CAPÍTULO 16 - SOB O DOMÍNIO DOS THONZES

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A horda de bárbaros corsarius não estava longe. Eles corriam em nossa direção como loucos transtornados e alucinados por carnificina. Nas mãos, lanças acentuavam a falta de um escudo. Seriam tão tolos de não usar algum equipamento para se defender? Acho que a resposta estava em seus atos, eram centenas de seres desnorteados que não valorizavam suas vidas e, mesmo mortos, achavam que o prazer da vitória seria aproveitado. Se um morresse, haveria mais outros para terminar a luta. Em suas costas, arcos e flechas eram mantidos. Pude ver a ponta do arco sobre seus ombros.

Mancando, voltei para montar novamente no rapko. Laura e Sofia gritavam por mim. Logo o caminho pareceu menos complexo que antes. Eu sabia que aquele Metalitus não existia mais, porém o exército de corsarius que corria atrás de nós era vasto, mas não tinha como nos alcançar.

Olhei para trás e fiz o tronco cair sobre o solo, esmigalhando muitos deles, mas outros mais pulavam o caule, loucos para nos matar. Estávamos na parte da floresta onde havia longas rachaduras no chão, parecidas com abismos; mas, lá embaixo, via-se mais floresta. Os rapkos pulavam como leopardos e abriam as patas como uma ave abre as asas. Planavam no outro lado do abismo, e assim iam. Chovia água e flechas em nossa direção, mas, como sumíamos na mata novamente, todas elas acertavam os troncos das árvores.

Resolvemos dar uma descansada ao nosso próprio fôlego, fechando os olhos e respirando fundo. Quando o pior aconteceu, meu rapko foi acertado. Em seguida, o do Felipe e da Sofia, depois o de Laura. Os vi capotando. A maioria dos corsarius conseguia pular os abismos, grande força nas patas e uma brutalidade absurda em sua raiva. Caído na lama, as dores voltaram a contagiar meu corpo inteiro quando a solução caiu do céu... literalmente.

Vários thonzes caíram das pontes de madeira feitas entre um galho de uma árvore e outra. Era uma chuva de esperança. Aqueles humanoides de pele azulada e tentáculos na cabeça acabavam com os corsarius de duas maneiras: esses tentáculos serviam como adagas, atravessavam os monstros, os esfaqueavam praticamente. Outros, equipados de escudos, usavam suas lanças para atacar.

Não dava para ver muito bem, mas acho que foi isso mesmo. Eu estava deitado no chão, muita chuva caía e só pude ver tudo de lado. Logo depois eu apaguei.

Parecia que nenhum minuto havia se passado e eu não sonhava com nada, pelo menos não que eu me lembre. Tudo na minha mente havia se apagado como se uma onda de alegrias e felicidades invadisse tudo o que ocorreu de ruim naquelas últimas horas. Eu diria que seria um novo começo, mas um novo começo de quê? De uma vida nova? Pelo menos, era o que parecia. Eu conseguia andar dentro de um sonho que era estar em Aquala, só que, dentro desse sonho, eu sonhava. Era assim que eu pude sentir.

– Ele está acordando, está acordando...

Eu abria os olhos, mas tudo estava bem embaçado e a luz penetrava forte no meu cérebro. Tudo estava dolorido, mas não doía tanto.

– Chame Terokto. Rápido!

– Duesterui Terokto arrinttye nassje... – alguém gritou isso, acho que foi o que ouvi.

Estava tão confortável naquela cama, os lençóis não eram iguais aos do Castella Hondeias, eram bem mais macios. No meu braço, havia um emaranhado de folhas apertadas e grudadas, na mesma hora eu as tentei tirar.

Aquala e o Castelo da Província (vol. I)Opowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz