❤ Capítulo 2 ❤

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Quando minha mãe me acordou pra ir pro trabalho (sim, eu trabalho; terminei o ensino fundamental a uns meses atrás, e na ausência de escola de ensino médio aqui onde moramos -que é o interior da nossa cidade- começei a trabalhar em uma lojinha que aceita menores de idade. E se você está se perguntando qual a minha idade, eu tenho 14 anos e daqui a dois meses faço 15.) me deparei com meu pai dormindo  no sofá da sala. Não posso deixar de citar que essa cena cortou meu coração.
- Hoje vocês vão dar entrada no divórcio?- perguntei baixinho.
- Sim - respondeu minha mãe, aliviando metade das minhas preocupações.
- Tudo bem pra você né, mãe?
- Na verdade não, Jessica . -disse ela com o olhar triste
- Porque?
- Você é muito novinha, filha. Não entenderia meus motivos. Pra resumir, digamos que viver aqui nessa casa, depois de 14 anos de casada, não é tão simples como parece.
- Relaxa, mãe. A gente vai se acostumar, eu garanto . Ou podemos aos poucos, arrumar um cantinho para nós em outra cidade, para começar do zero! -tentei tranquilizá-lá.
- Mas como, filha? Mudar de casa, exige dinheiro! Sabemos que o que você ganha é muito pouco, e eu não trabalho, só tenho algumas economias vindas da herança do seu avô...
- Mãe, nunca nos faltou nada aqui, eu assumo que sendo o mais canalha que for como marido, pelo menos como homem da casa, meu pai sempre prestou. E por essa razão, eu nunca tive motivos para gastar os 200 reais que ganho por semana. Eu sempre deposito tudo que recebo. Parece que eu sempre soube que um dia, esse dinheiro seria últil.
- Há quanto tempo você trabalha mesmo? -disse ela, parecendo não muito confiante.
- 1 ano e seis meses.
- E você nunca gastou um real desse dinheiro!? -ela parecia impressionada.
- Não.
- Mas... Eu não posso aceitar esse tipo de ajuda. Não de você, filha. -ela disse segurando minhas mãos.
- Mãe, eu não estudo, a única coisa que faço é trabalhar! Pra alguma coisa esse dinheiro tem que servir. E fazendo as contas, eu já tenho aproximadamente 14 mil reais, que mesmo sendo pouco, acredito que é o suficiente pra recomeçar a vida em outro lugar. Eu ficaria honrada de saber que eu pude te ajudar.
- Ah Filha! -ela me abraçou emocionada- depois que resolvermos as questões do divórcio, pensamos sobre isso. Sei que as coisas hão de se acertar.
- É assim, que se fala! -sorri.
Dois dias depois...
- É hoje, Dona Rebecca! Preparada!?
- Não é todo dia que se divorcia né filha? Mas acho que estou bem.
-  Acha não! Você está bem. E em breve irá se convencer disso!
Meu pai que não tinha dormido em casa na última noite, buzinou em frente ao portão de casa, chegando com o carro para nos levar ao fórum. Hoje era o dia de dar a entrada no pedido de divórcio, seria o começo de um longo processo. Dolorido, porém necessário.
O senhor que de aparência fria,
Dois meses depois de muito choro, medo e inseguranças, eis que chega a audiência final. Não pude entrar entrar no tribunal, tive que ficar pelos corredores do fórum, sem saber o que se passava lá dentro.
E nesse intervalo de tempo que fiquei esperando, me  peguei pensando em como seria minha vida e da minha mãe dali em em diante. Será que um dia, de fato conseguiremos ser felizes? Construir outra vida? Bom, sinceramente, por nós duas, eu esperava que sim. O que parece uma eternidade, finalmente chega ao fim! 
- Filha!!  - Me abraça chorando minha mãe.
Só consigo retribuir o abraço, faltam palavras nesse momento em que não sei nem o que pensar, quem dirá o que falar!
Meu pai aparece e me lança um olhar, que não consigo identificar bem o que quer transmitir, a verdade é que  não sei muito bem ainda como lidar com ele, ainda mais depois da nossa discussão e sem expressão, vou andando para o lado de fora do fórum, pois acho que os dois precisam conversar, eles precisam desse momento deles. Não é todo dia que se divorcia, né? Me pego falando igual à D. Rebecca. (risos).
- Sinto muito, não era até aqui que imaginei chegar quando entrei na igreja com você.
- Não está sendo fácil pra mim também, então só te peço por favor que não envolva a Jéssica.
- Mas ela já se envolveu. Ela é nossa filha .
- Falando nisso, D. Rebecca, reafirmo meu compromisso como pai e não hesite em me ligar às 3h da manhã se for preciso, sou pai da Jéssica. E seu amigo.
Depois, já em casa, quando minha mãe me contou esse último diálogo deles, pude perceber um traço de tristesa em sua voz, é como se ela tivesse perdido meu pai pra sempre. Ela não esperava que ele dissesse "D. Rebecca". Pelo menos, não tão rápido.
Foi um acordo amigável, meu pai abriu mão do direito  de lutar pelaminha guarda. (mesmo que minha mãe não falasse. eu poderia ler isto em seu olhar.) Acho que ele entendeu que uma mãe, em qualquer circunstância, deve ficar com o(a) filho(a). Perdida em pensamentos, eis que minha mãe toca em um assunto que sinceramente, naquele momento momento, não importava muito. No dia seguinte era meu aniversário de 15 anos.

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