Capítulo 39(*)

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"SIM, EU TENHO UMA NOIVA, MAS EU QUERO VOCÊ"

Rebeca respirou profundamente e torceu os dedos da mãos, como vinha fazendo nos últimos minutos. Havia uma mancha no vestido na metade das coxas, causadas pelo suor de suas mãos. Ela também sentia o suor pinicando a nuca, o desconforto do tecido sobre a pele. Assim como um leve tremor interno, sempre perto do estômago, a cada vez que escutava passos às suas costas.

O relógio ajudava a explicar o estágio tão agressivo da ansiedade: Eduardo estava atrasado.

Ela pensou seriamente em cancelar a reunião. Cecília até sugeriu que desmarcasse, mas a amiga discordou. Na verdade, Beca entendia que quanto mais retardasse aquele encontro, mais difícil seria substituir todas aquelas reticências por um ponto final. Não havia o que romantizar sobre a situação. Eduardo era comprometido e em uma divisão simples entre pares, ela era a sobra. E precisava acabar antes de estivesse completamente envolvida e fosse tarde demais.

A cada minuto que passava e os olhos acompanhavam pela tela do celular, Rebeca convencia-se sobre a possibilidade de ele ter desistido. E cada vez que o garçom passava pela mesa encarando a cadeira vazia à frente, ela suspirava baixinho. Se a demora persistisse, teria que desocupar a mesa.

Por um lado, a ausência de Eduardo não era de todo ruim, ao menos lhe pouparia o desgaste em reviver aquele pesadelo. Ou de precisar fazer o que Marcela havia lhe exigido.

Deveria ser mais fácil fingir que a visita da noiva dele foi um sonho ruim e que ela e Eduardo estavam bem. Só que não era fácil. Era pior conviver com as falsas esperanças do que aceitar a realidade. Ter a noiva de Eduardo lhe exigindo explicações foi bastante desconfortável, muito mais que Rebeca já havia experimentado. Foi pior do que quando a ex-mulher de Juliano apareceu na casa dele, enquanto estavam no meio de um jantar romântico. Diferente de seu sócio, Eduardo estava noivo e não havia nenhuma desculpa para justificar sua atitude em esconder esse detalhe.

Por mais que ela estivesse se esforçando ou fingindo que nada a afetou, a verdade era justamente o oposto. O segredo de Eduardo foi recebido com mais drama e surpresa do que o necessário. Uma evidente reafirmação exagerada de que mais uma vez ela estava sobrando.

Ela apertou a ponta do tecido cor de champanhe da toalha da mesa e olhou em volta. Havia famílias confraternizando; casais apaixonados; encontro de amigas e a solidão da cadeira vazia à sua frente. Rebeca levou uma das mãos ao pescoço e a outra ao celular.

Mais dez minutos se passaram.

A escolha do restaurante foi uma exigência dela. Um café na direção totalmente oposta do apart hotel de Lucio e de todas as lembranças do primeiro encontro deles. Não era para ser uma repetição.

Pensar sobre os últimos dois meses se tornou uma deliciosa tortura para Beca. O começo inesperado, naquela ligação arrogante em pleno fim de expediente e a conclusão com direito a Eduardo na calçada, apertando as grades do portão, implorando para que o deixasse subir. Beca jamais imaginou que encontrar Eduardo por acaso no meio daquela conversa Lucio fosse dar início àqueles dois meses tão intensos. De sósia da paixonite platônica a culpado pelas noites em claro e a falta de atenção durante dia.

Um embate crescia de dentro para fora. Razão e emoção disputavam suas posições como nunca antes. A Rebeca racional queria encontrar motivos para justificar o comportamento dele e a outra, aquela completamente apaixonada pela covinha solitária e pelo dono dela, se recusava a aceitar aquele final totalmente inesperado. Por isso, o encontro era necessário. Havendo o casamento de Cecília e Lucio ou não, Rebeca precisava dizer algumas coisas a ele, coisas que precisavam de olhos nos olhos e o bom uso da voz. Ela também precisava convencer a si mesma, o ouvindo contar sobre Marcela.

Operação casamento dos meus sonhos (OCDMS #1) [Concluído]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora