Conto: O filho da Lua Vermelha

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Creio eu que ninguém irá acreditar no que estou prestes a escrever, mas quanto a isso eu não posso fazer absolutamente nada a respeito. O fato é que já perdi a noção do tempo, e estou cada vez mais afundando em minha própria insanidade, então antes que eu seja torturado e depois queimado até a morte, eu vou deixar aqui o que aconteceu.

Eu era o filho mais velho de um senhor feudal muito repudiado pelos servos, e acredito que esse asco seja de minha pessoa também, e de toda minha família. Eu era um jovem muito inconseqüente, não tinha comprometimento com minhas responsabilidades e deveres. Eu e meus irmãos freqüentemente íamos a bordeis e nos deleitávamos dos serviços das mais finas cortesãs do reino, e esse habito perdurou mesmo depois de que foi me dado a mão de minha prima em casamento. Apesar de todas as terras serem minhas por direito, eu tinha muito afeto por meus irmãos e éramos bastante ligados, a ponto de que eu concordei em ceder parte das terras a todos quando o estúpido de nosso pai morresse.

E foi em uma dessas noites de luxuria que tudo começou.

Eu já estava casado e minha esposa estava esperando um filho meu. O fato é que eu não tinha nenhum apresso pela minha cônjuge, embora a mesma me amasse com fervor. Meu filho estava para nascer na próxima lua cheia, e seguindo minha natureza inconseqüente a risca, eu estava em um bordel com três prostitutas. No êxtase da orgia, um de meus irmãos adentrou o quarto que eu estava sendo atendido. Ele me informou que minha esposa havia entrado em trabalho de parto.
Me vesti apressadamente e deixei algum dinheiro sobre a cama, depois parti. O problema é que o bordel ficava longe da mansão de minha família, e se meu irmão saiu de lá no momento em que minha esposa entrou em trabalho de parto, a essa altura ela já deveria ter dado a luz. Praguejei comigo mesmo, mas não por perder o nascimento de meu primeiro filho, e sim, que eu não sabia como iria explicar a minha ausência.

Acreditava eu estar bêbado quando olhei para o céu daquela noite, mas estava seguro de que não. Eu e meu irmão cavalgávamos as pressas, iluminado pelas estrelas e pela... Lua. Mas a lua estava diferente. Um calafrio percorreu minha espinha quando me dei conta que a lua estava vermelha alaranjada. Como se não bastasse eu não saber como explicar onde estava, meu filho iria nascer sob uma lua vermelha. Deus do céu, isso só poderia ser um mal pressagio, um castigo do todo poderoso sobre meu ser. Um nó se formava em minha garganta, juntamente com o remorso em meu coração.

E durante esse pesar, algo de estranho aconteceu.

A estrada estava bastante escura, e eu ouvi meu irmão gritar. Meu cavalo deu uma guinada furiosa e eu fui arremessado para frente. Depois disso, meu mundo ficou escuro e confuso. Eu tenho algumas vagas lembranças que eu me acordava por alguns segundo, sentindo uma terrível náusea, mas logo depois voltava a adormecer. Sabe lá Deus quanto tempo eu fiquei nesse devaneio, mas o que aconteceu depois me fez ter dores de cabeça por meses.

Me acordei em alguma coisa bastante confortável. Era melhor que minha cama, mesmo que ela fosse uma das melhores do feudo, esse lugar conseguia ser muito mais confortável. O lugar que eu estava me deixou tonto. Era uma sala pequena, de tamanho retangular e de paredes, teto e chão de cor cinza claro. A principio eu pensei estar em uma caverna, mas daí me dei conta que o lugar não tinha portas ou janela.

Meu desespero começou ai. Eu comecei a bater nas paredes, gritando para me tirarem dali, mas era inútil. Estava preso em algum lugar, completamente sem saída. Comecei a suar frio e a me desesperar. Perdi a conta de quantas vezes fiz o sinal da cruz e rezei naquele primeiro dia. A cor daquelas paredes me dava vertigem, e pelo fato de ser tudo tão uniforme, parecia que eu estava perdido em uma imensidão de cinza.

Sem contar naquela pequena cama e naquilo.

Havia uma coisa estranha sobre uma espécie de estante. Eu nunca havia visto nada igual antes, parecia ser até mesmo algo sobrenatural. Havia uma placa estreita com uma espécie de vidro ou algo assim. Também havia outras duas caixas logo abaixo, uma grande e a outra pequena. E perto daquela placa ou caixa, havia outras duas coisas intrigantes. Uma delas era outra placa, mas essa havia o alfabeto, números e outros comandos que eu desconhecia. E a outra coisa era um tipo de bola, ou algo assim, que era dividida no meio a partir da metade.

O Lado Negro 1Where stories live. Discover now