Capítulo 7

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"Acreditar torna as coisas reais. Coisas como você e eu. Essa noite você prendeu minha mente." - Belief – Gavin DeGraw


COLIN


"Vai ser um trabalho fácil", ele disse. Afinal de contas, o que pode dar errado quando o assunto é acompanhar uma louca incompetente que não faz a menor ideia do que está fazendo?

Eu respondo. Tudo. Tudo pode dar errado. Não é egocentrismo afirmar que, se eu estivesse em seu lugar, esses pobres coitados que se meteram nisso estariam numa situação bem melhor agora. Mas o que esperar de Martin? Nunca me contrataria a não ser que se certificasse de que seria algo bem humilhante e que me tirasse bastante do sério. 

     Já estamos andando há cerca de meia hora e vamos precisar de, no mínimo, mais uma de caminhada até o posto mais próximo, ainda assim se nos apressarmos. Nos apressarmos, aliás, também é uma boa ideia por conta da chuva que, ao que parece, vai nos dar o ar da graça novamente. Seja por instinto ou desespero, Aurora também já teve a mesma constatação pelos passos curtos, mas rápidos, que a movimentam. O mesmo já não acontece com o tal Arthur, que  parece ter como único objetivo na vida estreitar laços com a guia, se é que ela pode ser chamada assim. 

     Fico pensando o quão absurdo um acontecimento desse pode ser aos olhos de qualquer pessoa normal e no quanto pode custar o pescoço de James e a reputação daquela droga de agência. A sobrinha vale mesmo o risco? Para um cara que sempre foi a definição de ganancioso e tudo que parece ter na vida é o sucesso daquela empresa, é um pouco estranho topar, de uma hora pra outra, esse intercâmbio suicida e de um lado só, mandando uma garota brasileira país afora em nome de sua agência só para quebrar o galho de um irmão distante. Não tenho muito crédito para julgar coisas de família tendo em vista a minha, mas rivalizo com o velho Calter a tempo suficiente para saber que algo assim não é do seu feitio e que existe alguma coisa por trás disso. 

     Seja como for, odeio precisar tanto do maldito dinheiro por esse trabalho. Seria bom ver James, Martin e a bonitinha ali levando aquela empresa para o buraco com todos esses furos sendo cometidos. 

     Arthur finalmente cala a boca no momento em que também vejo a parada abrupta de Aurora. As infindáveis colinas já não são mais as únicas componentes do cenário e a escuridão que a estava fazendo precisar usar o celular de lanterna ao andar já não é total por um pequeno pico de luz ao lado direito da rodovia.

     — O que é aquilo ali? Já estamos perto do posto? — Por pior que ela seja, chego a ter pena da maneira como seus olhos grandes e esperançosos olham rápido para mim e brilham com a possibilidade.

     — Um bar, provavelmente. — Minha negativa com a cabeça volta a deixá-la emburrada.

     — Ninguém chega aqui sem um carro, né? Deve ter caminhoneiros ali dentro, vai ver alguém pode ajudar. — Arthur propõe ao passo que Aurora concorda apressando seu passo para ir de encontro ao lugar.

     Só pode ser castigo ter que acompanhar esses dois. 

     Me apresso em alcançar a garota e só consigo pará-la ao segurar de leve um de seus braços.

     — Não é uma boa ideia. — Aviso, mas algo me diz que não vai adiantar.

     Seus olhos seguem seriamente o caminho de minha mão até meu rosto e, ao chegar nele, mandam um claro e bravo sinal de "não encosta em mim". 

     — Você tem alguma melhor? — Pergunta assim que a solto. 

     — Melhor que tentar buscar ajuda em um pub escocês de beira de estrada a essa hora da noite? — Às vezes dialogar com ela chega a ser irreal tamanho é o seu desconhecimento de causa. — Qualquer uma é melhor, Aurora. Quem ainda está ali dentro provavelmente já não sai mais hoje de tão bêbado e nem consegue dizer o próprio nome. 

O Outro Lado do Mundo [DEGUSTAÇÃO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora