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Novo Dia | A viagem.

Fui para o quarto e sentei me junto da janela. Olhei para a rua; chovia.
Será que o Nelson está lá fora?! Se calhar está...ou então não...sei lá...que horas serão na realidade? O meu "marido" estava à porta e olhava para mim.
-Lembrei me que...já não sei o teu nome...
-Já não te lembras?
-Novidade ham...
-Tive uma ideia que te vai deixar muito feliz!
-Não respondeste à minha pergunta.
-Paulo. Mas não queres saber qual é a minha surpresa?
-Podes dizer...
-Estás triste?
-Sim...
-Porquê? !
-Que raio de pergunta! Tenho amnésia! A minha vida é uma merda e só tenho 23 anos! Tens uma surpresa; fixe! Durante umas horas porque depois baibai memória! E perguntas me se estou triste?
-23 anos?
Eu supostamente tenho 25! Mas saio-me!
-Não foi isso que tu me disseste de manhã?!
-Não.
-Também no meio de tudo o que eu disse foi o meu engano na idade que tu ouviste?! Que bom saber a importância que me dás!
-Sim...desculpa tens razão...eu não sei...devia dar te mais atenção.
-Não faz mal...não imagino o que tu aturas há dois anos.
-Sim.
-Qual era a surpresa?
-Comprei uma casa num condomínio fechado mas na zona da floresta, junto a um lago...que te parece?
-Uma boa ideia.
-Boa. Toma este compremido.
-Isso é para quê? !
-Para a amnésia.
-Ok... -agarrei- podes ir.
-Toma.
-Sim já tomo.
-Tens aqui um copo de água. Bebe com isso.
-Já bebo.
-Agora.
Posei o comprimido na boca mas preso nos molares para não o ingulir e depois bebi a água.
-Satisfeito ?
-Sim. Faz a mala com uns 5 conjuntos.
- Cinco dias fora?
-Sim.
Saiu e eu cuspi o comprimido e pu-lo na sanita. Sorrateiramente peguei no tablet que estava no roupeiro e fui pesquisar por compremidos para a amnésia.
Os únicos que encontrei eram uns que ajudavam a amnésia mas eram sempre arrozados e o que o meu "marido" me deu era bem branco. E tinha a sensação que era para fazer o efeito contrario; apagar a minha memória. Porquê? Porque se me quer por num mundo com os dias errados e as horas e até se deu ao trabalho de me arranjar outra profissão é porque não lhe interessa eu melhorar...portanto fui a um site de ciências psíquicas e pesquisei por comprimidos de atenuação da memória. Todos os que vi eram brancos excepto um que era verde e que era o único que não dava vontade de dormir ao fim de 15 minutos! Ou seja tinha segundos para guadar o tablet e me deitar no chão junto à janela!
À pressa já a ouvir passos arrumei o tablet e deixei cair a cabeça junto da janela.
Ele abriu a porta mal eu fechei os olhos.
-Crida?
Não respondi.
-Boa...tinha a sensação que não tinhas engolido o comprimido.
Continuei a não dar sinal.
Ele pegou-me ao colo e pouco depois pôs me no banco do carro e pôs me o cinto. Começamos a andar. De olhos fechados o tempo parecia passar muito devagar. Quando senti a estrada batida fingi bater com a cabeça no carro para poder "acordar".
-Ai...
-Dormiste muito.
-Dormi? Estamos onde?! Não me lembro de vir para o carro...
-A sério?
-Sim....
-Isso é estranho...só adormeceste no carro.
-Pois não sei... já estamos perto?
-Sim, estas a ver aqueles portões ali na frente?
-Aqueles dorados?
-É ai o condomínio.
-Em que trabalhas?
-Porquê? !
-Tantos luxos...
-Sou médico cirurgião.
-Uau!
-Olha ficas aqui que eu vou só ali aquele senhor dar lhe o cartão de residência. Sou rápido, toma uma revista.
