01.

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O início.

Abro os olhos.
Teto branco.
Estou deitada...
Olho em volta...
Móveis, janela, cortinas, televisão, homem sentado num sofá, porta...
Homem no sofá...?
Olho para ele.
É moreno,bem parecido, e olha para mim...parece estar à espera de alguma coisa, o que quererá ele? Calma... o que se está a passar e...porque é que não me lembro de nada ?"
ESPERA...
-Ah...bom dia...acho... pode me dizer onde estou?
-Bom dia Lúcia. Já sei que não te lembras de nada e estas confusa, certo? -acenei que sim com a cabeça- bem está tudo bem, mas não há maneira fácil de dizer isto e temos pouco tempo, tu sofres de uma condição rara de amnésia em que está se renova, basicamente ao fim de 24 horas a tua memória apaga se e cada dia é literalmente um novo dia.
-Amnésia...? 24 horas...? Mas... como é que aconteceu ?
-Tiveste um acidente no trabalho. Foste supervisionar uma obra mas devido a um erro acabaste subterrada, foi uma sorte sobreviveres.
- E quem és tu ?
- O teu marido, chamo me Paulo. Sim eu digo te isto todos os dias.
-Mas...não - ri nervosamente- não pode ser... isso é pat...- mas de repente dei por mim a perceber que não havia nada...na...minha memória...- Há quanto tempo?
-Dois anos.
-Há dois anos que repetes tudo para mim?
-Sim. Eu amo te.
-Amas-me ? Mas eu não sei quem és...-a minha cabeça começou a doer- e a minha família, amigos?
-Tu és órfã. Tinhas muitos amigos....mas aos poucos todos eles acabaram por se cansar.
-Cansar...?
-Desculpa. Mas dizer sem rodeios é o melhor. Só temos 24 horas.
-Ah... eu acho que percebo mas... quer dizer...- o quarto parecia ter começado a rodar de repente- Não pode ser. Não pode... quer dizer não. É ridículo... Amnésia? Estas a dizer que nunca me vou lembrar de nada nem de ninguém ? NÃO ! - por momentos dei por mim tão confusa e com uma dor de cabeça tão grande que se não tivesse sentada na cama provavelmente já teria caído!o quarto rodava em torno de mim, nada estava a fazer sentido e comecei a sentir um ódio gigante por aquele homem! Nada do que ele dizia fazia sentido!
-A tua reação é o normal, ficas sempre nervosa. Vou dar te um sedativo porque é o melhor - ele aproximava se com uma seringa- ficas sempre confusa e desta forma podes refletir e perceber as coisas calmamente...
-NÃO NÃO! NÃO QUERO PARA NÃO ME ESPETES ISSO!LARGA ME! PÁRA não...para...
Parei de me debarter involuntariamente ...o meu corpo deixou de ter forças e deixei cair me para trás.

