CAPÍTULO 20 - DOIS HOMENS DE MEON

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O dia estava mais belo que nunca. O chão coberto por neve nos jardins do Castella Hondeias levava uma enorme sensação de paz aos corações aqualaestes. Thomas passeava por lá junto à Corsena. Ele vestia um cachecol azul-escuro e usava um casacão que lembrava um fraque. Um cardume de peixes laranjas passava rapidamente entre os arcobotantes na parede lateral do castelo.

– Você foi o melhor presente que eu poderia ganhar – ele fazia carinho no focinho comprido de cavalo marinho da égua, que o lambia todo com uma fina e enorme língua rosa.

Ainda era um mistério como Corsena chegou naquela noite ao Castella Hondeias, principalmente como, de cara, ela foi enviada para o garoto. Desde o primeiro segundo, estava claro que ela pertencia a ele, somente a ele.

A égua parecia ter um grande problema de comportamento, uma característica que em nada combinava com ela: era estabanada. Como um animal tão lindo e cheio de si podia ser daquele jeito? Corsena tropeçava na neve e Thomas só percebeu isso mais tarde quando passeavam pelo jardim atrás do castelo. Qualquer cardume ou peixe que nadasse a altura da égua, a fazia relinchar bem alto. O garoto não sabia se ela estava assustada ou se reclamava, contudo ele acariciava seus filamentos na cabeça alongada.

Um potuco pairou em cima da cabeça de Thomas e, logo depois, flutuou em volta do garoto. Verde, com uma cabeça quase do tamanho do corpo, olhos vesgos e nas laterais do rosto, era Luka, o ex-cachorro de Felipe. O garoto, agora, não só fazia carinho em Corsena como também atrás das pequenas antenas na cabeça do verdinho, que pareciam dois minúsculos arco-íris escuros.

Num simples banco sobre a neve, conversava um casal e uma fadinha, que era até bem menor que o potuco. Eles se levantaram e olharam para o garoto, era Felipe, todo acasacado, que pedia conselhos à Joyce.

Tudo estava um pouco engraçado naquele momento. Thomas se lembrava bem de quem era Joyce; uma menina de que seu amigo sempre fugia na escola, pois o catarro de sua alergia sempre aparecia grudado no canto da boca, o que deixava Felipe com o estômago revirado.

A garota mudou de visão e olhou para Corsena e, em seguida, para o dono, que ficou parado fitando os dois em pé.

– Tudo bem, Thomas? – perguntou Joyce.

– Estou ótimo. O que conversava com ele? – falou o garoto, olhando para o amigo sobre o ombro da menina.

– Ele contou que brigou com você... e está querendo se desculpar.

– Por que não veio falar comigo?

– Está envergonhado de tudo que disse a você – falou a garota quando um catarro saiu de sua boca e grudou-se nos lábios – Ele sabe que errou. Vá conversar com ele.

– Ele pediu para você falar comigo?

– Na verdade, não – ela coçou o nariz grosso e vermelho – Eu disse que não ia procurar você, mas, se encontrasse, falaria para conversarem e se resolverem.

Aquala e o Castelo da Província (vol. I)Where stories live. Discover now