-Obrigada.
Vio afastar-se e vi a minha oportunidade! Virei me para trás e peguei o telemóvel dele. Sabia o endereço de tabela do Nelson. Portanto escrevi o endereço de mensagem da empresa e há frente o endereço dele. Ele depois receberia a sms no telemóvel do trabalho.
"Olá sou eu a Lucy. Eu e o meu marido viemos para um condomínio fechado na floresta que têm os portões dorados e tem uma lago bem grande. O meu "marido" chama-se Paulo Braga e é supostamente cirurgião! Ele está a tentar piorar a minha amnésia com uma comprimidos que dão sono e são brancos. Este é o telemóvel dele portando não respondas bjs."
Enviei e despois apaguei o histórico de mensagem. Quando vi a sair da casinha para onde tinha ido, arrumei o telemóvel e pôs me a ler a revista.
-Desculpa a demora.
-Não demoraste muito - sorri.
-Que bom. Vamos lá então!
Seguimos e pouco depois estacionamos junto a uma cabana lindíssima!
Saí do carro e olhei em redor; floresta fechada e riu por perto.
-NÃO! ISTO NÃO PODE SER !
-O que foi?
-Vamos ter que voltar para casa.
-Porquê?
-Esqueci me dos teus comprimidos!
-E daí?
-Não podes ficar 5 dias sem eles.
-Porquê? Eu sinto me muito bem. Estava tão feliz por me estares a dar atenção...por favor...não vai fazer mal nenhum.
-Não dá depois a gente vem.
-Mas eu já não me vou lembrar!
-Sim eu sei...
-Porra esta estúpida amnésia dá sempre cabo de tudo até das nossas férias...
-Bem....tu tens estado controlada...portanto até é bom experimentar como é que funcionas sem os comprimidos e longe de casa...hum...nada pode correr mal.
-Boa! OBRIGADA! E se fossemos ao rio?
-Não...não me parece.
-Vá vamos...
-Está frio.
-Não está nada!
-Não vou.
-Não ?
-Não.
-Ok vou eu.
Comecei a correr e dei a volta a casa; vi que ele acabará por me seguir. Depois despi a roupa. (Estava mesmo frio) olhei para trás e vi que ele me observava, então mergulhei.
A água estava gelada e era o palco perfeito para fingir um afogamento para pôr a prova o meu "suposto marido".
-Ai...- comecei a abanar os braços e fingindo não conceguir vir ao de cima.
-Lucy?
-Ajuda me!
-Espera!
Vi-o a despir se e a atirar se à água. Ao fim de muito pouco tempo ele estava ao meu lado. Eu comecei a rir.
-Estas a rir te !?Não te estavas a afogar?
-Não...só queria que viesses para junto de mim.
-PORRA MAS TU ESTÁS ESTÚPIDA? EU POSSO FICAR CONSTIPADO! PARA A PRÓXIMA DEIXO TE AQUI!
-Desculpa, não pensei...
Ele começou a afastar se e eu seguio.
Ele saiu da água e foi para dentro da cabana, eu corri atrás dele.
-Paulo espera!
-O que foi?!
-Não fiz por mal...
-Pois...
-O que é que posso fazer para te compensar?
-Nada.
-Vá lá!
-Deixa me.
-Não.
-Porquê?
-Porque eu não sabia que ias ficar assim...eu só te quero conhecer...
-Queres me conhecer?
-Sim...muito.
-Mas nunca quiseste. Nunca fui nada para ti...quer dizer só querias saber quem tu eras...
-Sim...e esta manhã era o que eu queria ...tu esta manhã eras uma pessoas que me metia medo...mas quando quiseste fazer esta viagem para me alegrar e ate por mim não voltas te para trás por aqueles estúpidos comprimidos...eu percebi que devia conhecer te...
