CAPÍTULO 1 - A CADEIRA DOURADA

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Bem longe dos Flintch e muito mais longe de Aquala, num lugar fora da Terra, havia uma muralha que cercava um forte. O lugar era bem escuro e, por toda a parte, o ar formava cristais roxos. O chão era de terra marrom e parecia estar em brasa. Três homens estavam parados em frente ao gigantesco portão, usavam vestes compridas que chegavam até aos calcanhares e tinham seus rostos completamente cobertos por capuzes. O homem do meio era conhecido como Sangrento por causa da cor vermelha da sua vestimenta. Os outros dois, que eram chamados Grisalho e Bobalhão, vestiam cinza.

Sangrento deu alguns passos adiante enquanto os outros ficaram imóveis e o observando. Ele tocou o alto muro que cercava o forte de um jeito apressado, como se quisesse encontrar algo escondido. Com uma luva também vermelha, ele apalpou os cantos mal construídos de cada tijolo. Ele tirou um e viu que atrás havia um escaravelho que cabia perfeitamente em sua palma, mas o inseto estava morto e amassado. Aquilo fez Sangrento levar um susto, então ele soltou um som parecido com o de um berrante, fazendo uma luz do outro lado da muralha se acender.

Os três homens ficaram rodeados de poeira e, então, transformaram-se em milhões de grãos vermelhos e cinzas que voaram sobre o forte. Lá de cima, dava para ver que, na verdade, era uma cidadela vazia. Havia casas em ruínas, pontes caídas e barulhos como zumbidos por todos os cantos. A visão de Sangrento, transformado em poeira vermelha, o fez levar um escondido sorriso ao seu rosto. Ele e seus capangas voavam em direção a uma velha casinha de madeira de onde resplandecia a única luz naquela cidadela, o resto estava na penumbra. Jatos de fogo saíam do chão de terra, como vulcões que podiam queimar qualquer descuidado que não olhasse por onde passava. Os grãos pairaram em frente à porta de madeira da casa e transformaram-se novamente nos mesmos homens de antes. Movimentaram rapidamente suas mãos para que as labaredas que saíam das rachaduras do solo se apagassem.

Sangrento não ousou esperar e bateu na porta, estava ansioso demais para perder mais tempo. Ele, assim como os outros dois, foi chamado para fazer um serviço que pretendia fazer há anos, porém, só desta vez seu Mestre resolveu agir. E eles foram para a casa dele, para o lar daquele que desejava a morte do resto da família Flintch.

Um senhor abriu a porta, olhava bem para cima já que a grande corcunda levava seu tronco para baixo. Tinha pouco cabelo preto na cabeça, alguns buracos sem fios, como se fossem arrancados. Ele resmungou:

– Já estava na hora – o velho mostrou o caminho casa adentro com a mão estendida. Sangrento, seguido de Grisalho e Bobalhão, entrou calado com aquele clima inóspito e rude. Apenas quem falava era aquele senhor. – O Mestre está à sua espera. Não se intimidem com o que aconteceu lá fora, já passou e agora está tudo calmo novamente. Ainda têm alguns por aí, mas os que restaram são inúteis ao Mestre, por isso ele chamou vocês, Ele quer o seu exército.

Pouco eles andaram por um corredor de madeira e apertado, o velho mostrou o caminho que os levou até uma sala pequena e quadrada onde a luz era escassa, tendo apenas um novelo flutuante que brilhava bem forte em vermelho. Após poucos passos e rangidos da madeira, aqueles três homens ouviram um pigarro que parecia vir de todos os cantos e, então, viram as costas de uma cadeira dourada que contrastava com o ambiente morto e antigo onde estavam. O dono daquela cadeira, o mesmo que sentava nela, então disse:

– Sabem muito bem o que quero de vocês – falou com a voz grossa e melancólica bastante rouca. – Espero que tenham feito tudo de maneira correta, afinal eu quero todo o meu exército, precisarei dele.

Aquala e o Castelo da Província (vol. I)Where stories live. Discover now