-Olha eu tenho que ir trabalhar. Volto depois do almoço. Tens lá em baixo, um livro em cima da mesa da cozinha com tudo o que precisares de saber dividido por capítulos. O calmante vai passar daqui a 15 minutos. Depois voltas a ter controle sobre ti própria . Ao início todas as informações tornam se um choque mas depois ficas racional -olhou para o relógio - Esta na minha hora.-deu me um beijo na testa- Adeus.
O seu beijo foi estranho. Era frio. Não tinha qualquer sentimento para mim...era horrível! Ele parecia um robô...mas tenho pena dele. Ele deve ou devia gostar mesmo de mim. O meu corpo estava deitado e ao fim de cinco minutos a olhar para o teto reparei que ele estava cheio de fotos. "Como é que eu não tinha reparado?!" Haviam fotos do casamento, de mim com pessoas provavelmente "amigos ", haviam fotos de viagens e de mim vestida de engenheira a trabalhar.
Passei 10 minutos a olhar para o teto e depois como o homem...quer dizer o meu "marido "me tinha dito o meu corpo voltou ao normal.
Levantei me (a cambalear) e abri a porta do quarto.
Um corredor.
Duas portas.
Umas escadas.
Andei no corredor e abri a primeira porta.
Casa de banho;
Andei mais um pouco e tentei abrir a segunda porta mas essa estava tracada.
"Trancada..."
Desisti de a tentar abrir e desci as escadas.
Uma sala;
Ao lado uma porta, cozinha;
Casa de banho 2;
Porta da rua;
Porta da garagem;
Porta de escritório;
O escritório despertou a minha curiosidade, entrei e reparei num móvel que dizia "Trabalho da Lucy ".
Abri o móvel e vi que lá dentro só haviam projetos e coisas do género.
Depois fui ao jardim.
Era bonito; Tinha flores,um banquinho e uma fonte.
Voltei à cozinha e lá estava o livro.
Abri e vi que haviam vários capítulos, mas acabei por começar pelo mais lógico, o sobre mim.
Resumidamente todo o capítulo se destinava a fazer um curto resumo da minha vida e um perfil do que eu era. Lúcia Andrade Alberga Braga. 25 anos. Órfã aos 5 anos porque a minha mãe fora assassinada pelo meu pai abusivo. Infância rebelde. Apaixonada-me pelo meu marido aos 20 anos... e pelo resto a minha rebeldia havia toda sumido e eu seria uma mulher de requinte habituada a vida da classe média alta.
"Isto sou eu?..."
De repente comecei a sentir uma dor no estômago, como se um pressentimento, um pressentimento de que alguma coisa estava muito errada...era difícil explicar. Quase como se o meu coração soubesse que aquilo que tinha lido era mentira mesmo que a minha cabeça não.
"Para de ser paranóica!"
Fechei o livro e fui ao andar de cima, num impulso de alguma forma por as minhas poucas ideas em ordem. Mas quando acabei de subir as escadas senti uma verdade incrível de remexer tudo o que havia naquela casa, uma necessidade de vasculhar todos os cantos, à procura de...algo.
Comecei por remexer nas gavetas do tocador, de pois nas gavetas das mesas de cabeceira e de pois o roupeiro.
Vi o que tinham todos os cabides, observei todas as minhas roupas e depois comecei a abrir todas as caixas. Uma por uma até que uma caixa de flores brancas prendeu a minha atenção. Depois de a observar por um bocado decidi abri-la e acabei por contemplar um tablet, o qual liguei com rapidez, quase como se soubesse que tinha de o fazer. O tablet apenas continha um ficheiro. Cliquei no mesmo mas este requeria uma palavra passe ou a impressão digital...não sei porque o fiz mas acabei por pousar o meu dedo indicador no sensor e deixando me surpreendida o ficheiro abriu!
O ficheiro era na verdade um vídeo de mim mesma. Parecia ter já algum tempo, e precisei de respirar fundo antes de o abrir.
"Ah...olá acho eu, ah...bem eu escondi este ficheiro aqui para que só tu o pudesses ver, porque presumi que o nosso marido não viesses mexer na nossa roupa e se estas a ver isto é porque então fui bem sucedida, o que é uma sorte porque ele não é quem diz ser mas...vais perceber melhor isso quando fores ao jardim buscar a câmara...atrás das rosas há um tijolo ligeiramente saliente só tens de o puxar para fora...-barulho de uma porta- ele chegou tenho de desligar! Não confies em ninguém..."
Pousei o tablet nos joelhos e senti me paralisada...quer dizer...um instinto de medo percorreu me o corpo e senti me a entrar num pânico eminente!
Cambaleando levantei me e desci as escadas devagar, e assim fui até ao jardim. Neste rapidamente vi o arbusto de rosas junto à parede a que me devia referir; estas eram linda, perfeitamente cuidadas e que lembravam de que mesmo o mais belo e delicado pode magoar.Andei em frente.
E observei.
Vi que atrás, na parede havia um tijolo meio para fora.
Cheguei perto das flores e tentei sem me picar puxar o tijolo para o chão. Quando ele caiu no chão. Enfiei a mão no boraco e senti um saco que eu tirei. Fui então para a cozinha e pousando o saco na bancada tirei de lá de dentro uma câmara, que acabei ligando para ver o que continha.
Haviam vários vídeos mas comecei pelo mais antigo.
Ao fim de exatamente uma hora acabei de os ver a todos.
Estava sem palavras.
Com os meus pensamentos ao rubro.
Com um aperto no coração.
As mãos a soar.
A minha única capacidade passou por ir buscar um copo de água e começar a tentar processar que descobrira que o "meu marido" do qual nem disso tenho a certeza que seja, me mente, que a realidade é que eu era uma cientista aparentemente até conceituada...e que ele não quer que eu melhore uma vez que já tentara fazer diários os quais ele deitou fora...
Resta uma questão.
"Porquê?"

Amnésia Where stories live. Discover now