-Não percebo...mas nunca quiseste saber nada sobre mim...perguntavas me pelos teus amigos e família mas eu nunca fiz parte do teu prólogo psicológico...nunca. Fugis te sempre de mim... até à noite perferias adormecer no sofá que comigo na cama...quando já estavas a dormir é que eu te ia deitar...
-A sério?
-Sim...
-Tu metias me medo.
-A sério?
-Sim.
-Porquê?
-Falas comigo como se eu fosse uma pessoa insignificante e como se me odiasses... mas eu acredito que não és assim...estás só magoado.
-Achas...
-Sim...eu gostava de dizer "amo te" mas não consigo, não agora...tu não passas de um desconhecido.
-Achas que te podes vir a apaixonar por mim?!
-Não.
-Não? !
-Não...tenho amnésia...ninguém se apaixona em 24 horas...mas no entanto espero amanhã querer saber de ti...
-É uma pena...eu admiro te...
Comecei a tremer com o frio...possivelmente podia estar a ficar doente. Espirrei.
-Estás com frio?
-Muito...
Ele chegou se bem perto de mim e abraçou me. Ele era muito quente.
-Uau...tu és quente...como é que consegues?
-Sempre fui assim. Tu estás gelada.
-Não tens uma manta?
-Anda vamos para o sofá.
Fomos para o sofá e sentamo nos.
-Não.
-Não o quê?
-Não me largues. Fica comigo.
Ele sentou se eu sentei me em cima dele e depois tapei-nos com a manta de lã.
-Podemos ver um filme?
-Claro. O que queres ver?
-Podes escolher.
Acabamos por ver um filme de ação...eram já 20:11...pode se dizer que o meu tempo de memória estava a acabar...ninguém com memória consegue perceber o sentimento que tenho...ninguém imagina o quão mau é acordar e ter medo de onde se está e pior nem se quer saber que ÉS! ESSA É A PIOR PARTE...ires ver o teu reflexo ao espelho e veres o reflexo de um completo estranho. E como é que se pode se ter personalidade quando não há memórias essenciais; não à momentos de alegria, nem de tristeza, ou de raiva ou mesmo de medo , na verdade não há nada. Quando se tem uma amnésia que só se esquece o passado é horrível mas o futuro é um mundo aberto e pode se fazer memórias novas. Agora a minha amnésia e simplesmente a maior porcaria que há porque não tenho memórias do passado mas também não posso fazer memórias para o futuro. Sinceramente nem sei se não devia ter morrido. Depois da morte há a incógnita e todos nós um dia morremos. Mas eu só empato a minha vida e a dos que me rodeiam porque todos os os dias fazer as mesmas perguntas e obter as mesmas respostas é simplesmente a coisa mais monótona que pode existir. EU SOU A PORRA DE UMA NÓDOA TEMPORAL! -deixei cair uma lágrima.
-Estás a chorar?
-Não...
-Então o que é isso ai na tua cara?
-É saliva...
-Por baixo do olho? !
-Sim babei me...
-Para cima??
-PRONTO ESTOU A CHORAR FELIZ?
Comecei a chorar mesmo a sério como uma torneira aberta...mas tendo em conta a minha situação acho que tenho o direito de chorar...
-Mas porquê? !
-MAS TU NÃO VÊS? ! SOU UMA NÓDOA TEMPORAL! EU SÓ TE ESTOU EMPATAR! MAIS VALIA TER MORRIDO...
-Pará. Não digas palermices! Tu não és nenhuma nódoa.
-Sou sim...não sirvo para nada...mata me!
-Ham mas viras te bipolar? Ainda à pouco estavas bem o que é que se passou?
-Foi o filme...
-O filme? ! Mas o filme é sobre uma gaja que tem como objetivo matar o homem que matou o seu pai.
-Objetivo. Ela tem um. O que é que eu tenho?
-Oh...
-MATA ME ! POR FAVOR MATA ME! ACABA LOGO COM ESTE SOFRIMENTO! EU NÃO ESTOU AQUI A FAZER NADA!
