Capítulo 28;

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- Eric. – Corrijo de imediato, estendendo a mão para a ajudar. Joseph olha-me de esguelha, num misto de incompreensão e censura, mas eu decido ignorá-lo por agora.

Ela parece momentaneamente surpreendida, mas aperta a minha mão com força, ganhando impulso para se levantar.

- Ariel. – Um sorriso rasgado desenha-se no seu rosto e o meu coração parece saltar pela boca, mas mantenho a postura e tento agir com o máximo de naturalidade.

- Então, que se passou? Sentes-te bem? – Estendo-lhe uma cadeira para que se possa sentar e tiro um dos pacotes de bacon da mochila, passando-lhe para a mão.

- Eu acho que devo ter tido uma quebra de tensão ou algo do género, não é nada de grave. – Respondeu, aceitando o bacon com uma expressão desconfiada. Quer dizer, não é muito usual as pessoas andarem por aí a sacar de tiras de bacon fritas da mochila, mas ela não parece muito importada com isso e acaba por comê-lo rapidamente. – Obrigado, Eric.

Joseph trocou um olhar rápido comigo e percebendo que não tenciono sair daqui tão cedo, apressou-se a deixar-nos sozinhos com a desculpa de que ia ler uns jornais.

- Estás sozinha? – Perguntei, estranhando a ausência do Liam ou de qualquer outro dos rapazes.

Ela desviou o olhar, ligeiramente constrangida, e quando voltou a falar foi tão baixinho que tive de pedir que repetisse.

- Eu fugi.

- Fugiste?! – A minha voz soou mais alto do que esperava, e a bibliotecária lançou-me um olhar recriminador. Ao que parece, um desmaio recente não torna ninguém imune às regras da biblioteca.

- Sim. Eu queria vir à biblioteca mas não me deixaram por ter pintado o cabelo sem permissão. – Reprimi uma gargalhada e incentivei-a a continuar, sob o olhar acusador da bibliotecária. – Então eu decidi vir na mesma. Estou farta de estar presa no mesmo lugar, eu sou quase maior de idade, ninguém me pode dizer o que fazer!

Um sorriso divertido formou-se no meu rosto quando reconheci os traços da pequena-sereia na Milles: a curiosidade, a teimosia irreverente, a vontade de descobrir coisas novas e, é claro, uma tendência natural para contrariar uma figura de autoridade, que neste caso é nada mais nada menos do que o tritão Liam.

- Correto, mas alguém deve estar preocupado contigo...à tua procura. – Embora a minha relação com o Liam não seja perfeita, não lhe desejo mal. Sei que ele se preocupa com a Milles e que o desaparecimento dela, ainda que por umas horas, é capaz de o deixar magoado e desorientado.

- Sim... eu sei. Mas eu sinto que eles me protegem demasiado. Não me deixam navegar por novas águas, percebes?!

Eu sorri com a escolha de palavras e de repente uma ideia parva passou-me pela cabeça:

- Hmmm Ariel, tens alguma coisa para fazer hoje à tarde?

Ela pareceu hesitar antes de responder, provavelmente por achar precipitado um desconhecido fazer-lhe um convite, mas apressei-me a tentar clarificar as coisas:

- Vai haver uma convenção de máquinas de flippers aqui em Hayle e eu e o Joseph vamos. Podes vir connosco, se quiseres, mas com a condição de avisares...hmmm...a tua família. – Ponderei a escolha de palavras com cuidado, tentando dar a entender que não faço ideia que ela vive com um monte de rapazes super protetores numa pensão.

- Máquinas de flippers, uma vez ajudei a pintar uma!

O choque foi tão grande que deixei cair a mochila ao chão, ignorando propositadamente o olhar irado da bibliotecária.

(Un)forgettableOnde as histórias ganham vida. Descobre agora