O médico diz que conversou comigo durante três horas. Eu digo que foram vinte
minutos. Vinte minutos entre a minha entrada pela porta e a sua decisão de me
mandar para o McLean. Talvez eu tenha passado mais uma hora no seu
consultório, enquanto ele ligava para o hospital, ligava para meus pais, chamava
o táxi. Uma hora e meia é o máximo que lhe concedo.
Não podemos estar certos os dois. Faz diferença qual dos dois tem razão?
Para mim faz. Mas parece que estou errada.
Tenho uma prova concreta: a linha Hora da Internação do Relatório da
Enfermeira no Ato de Internação do Paciente. A partir daí, sou capaz de
reconstituir tudo. Ali diz: 13h30.
Saí de casa cedo. Mas cedo, para mim, pode ser até nove da manhã. Eu
trocara o dia pela noite – essa foi uma das coisas que o médico fez questão de
frisar.
Eu disse que cheguei ao consultório dele antes das oito, mas parece que
também estou enganada quanto a isso.
Faço uma concessão, dizendo que saí de casa às oito e levei uma hora indo
para uma consulta marcada para as nove. Somando vinte minutos, dá nove e
vinte.
Vamos passar adiante, para a corrida de táxi. O trajeto de Newton a Belmont
leva cerca de meia hora. Lembro-me de ter esperado quinze minutos no prédio
da administração antes de assinar o termo de internação. Acrescente-se mais
quinze minutos de burocracia até a entrevista com a enfermeira que redigiu o
relatório. Dá um total de uma hora, o que quer dizer que cheguei ao hospital
meio-dia e meia.
Pronto, aí está, entre as nove e vinte e as doze e trinta: uma consulta de três
horas!
Ainda assim, acho que eu é que tenho razão. Tenho razão no que importa.
Mas agora você acredita nele.
Não se precipite. Tenho mais provas.
A Guia de Internação, redigida pelo médico que supervisionou meu caso, e
que, evidentemente, teve de preencher um extenso relatório antes de me passar
para aquela enfermeira. No canto superior direito, na linha Hora da Intern., lê-se:
11h30.
Vamos recapitular mais uma vez.
Subtraindo meia hora de espera antes da internação e depois de passar por toda
a burocracia, chegamos às onze da manhã. Subtraindo a meia hora dentro do
táxi, são dez e meia. Subtraindo a hora que fiquei esperando enquanto o médico
dava os telefonemas, são nove e meia. Considerando-se que saí de casa às oito
para um compromisso às nove, o resultado é uma conversa de meia hora.
Aí está, pronto: entre nove e nove e meia. Não vou discutir por causa de dez
minutos.
Agora você acredita em mim.
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Garota, interrompida
ChickLitAS PESSOAS ME PERGUNTAM: como você foi parar lá? O que querem saber, na verdade, é se existe alguma possibilidade de também acabarem lá. Não sei responder à verdadeira pergunta. Só posso dizer: é fácil.