Operação casamento dos meus sonhos (OCDMS #1) [Concluído]

Capítulo 41(*)

"NÃO É MELHOR PINTAR O CABELO DE AZUL DO QUE QUEBRAR ALGUNS COPOS? NÃO FUNCIONA DO MESMO JEITO, MAS EU GOSTEI."

No final daquele mesmo dia, Cecília voltou para casa. A volta não foi exatamente para casa dela, porque houve uma grande e silenciosa recusa em atravessar a rua. Os pés travaram assim que o porteiro a cumprimentou. Era mais fácil ficar na casa de Beca, ela já pretendia dormir com a melhor amiga e assim tinha uma ótima desculpa para não admitir que evitava transitar pelo prédio. Rebeca precisava de um ombro amigo na mesma medida que Cecília precisava de um motivo para evitar Jacob, que então se chamava Jonathan. Aquele dia estava muitas surpresas, tão impactantes quanto assistir a uma explosão de fogos de artifícios, mas sem a parte bonita das luzes brilhando no céu. Era apenas destruição, de fora para dentro.

O gatilho das explosões foram as flores. Depois, o ressurgimento, quase apocalíptico, do ex-namorado tatuador. E, por fim, a dimensão perfeita da extensão da explosão foi medida no encontro desastroso com Carmem.

Diferente do que habitualmente se poderia concluir, Cecília não saciou sua fúria. Os movimentos sincronizados com os lábios eram a prova da sua contrariedade e também internalizavam a estranheza daqueles sentimentos arrebatados. Impressões tão peculiares que tentavam, a força, fantasiar o que parecia ser vergonha e remorso. Por uma única vez, a vaga ideia sobre o exagero no seu comportamento marcou seus pensamentos, especialmente quando remontavam a cena com Carmen no restaurante.

No exato instante em que colocou as mãos naquele caderno de recortes, Cecília perdeu a total noção de educação e comedimento. As anotações nos cantos das páginas tiveram mais impacto que o formigamento que sempre começavam nos pulsos ou nos cotovelos, mas a reação sobre a descoberta poderia ter aguardado por um momento mais oportuno. Carmem não era culpada pelas exigências sobre o vestido, o Buffet, a escolha da igreja... Ela estava apenas cumprindo com exigência do cliente que a contratou. As implicâncias de Gisela ou os desentendimentos com Lucio, nada tinha a ver com a organizadora de casamentos e, talvez não fosse justo delegar a responsabilidade.

Aquele semblante assustado, provocado pelo ataque histérico da noiva servia de lembrança e, ao mesmo tampo, aviso. As palavras nada gentis empregadas por Cecília poderiam facilmente ser usadas contra ela. Um prato cheio para uma organizadora de casamentos sedenta por ganhar a confiança de uma cliente tão exigente e rentável como Gisela Martínez. Assim, Cecília esperou a ligação de Gisela pelo resto do dia, mas em seu celular havia apenas muitas notificações de mensagens e poucas ligações perdidas. A maioria das chamadas era de Lucio, provavelmente querendo saber sobre as flores, e apenas uma de Olavinho. Até o amigo acostumado com os surtos de fúria de Cecília estava um pouco assustado com as atitudes. Talvez fosse ela a mais assustada em meio a toda aquela lamentação repentina.

Cecília tinha as atenções tão voltadas para si que mal enxergava o caminho à sua frente. Os pensamentos se dividiam entre tantos pontos que somente se deu conta de que estava defronte à porta de Rebeca quando ouviu as portas do elevador se fechando logo atrás de si.

A campainha do apartamento foi acionada por três vezes antes de ser atendida. Enquanto esperava, um novo ponto foi somado às divagações: Marcela. Cecília conseguia ouvir a voz irritante da noiva de Eduardo ecoando através paredes e imaginou se Rebeca também conseguia escutar os mesmos grunhidos todas as vezes que voltava para casa. Não era um tipo de incômodo que começava a ser sentido pelos ouvidos.

— Estava dormindo? — perguntou Ciz, observando o rosto ligeiramente amassado de Rebeca e as calças de pijamas estampadas com pinguins.

Antes de responder, Rebeca se deteve por alguns segundos analisando o novo corte de cabelo da melhor amiga e também a nova cor. Era bastante justificável perder o foco diante daquele impactante azul celeste.