chamando por Mirando ecoa em minha cabeça. Tento segurar o choro, mas, não há nada que as impeça de cair. Busco pelas chaves do carro, sentindo minhas mãos trêmulas em reação ao nervosismo que me consome.

Destravo o alarme do veículo, adentrando rapidamente, e debruçando minha cabeça sobre o volante, enquanto tento esvair minha mente por completo. Respiro fundo, em meio aos meus soluços, recobrando meus sentidos. Me olho pelo retrovisor, observando meu semblante abatido e os olhos inchados e vermelhos em reação ao choro incontrolável, e me decepcio comigo mesma por me encontrar nessa situação.

Olho adiante, e vejo o corpo de Liam parado na praia, observando de longe a mim. Suspiro, virando a chave do carro e acionando o motor, sabendo que voltar para casa, mesmo que contra meu gosto, nessa circunstância parece ser o melhor a se fazer.

Buzino para meu primo, despendido-se dele pela última vez, o vendo abanar as mãos em resposta. Manobro o carro para em fim sair de onde estou, à medida que ponho a minha total concentração ao trânsito, deixando com que Harry ausente-se de meus pensamentos.

Tento fazer o trajeto de volta para casa o mais rápido que consigo, acelerando sempre que encontro uma brecha. Por vezes meus olhos voltam a fitar o retrovisor, na garantia de que eu realmente me encontro dessa forma, desiludida, quebrada por alguém que começo a percebe que não mereça o meu amor, a minha dedicação.

E conforme eu penso no quanto devo me afastar de Harry de vez, mais sinto meu coração negar tal pedido, protestando em forma de lágrimas que brotam incessávelmente para fora de meus olhos. Suspiro, em meio aos meus soluços, buscando de alguma forma uma solução para as interrogações que surgem toda vez que penso em Harry.

Adentro a rua da minha casa, desacelerando a velocidade do carro. E estaciono o carro, desligando o motor em seguida e voltando a debruçar-me sobre o volante, enquanto meus olhos marejam. Nego com a cabeça, incrédula do quanto esses sentimentos que nutro por Harry destroem e corrompe o meu coração, de tal forma que nunca pude sentir antes.

Volto a encarar meu reflexo ao retrovisor, respirando fundo e controlando o meu choro. Repito esse procedimento mais algumas vezes, até que por fim o choro se cesse. Respiro aliviada, observando minhas feições deprimidas e sem ânimo. Desço do carro, e meu olhar vai em direção a entrada de casa, onde noto Harry.

Ele está sentado sobre os degraus da varanda, com os braços apoiados aos joelhos enquanto seu olhar está fixado em mim. Percebo que ele segura algo em suas mãos, mas de onde estou é indecifrável o que possa ser, mesmo que em meu interior eu suspeite que seja a matéria da morte de Miranda.

Penso em dar meia volta e sumir do seu raio de visão. Meu estômago embrulha tendo as lembranças de sua agressividade e hostilidade. E não sei ao certo se realmente devo seguir em frente. Contudo, Harry parece notar a minha indecisão e quase precisão de partir novamente. O vejo levantar, e vacilar se deve caminhar ou não em minha direção, ponderando diante as suas atitudes anteriores, e fazendo com que ele permaneça no mesmo lugar.

─ Mia, nós podemos conversar? ─ Sua voz oscila, perdendo o timbre, demonstrando pela primeira vez a insegurança que o consome.

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O SEGREDO DA NOITEWhere stories live. Discover now