♥ Capítulo 4 ♥

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Era exatamente como estava na foto, que meu pai nos mostrou. É que, ele ficou responsável pela contratação do aluguel por telefone, -ele era corretor de imóveis, e logo encontrou uma casa ideal pra nós duas- inclusive já tinha impresso os papéis e nos dado e todas essas burocracias.
Descemos do carro e fomos cumprimentar o senhor de expressão serena que estava parado frente ao portão de grades, proprietário. Ele nos daria a chave.
- Olá, prazer, Martinez.
- Prazer, Rebecca.  - se apresentou minha mãe, sorrindo. (Afinal primeira impressão é tudo.)
- Ah, era a senhora mesmo que eu estava esperando. Aqui está sua chave. Como nova proprietária da casa, acho que a senhora deveria saber que...
- O que o senhor disse? Não... não, então estou na casa errada.
- A senhora é amiga do Sr. Vitor Santanna? Não é?
Minha mãe engoliu a seco. Mas respondeu :
- Sim. Sou.
- Então!
- Desculpas, mas não estou entendendo. Eu vim com o dinheiro em mãos para o primeiro mês do aluguel.
- Não tem alguel nenhum, o Vitor Santanna, comprou esta casa e colocou no nome de Rebecca Souza de Andrade. E aqui estão as chaves. A senhora está com todos os papéis né?
- Com os papéis do aluguel... - disse minha mãe pegando a pasta no carro.
E trêmula pegou o papel do alugu..
- Sim, é a escritura da casa, mas...
- Parece que seu amigo gosta muito da senhora! Comprou a casa e ainda fez surpresa.  Acho que tem um pretendente a vista...
Ah, se ele soubesse.
- O senhor dizia que eu como proprietária, deveria saber...
Essa era minha mãe, espontânea!  Pra não dizer mal-educada. 
- Ah, sim - disse ele visivelmente envergonhado- Me refiro à vizinhança, temos algumas pessoas com estilos diferentes. Temos o Felippe, um jovem que gosta de escutar música até tarde da noite. A senhora Dinno que adora dar festas para as filhas. A família Wymer que tem um filho drogado que só os visita no fim de ano...
E discorreu por longos minutos. Até que o que pareceu uma eternidade chegou ao fim.
- Bom, vejo que estão cansadas. Então qualquer coisa podem me ligar. 
E nos deu um cartão que minha mãe jogou na bolsa.
- Foi um prazer,  Sr. Martinez.
- Digo o mesmo,  Sr Rebecca.
Assim que ele saiu eu e minha mãe nos olhamos atônitas.  Como assim...!?
Então, meu pai tinha comprado a casa? Mas porque??
Sinceramente não estava entendendo nada.
E encontramos no meio dos papéis de dentro da pasta uma carta.
Era do meu pai.
Eu e minha mãe -nervosas ainda com o que tinha acabado de ocorrer- lemos a carta juntas. Minha mãe tremia e eu fingi não reparar.

Campos Altos, 21 de Setembro de 2012.

Rebecca e Jessica,

Sei que nada do que eu fizer será o suficiente para reparar e até mesmo remidir o sentimento de ausência que vocês sentiram em 14 anos. Tanto você,  querida Rebecca, como você minha filha. Mas sinto a necessidade de me fazer presente em algum momento na vida de vocês.  Nem que tarde demais. Mas nunca é tarde quando se tem o desejo legítimo de restaurar-se como homem e como ser humano.  Fiz novas escolhas das quais não me arrependo, porém sinto muitíssimo pesar pelo passado. E reintegro minha promessa de oferecer todo amparo que precisarem. E a casa? Bom, não ficaria em paz sabendo que vocês dependem de aluguel.  Agora ela é de vocês. Espero que estejam bem, e que possamos nos ver em breve.
Com prezada estima,
Vitor.

Não pude deixar de reparar que os olhos da minha mãe estavam cheios d' água, no entanto dei de ombros.

- Legal a atitude do seu pai, né filha?
- Sinceramente?  Nada mais que a obrigação dele.
Agora quem deu de ombros foi ela.
Hora de conhecer a nova casa. Nossa casa.

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