Capítulo 22(*)

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"ESTÃO TODOS DESCONVIDADOS. NÃO QUERO NENHUM DE VOCÊS NA DESGRAÇA DO MEU CASAMENTO, ESTÃO ME ENTENDENDO?"

Olavinho até tentou, mas foi impossível resistir à coação irresistível de olhos tão impiedosos. A bem da verdade, sequer houve um momento definido sugerindo que ele conseguiria sair daquele pequeno lavabo sem uma delação. Embora tenha ficado muito claro o momento em que Cecília percebeu que suas esperanças não eram beligerantes o suficiente para afugentar a verdade.

Todos os indícios estiveram evidentes por muito tempo para não serem observados. Cecília não sabia exatamente como encaixar tudo, mas tinha uma boa ideia do resultado. Ela conhecia aquele trio há um tempo longo demais para não saber quando estavam tramando alguma coisa e deixando-a de fora. Não seria a primeira vez que acontecia, tampouco a primeira em que ela descobriria sem que fosse preciso contar.

Os olhos dela semicerraram-se na mesma velocidade com que a cabeça pendeu levemente para o lado esquerdo, um sorriso violento acusou sob os lábios e a graça da certeza provocou uma gargalhada feroz e trêmula.

Aquela cena se correspondia intimamente com uma outra, ocorrida há quase seis anos, mas que parecia uma lembrança fresca demais para assaltar a memória. Olavo, Beca e Gabriel planejavam uma festa surpresa no aniversário de dezoito anos de Cecília, quando tudo deu errado. Ela suspeitou dos panfletos da floricultura e uma conversa entreouvida sobre forminhas de brigadeiro foi o bastante para ir atrás de Olavo. Rebeca não entregaria nem se estivesse sob tortura e Gabe sabia muito bem se esquivar. Como o esperado, Olavinho contou, até mesmo sobre o que não tinha certeza, depois que a mão pequena e certeira acertou seu rosto pela terceira vez.

Embora seis anos tivessem tornado-a um pouco menos violenta, algumas coisas não mudavam nunca.

Ela estava eufórica, ofegante e o tique nervoso de mover os lábios de um lado para o outro parecia mais descontrolado do que nunca, mas eram os olhos que detinham a maior ameaça. Eles pareciam quase animalescos quando vistos tão de perto. Acesos, como se estivessem se afogando em meio a labaredas de cor castanha, só ficaram satisfeitos quando conseguiram arrancar as últimas palavras.

Tudo fora revelado.

Tudo o que era do conhecimento de Olavo, claro. Um pouco de maturidade lhe ensinara que não era um punhado de bofetes capazes de fazer com que assumisse a culpa alheia. Por isso, algumas informações ficaram sobrestadas sob o privilégio da ignorância. Coisas como: o mentor da lista de músicas e o delator da futura senhora Martínez ao covil midiático permaneceram intocadas debaixo daquele véu de dúvidas parcialmente encobertas de uma noiva prestes a se casar. Cecília ouviu cada palavra com um esforço notável. Era admirável a dedicação com que empenhava em disciplinar a língua para não retrucar, para manter a respiração firme e, principalmente, para controlar o formigamento dos dedos e manter as mãos longe de qualquer coisa que pudesse ser quebrada, inclusive o amigo. Talvez tenha sido melhor que algumas questões não fossem respondidas, pelo bem da Operação, pelo bem dos ânimos das pessoas do lado de fora, que estavam nervosos demais para ainda terem que lidar com a fúria disposta em um metro e meio de altura.

A noite acabou no hospital, por óbvio.

Só que antes de a ambulância chegar para levar os três desordeiros feridos, uma pergunta impregnou o ar. Ainda que as pessoas estivessem preocupadas com o desfecho de um jantar desastroso como aquele, o odor era pungente demais para não levantar suspeitas. Até porque, a resposta daquela pergunta era tão urgente quanto a sutura no supercilho direito de Gabriel.

O que esteve fazendo Milena para perder todo o espetáculo no solário? Onde esteve a caçula de Diva e Marcus que desertou de um evento tão excitante quanto a profusão de testosterona de uma boa briga egos masculinos?

Operação casamento dos meus sonhos (OCDMS #1) [Concluído]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora