7. Misterioso Alvoroço

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Tiramos a foto logo depois de Henrique me derrubar no tiro ao alvo da piscina de bolinhas. Ele disse que precisava se vingar de mim por ter o acertado desde a primeira vez em que nos vimos.

Eu sempre fazia uma careta quando ele me lembrava disso, só que agora tudo isso parece tão distante quanto um sonho.

Não, não, não!

Sufoco um grito para não assustar Alicia. Ela já está me olhando torto por eu ter me encolhido repentinamente nos lençóis.

Esse não é exatamente o segundo sonho que eu estava esperando. Por que tão trágico? Tudo bem, eu o encontrei essa manhã. Mas que cacete! Henrique precisa fazer parte de todos os sonhos?

Cérebro, idiota!

— Tia Dica? — Lili pergunta, com a testa franzida. A voz dela é a única coisa que reconheço nesse lugar, além da foto.

Como é possível alguém sonhar com um local em que nunca esteve?

— Oi, Alicia.

— Você disse que a gente ia fazer tapioca com coquinho para tio Henrique, não foi?

Um closet dos sonhos, uma foto bonita de uma lembrança feliz e habilidades culinárias. Não sei quando me tornei tão criativa para imaginar tudo isso.

— Sabe que tia Dica não cozinha — Balanço a cabeça.

Que porra de lugar é esse?

Alicia me encara, apertando os olhinhos. Uma expressão tão típica que, por um segundo, acho que estou em casa, mas é tão rápido que a realidade me ataca novamente. Assim como faz meu estômago.

Acho que vou vomitar!

Tento firmar os pés no chão e um súbito enjoo faz muitas coisas subirem rápido demais à garganta.

Certo, certo. Não é horrível passar mal na frente de uma criança, especialmente, se é a mini Monstrinha.

— Banheiro? — pergunto com a mão na boca.

Ela aponta para a porta a esquerda. Uma que ainda não tinha visto, porque talvez meus olhos ficaram hipnotizados pela foto no quadro. Mal tenho tempo de agradecer e saio correndo. Não vou vomitar no chão. Esse novo sonho já está exótico demais para eu deixá-lo humilhante.

Esse é o banheiro de pastilhas cinzas mais feio que já vi, do tipo que os arquitetos gastam muito temo tentando explicar o conceito. Seria bem mais fácil admitir o gosto peculiar.

Devolvo o bolo de chocolate maravilhoso em poucos segundos, assim como todos os restos da noite anterior. Queria que a vergonha pudesse ir junto, mas acho que isso é impossível.

Droga de tequila paraguaia!

— Acho que é febre — Escuto uma vozinha e sinto uma mão na minha testa. Aposto que ela vai usar seus conhecimentos médicos adquiridos naquele programa médico que ela assiste depois do jantar — Vou ligar para tio Henrique — completa e sai correndo, antes mesmo que possa dizer que não é uma boa ideia ligar para ele.

Não é uma boa ideia vê-lo de novo, especialmente nessas condições. Mas não consigo falar e vomitar ao mesmo tempo.

Talvez seja a grande ironia de toda essa confusão. Fujo de Henrique durante os últimos anos para encontrá-lo nas piores ocasiões: sendo uma idiota no elevador; bêbada, a ponto de não mal conseguir ficar de pé. E em todos os meus sonhos.

Afasto o cabelo grudado nas bochechas e me sento no chão do banheiro. Estou suando na palma das mãos e meu pescoço está molhado, mas felizmente o estômago parece melhor. Esse é um sonho pior do que o primeiro e não é por estar neste estado deplorável abraçando a privada. Não tenho roteiro para seguir agora, estou por conta da minha imaginação insana.

Com tequila e com amor [Concluído] [VENCEDOR DO WATTYS 2017]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora