❤ Capítulo 15 ❤ [Parte 2 ]

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Amanheceu o dia no Vale dos Anjos e junto com ele, veio a minha insegurança já característica das visitas à Biblioteca Municipal. O tempo estava ameaçando chover, o que me fez estranhar, afinal desde que pisei aqui o sol têm sido a minha única certeza. É parece que aqui também chove, e não, eu não estou em uma terra mágica como eu presumi. Apesar do acontecimento incomum na Biblioteca, parece que as similaridades com uma terra enigmática terminam por aqui. Levantei e dei de cara com meu reflexo no espelho. Minha aparência expressava cansaço, meu semblante traduzia todo estresse mental ao qual eu vinha sendo submetida. Creio que se Clara estivesse aqui, diria que eu estava necessitada de um amor para enfeitar minha existência... rárá! Pobre mortal, quem em pleno estado mental se interessaria por uma pessoa assim, que nem eu?
Bonita? Se para você uma garota mais branca que uma vela, exageradamente magra, está dentro dos padrões aceitáveis de beleza... Bom, talvez você precise consultar um psicólogo. Peitos? Sim, médios, pelo menos. 1x2! Ah, meu cabelo também não é de todo ruim, tenho madeixas longa, fios de cor castanho-claro. Então fazendo uma analise geral, acho que tenho uma pequena chance, ainda que nula. Talvez ela esteja certa, se o amor tem mesmo o poder de curar nossas feridas e nos fazer enxergar o universo com uma nova perspectiva, então acho que já  está na hora de passar a considerar a ideia de se apaixonar.
Apliquei um pouco de pó compacto, para tentar espantar aquela expressão fantasmagórica que se instalou no meu ser. Optei por uma calça jeans e uma bata preta, a ideia era sair o mais formal possível, porque se meu perseguidor estivesse à minha espreita, não queria atrair olhares e muito menos chamar atenção.
Mamãe já tinha acordado e estava decidindo se ligaria ou não para André.
- Já vai filha?
- Aham -dei de ombros.
- Vai devolver o livro?
- É...
- Conseguiu ler tudo, fliha? Cadê?
Por que tantas perguntas hoje, em D. Rebecca?
Desde quando minha digníssima mãe se interessava por livros, meu Deus!? Eu só quero sair o mais rápido possível, para voltar logo.
Abri minha bolsa e estendi o livro para ela.
- Poesias? -ela fez cara de espanto, folheando o livro.
- É mãe, é legal. São desabafos de pessoas sensíveis.
- Interessante. Esse é de poetas famosos?
- Eu diria que esses, infelizmente assim como outros milhares, não são reconhecidos pela nossa sociedade doente que não valoriza a arte.
- Falou bonito em!
- Meu acervo de leituras serviu para aumentar minha capacidade linguística. Digamos que, minha área de domínio, é a argumentação.
Modéstia a parte claro!
- Mas o tempo urge, e eu preciso ir logo. Tchau, mãe. -disse dando um beijo em sua bochecha.
Antes que eu fechasse a porta atrás de mim, ouvi minha mãe berrar:
- Jessica! O guarda-chuva!!
Me virei e respondi:
- Eu não vou demorar muito lá, acho que não chego a pegar a chuva. E qualquer coisa eu tô levando dinheiro. Tem um ponto de ônibus, na esquina da rua da biblioteca. - Ok, então, meu amor.
- Mãe, como é mesmo o nome desse bairro?
- Village Gump. A rua é R: Cândida Dias Barreto.
- Tá, qualquer coisa eu pego esse ônibus.
- Vai com Deus, filha. -ouvi ela dizer assim que bati a porta.
Sim, mãe. Deus, mesmo!
O caminho pareceu mais longo, que o de costume. Talvez fosse minha ansiedade. É, a presença daquele garoto me causava uma dualidade de sentimentos. Se por um lado eu tinha pânico de vê-lo, por outro eu tinha urgência em saber o que se escondia por trás daquele olhar penetrante, com um ar sempre solitário. Seus costumes eram estranhamente constantes. Todo o dia na mesma mesa, compenetrado em um mesmo pesado livro de capa preta, olhando a todos em sua volta, demostrando estar desconfortável com aglomerações ainda que distantes. Você deve estar achando que eu sou uma louca de pedra, por reparar tanto em desconhecidos, mas é que o diferente sempre me atraiu.
Ao entrar fui logo à recepção para devolver o livro, ao me dirigir à bibliotecária evitei de olhar para a mesa "x". Queria enrolar o quanto  pudesse, evitando ao máximo  o momento torturante de encará-lo.
Devolvi o livro e ajeitei minha camiseta, ao me virar senti algo em mim murchar, não. Ele não estava lá. Acho que queria ter o visto. Olhando para o lado de fora, vi que a chuva começava a cair, tímida ainda, porém percebi que ela aumentava gradativamente. Apressadamente, fui em busca do livro de romance que eu tinha visto da última vez, porém ele não estava lá onde eu o vi. Ah, a maquininha de consulta! Eu sou lenta na  maioria das vezes!!
Desculpe, o sistema está fora do ar!
Aham, perfeito!
Eu poderia consultar a bibliotecária, no entanto, se eu demorasse um pouco mais, não conseguiria caminhar até o ponto sem literalmente me ensopar. E eu realmente não estava disposta a ficar dentro da biblioteca, pois sabia que poderia demorar demais  e minha mãe ficaria preocupada.
Então, mais uma vez meu romance foi por água a baixo. Sem trocadilho dessa vez!
Saí da biblioteca, a passos apertados tomando bastante cuidado para não escorregar, pois não estava de tênis ou qualquer outro sapato fechado, mas sim, uma rasteirinha frágil.
É D. Rebecca, se eu tivesse te ouvido.
Caminhei mais depressa até a esquina, pois a chuva fina, havia se transformado em temporal. Ao chegar, umas cinco pessoas também esperavam condução. Todas na mesma situação que eu, com excessão de uma, que parecia a pessoa mais sensata e precavida, naquela situação. Mas como miséria  pouca é bobagem, tentei ligar para minha mãe e o telefone estava sem área. E quanto mais o tempo passava, mais angustiada eu ficava. Passou-se 1h, e os demais passageiros começaram a comentar entre si, a extrema demora do ônibus. Ao que concluíram então que tinha acontecido algo com o único ônibus que passa no bairro Village Gump!
Ora, então eu tinha vizinhos de bairro, que também estavam compartilhando da mesma "luta" que eu -arrumar um ônibus para ir para casa e escapar da chuva- .
De repente, estranhamente notei com surpresa, que a chuva já não caía sobre mim. Olhei para os lados, e era ele. Sim... você leu direito, era ELE!  Com um pequeno guarda-chuva em cima de minha cabeça.
Não expressei reação nenhuma.
Que raios esse ser pensa estar fazendo? Porque ele está aqui? E porque eu?

Chegaste ao fim dos capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Jul 02, 2017 ⏰

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