-Uau calma! Mas...eu não te vou matar estás parva ou quê?
-OU QUÊ?! EU QUERO MORRER! POR FAVOR!
-NÃO! Não vou fazer isso!
-PORQUÊ ODEIAS ME?
-Não! Eu adoro te! És importante para mim!
-Posso fazer uma pergunta?
-Sim.
-Se eu fosse para o lago agora morria de hipotremia?
-Sim o lago de noite chega a chegar aos 7 graus negativos...ele fica com bocados de gelo e tudo...espera!
Levantei me abri a janela/porta de vidro e corri em direção ao lago.
Sim. Estava desesperada, parva, maluca...todos os nomes que me queiras chamar...chama me de dramática...mas tu tens memória não tens?! Então não me apontes os dedos! Eu não tenho nada! A morte é uma boa solução-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Ali estava o lago...a minha saída...a minha esperança...
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Já tinha os dois pés dentro de água quando Paulo me pôs no ar e me agarrou. Puxou me para dentro de casa e depois beijou-me.
Foi diferente.
Foi muito diferente do da manhã.
Não posso afirmar que um beijo com amor.
Não era.
Mas era um beijo com muito sentimento.
-Eu sei que sou estranho. Sou diferente. Não demonstro sentimentos mas... acredita em mim quando digo que és extremamente importante para mim.
-Ainda a chorar- Maas...para quê...para que é que sirvo!?
-Para me fazeres feliz.
Uau...aquilo tinha tocado fundo no meu coração. Como uma bala de canhão embate numa parede. Isso fazia sentido para mim.

Isso servia.

Abracei o com força.
Depois de jantar, disse que ia à casa de banho e aproveitei para levar a câmara de filmar comigo.
"Olá eu...bem hoje foi um dia muito confuso e desafio te a percebelo...o nosso marido mentiu nos. Nós não temos 25 anos, temos 23; nós não somos enginheiras somos cientistas e...bem hoje de manhã fui ao nosso local de trabalho e deparei me com dois bons velhos amigos a Sindi e o Nelson ao qual ate ja enviei a nossa localização através de um SMS.Eles também são cientistas alias o Nelson estuda o cérebro e ajudava-nos com o estudo da amnesia pelo que percebi e disseram que só desaparecemos à um ano e que não eramos casadas...o nosso marido mente-nos nas horas e nos dias...e sabe se lá mais no quê...então perguntas tu o que à de confuso. Ele é um mentiroso temos de fugir; simples. Mas não assim tanto. O Paulo levou nos como podes ver numa viagem e tem se mostrado mais interessado em nós. Ele beijou nos e eu senti sentimento. Não é amor...mas à qualquer coisa. Ele mostrou me um lado dele querido, preocupado...e se eu tivesse memória gostaria de gravar uma frase que ele me disse hoje...bem tenho de ir beijinhos."
Desliguei a câmara e arrumei a na bolsa da maquiagem. Quando saí da casa de banho dirigi me para o quarto.
Perfeito.
A cama era do tamanho do quarto.
Era muito rasteira.
E a parte virada para a floresta era vidrada.
Paulo já estava deitado e olhava para mim.
-Este quarto é lindo.
-É muito simples.
-É isso que o torna especial.
Deitei me junto dele e fiquei bem enroscada nele. Ele Pôs se de lado e comessou a mexer me no cabelo.
-Nunca pensei...
-O quê?
-Vernos assim...
-Mas somos casados.
-Outra vez...
-À ok...só é pena...
-Não voltes a dize lo...
-Tens razão...
-Posso pedir te mais uma coisa antes de adormeceres?
-Sim diz.
-Beijas me outra vez?
Voltei a cara para ele e sorri. Depois aproximei me bem próximo e beijei o.

Adormecemos abraçados.

Amnésia Where stories live. Discover now