- Eric. – Corrijo de imediato, estendendo a mão para a ajudar. Joseph olha-me de esguelha, num misto de incompreensão e censura, mas eu decido ignorá-lo por agora.
Ela parece momentaneamente surpreendida, mas aperta a minha mão com força, ganhando impulso para se levantar.
- Ariel. – Um sorriso rasgado desenha-se no seu rosto e o meu coração parece saltar pela boca, mas mantenho a postura e tento agir com o máximo de naturalidade.
- Então, que se passou? Sentes-te bem? – Estendo-lhe uma cadeira para que se possa sentar e tiro um dos pacotes de bacon da mochila, passando-lhe para a mão.
- Eu acho que devo ter tido uma quebra de tensão ou algo do género, não é nada de grave. – Respondeu, aceitando o bacon com uma expressão desconfiada. Quer dizer, não é muito usual as pessoas andarem por aí a sacar de tiras de bacon fritas da mochila, mas ela não parece muito importada com isso e acaba por comê-lo rapidamente. – Obrigado, Eric.
Joseph trocou um olhar rápido comigo e percebendo que não tenciono sair daqui tão cedo, apressou-se a deixar-nos sozinhos com a desculpa de que ia ler uns jornais.
- Estás sozinha? – Perguntei, estranhando a ausência do Liam ou de qualquer outro dos rapazes.
Ela desviou o olhar, ligeiramente constrangida, e quando voltou a falar foi tão baixinho que tive de pedir que repetisse.
- Eu fugi.
- Fugiste?! – A minha voz soou mais alto do que esperava, e a bibliotecária lançou-me um olhar recriminador. Ao que parece, um desmaio recente não torna ninguém imune às regras da biblioteca.
- Sim. Eu queria vir à biblioteca mas não me deixaram por ter pintado o cabelo sem permissão. – Reprimi uma gargalhada e incentivei-a a continuar, sob o olhar acusador da bibliotecária. – Então eu decidi vir na mesma. Estou farta de estar presa no mesmo lugar, eu sou quase maior de idade, ninguém me pode dizer o que fazer!
Um sorriso divertido formou-se no meu rosto quando reconheci os traços da pequena-sereia na Milles: a curiosidade, a teimosia irreverente, a vontade de descobrir coisas novas e, é claro, uma tendência natural para contrariar uma figura de autoridade, que neste caso é nada mais nada menos do que o tritão Liam.
- Correto, mas alguém deve estar preocupado contigo...à tua procura. – Embora a minha relação com o Liam não seja perfeita, não lhe desejo mal. Sei que ele se preocupa com a Milles e que o desaparecimento dela, ainda que por umas horas, é capaz de o deixar magoado e desorientado.
- Sim... eu sei. Mas eu sinto que eles me protegem demasiado. Não me deixam navegar por novas águas, percebes?!
Eu sorri com a escolha de palavras e de repente uma ideia parva passou-me pela cabeça:
- Hmmm Ariel, tens alguma coisa para fazer hoje à tarde?
Ela pareceu hesitar antes de responder, provavelmente por achar precipitado um desconhecido fazer-lhe um convite, mas apressei-me a tentar clarificar as coisas:
- Vai haver uma convenção de máquinas de flippers aqui em Hayle e eu e o Joseph vamos. Podes vir connosco, se quiseres, mas com a condição de avisares...hmmm...a tua família. – Ponderei a escolha de palavras com cuidado, tentando dar a entender que não faço ideia que ela vive com um monte de rapazes super protetores numa pensão.
- Máquinas de flippers, uma vez ajudei a pintar uma!
O choque foi tão grande que deixei cair a mochila ao chão, ignorando propositadamente o olhar irado da bibliotecária.
ESTÁ A LER
(Un)forgettable
Teen Fiction"Dizem que quem conta um conto acrescenta um ponto. Mesmo as vossas memórias, não são mais do que aquilo que escolheram lembrar de um passado que nunca será recordado exatamente como aconteceu. Mas comigo é diferente: o meu nome é Harry e eu não acr...