PRÓLOGO - VIZINHOS EXTRATERRESTRES

1.8K 86 19
                                    

 – Querido, onde está meu casaco? – a Sra. Flintch gritava na beirada da escada. Era uma mulher magra e alta. Dava para ver em seus olhos que era dona de um carisma inigualável e uma postura de mulher casada. Usava um vestido comprido que se adequava bem à silhueta e seus cabelos ondulados caíam sobre os ombros.

– Acho que deixei em cima da cama – berrou o Sr. Flintch da cozinha.

– O que está fazendo? Já está pronto para irmos? – a mulher voltava para o quarto enquanto um labrador, o cachorro da família, subia as escadas para acompanhá-la.

– Estou trocando a fralda do Tom – o homem berrou novamente. Ele tinha olhos azuis bem claros e o cabelo penteado para o lado, bem arrumado e engravatado. Parecia estar bem apressado, porém não se incomodava com o mau cheiro que entrava pelo seu nariz grande. – Que fedor é esse? Mata qualquer pessoa!

O Sr. Flintch nunca se aborrecia com nada, sempre parecia bem passivo e calmo para a família, mas nenhum problema era só dele, pois sua esposa também tinha a mesma garra que o homem. Eram mais amigos que marido e mulher.

Dono de 51% das ações da Duality Guilux, a maior imobiliária da cidade, ele tinha a empresa em suas mãos, mãos salvadoras que levaram sua família à riqueza. Contudo, os Flintch gostavam de ser quem eram e não tinham vergonha de mostrar seus gostos a todos. As pessoas questionavam seu estilo de vida, mas eles não se mantinham atentos a esses comentários, pois, se o fizessem, perderiam tempo demais explicando como é bom levar a vida de uma maneira simples e acabariam se esquecendo tanto de crescer quanto de viver.

Thomas, filho do Sr. e da Sra. Flintch, permanecia em cima da bancada da cozinha de barriga para cima. O bebê ria e esticava os braços gordinhos graciosamente para tentar segurar o pai, vestia uma linda camisa vermelha.

– Como vou saber se está confortável? – o homem falava com o filho e apertava a fralda. – Papai está bonito?

O labrador debruçou-se na bancada de mármore, disposto a também se entreter com a situação que rodeava a cozinha. Com o cachorro, veio voando também um monstrinho de trinta centímetros de altura, os Flintch o chamavam de Didil, que tinha uma pele esverdeada. Tinha cabeça e olhos grandes, pescoço e dedos compridos e finos. Vestia somente um macacão largo demais para sua barriga viscosa e flácida. Didil andou sobre a bancada e soltou uns ruídos de sua boquinha, fazendo sair uma luz azul de seu dedo que serviu para flutuar a fralda suja até o lixo.

– Obrigado, Didil – o Sr. Flintch sorriu para o monstrinho, que caiu sentado.

A Sra. Flintch descia as escadas sobre um salto alto e bem fino. O labrador latiu para a mulher, chamando a atenção do marido. Ele segurou Thomas no colo e admirou, deslumbrado, sua esposa.

– Sandra, você é maravilhosa – o homem sorriu – Mas não sabia que gostava de vestidos assim, todo de brilhantes.

– É uma data especial, Robert – ela sorriu, dando uma voltinha. – E, além do mais, estamos atrasadíssimos! Não é todo dia que meus pais fazem aniversário de casamento, estão organizando esse jantar há meses.

– Então vamos, querida – o Sr. Flintch segurava o filho no colo, o balançava.

– Só vou pegar minha bolsa – ela disse, encaminhando-se para a sala.

Enquanto isso, Robert apontou para Didil e Max, o labrador.

– Tomem conta da casa. Não chegaremos tarde.

Em seguida, o homem olhou, através da janela, a chuva que caía lá fora. Thomas, em seus braços, estava todo babado. Um pequeno movimento com a mão do Sr. Flintch fez a cortina se fechar sem ao menos ele a tocar.

Aquela família vivia num bairro nobre da cidade, gostava de viver em casas, pois lembravam a infância de ambos. Apesar dessas lembranças antigas, o gosto do casal era diferente demais de todos os outros casais. Terráqueos, pelo menos.

Aquala era o nome do verdadeiro lar dos Sr. e Sra. Flintch. Apesar de terem sido criados na Terra, seus sangues eram aqualaestes. Essa transição de um planeta para o outro se dava por um grande motivo: as crianças devem ser educadas até descobrirem, por elas mesmas, que são de Aquala. A educação que os pais de Robert e Sandra deram a eles era a que eles queriam dar a Thomas.

A casa foi deixada com algumas luzes acesas, porém o grande segredo da família percorria os corredores e cômodos. Didil brilhava todo em verde e flutuava com Max o seguindo. O extraterrestre de estimação e o labrador não paravam de brincar um segundo sequer. Nenhum dos vizinhos terráqueos podia descobrir que viviam seres de outros planetas tão perto daquela forma. Podia ser arriscado, mas quem disse que era perigoso tentar viver normalmente junto a outros milhões de aqualaestes na Terra?



Aquala e o Castelo da Província (vol. I)Where stories live. Discover now