ATO 33

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Somos egocêntricos demais para admitir que somos infelizes com nós mesmos.

Somos egocêntricos demais para admitir que somos infelizes com nós mesmos

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     Meu cérebro fervia. Zumbidos, vozes, gritos, todos me julgando, me insultando.

     De olhos fechados, abraçada com o tigre, respirei fundo e gritei. Gritei bem alto, e com isso, tudo voltara ao silencio. Ao abrir os olhos, vi um cenário completamente diferente.

     Não havia mais paredes, nem labirintos, e sim, uma paisagem vazia com muitos espelhos grandes e redondos que rondavam-me.

     Fomos cercados por eles.

     Flutuavam lentamente em um círculo. Olhei para cima. Londres estava lá, de cabeça para baixo. Não avistei nenhum dos outros participantes. Ainda confusa, mas aliviada pelo desaparecimento dos vultos e das vozes, fiquei parada observando os espelhos levitarem.

     Foi quando vi algo estranho saindo de um deles.

     Algo flexível, gelatinoso, criara forma no instante que caíra no chão. Era a segunda Pan novamente. Esta, parecia mais limpa, mais saudável, sem olheiras, com cabelos lisos e cores fortes.

     — O que você quer de mim...? — perguntei.

     — Justiça! — a garota puxou de traz de suas costas uma lança e arremessou em minha direção. Desviei rapidamente para o lado em um movimento ágil, fazendo a lança atingir um dos espelhos atrás. Na sequência ela disparou em minha direção e com um grito de guerra, começou a me golpear com socos. No primeiro golpe de punho, defendi com o braço, mas ela usou seu cotovelo para bloquear minha defesa, fazendo-me desequilibrar para trás. Depois me segurou pelos ombros dando-me uma cabeçada.

     Fiquei atordoada.

     Me distanciei para pensar em alguma estratégia.

     Foi quando notei algo saindo do espelho quebrado. Um castiçal cumprido com suporte para três velas. Sem pensar, corri para pegá-lo. No momento em que ela se aproximava, peguei o objeto e o virei acertando seu rosto. O impacto fez o corpo da garota cambalear para trás e cair em cima de outro espelho, destruindo-o.

     De lá, um novo objeto saiu para fora. 

     Um machado de cobre.

     — Sua desgraçada! — falou com o rosto coberto de sangue. Pan rasgou o ar com um chute certeiro em meu quadril, tirando-me o folego por alguns segundos.

     Na sequência deu um pequeno giro acertando um tapa em meu rosto.

     Era muito habilidosa.

     Muito mais do que eu, e parecia bem mais maligna agora, ensanguentada. Por sorte ela não havia notado o machado. Mesmo mancando consegui pegá-lo.

     — Então vem! — provoquei, já com o instrumento em mãos. Ela sorriu. Ao invés de me atacar, se aproximou de um dos espelhos e o chutou. Dos estilhaços, também pegou uma arma. Parecia um tipo de cetro, com espinhos na ponta. Os demais objetos caídos no chão haviam desaparecido.

     — Se sou uma assassina, você também é — disse a ela correndo ao seu encontro, segurando firme a arma.

     Juntas, atacamos em tempo igual, causando um forte baque. Tudo o que ouvimos fora o estalar dos metais.

     Com mais precisão a garota manuseou o cetro tentando acertar minha barriga, porem defendi e mais um estalar ecoou pelo limbo. Os espelhos que sobraram giravam em torno da gente.

     Arrisquei uma investida, dando impulso para frente, mas o machado era um pouco pesado, dando vantagem para ela me acertar na perna antes de meu ataque.

     Gritei de agonia, mas não caí. Continuei firme e desta vez, ao invés de atacá-la, arremessei a arma em sua direção atingindo seu ombro e derrubando-a.

     Com a perna esquerda debilitada pulei em cima dela, fechei o punho e soquei seu rosto. Quando pensei que tinha conseguido imobilizá-la, Pan conseguiu empurrar meu corpo para trás, dando um chute em minha ferida, gerando mais dor.

     Ambas estávamos caídas. A outra se arrastava para subir em cima de mim e devolver os golpes.

     A joguei para o lado com o punho. Enquanto isso, o tigre estava do lado de fora do círculo, sem poder fazer nada para ajudar.

     — ASSASSINA! — gritou ela, caída com as mãos no rosto, agora deformado — ASSASSINA! — continuava.

     Atrás de mim, outro espelho. Ele jogou uma faca dali ao quebrá-lo com o punho esquerdo.

     — Sim, talvez eu seja mesmo — tremula, estiquei meu braço, peguei a faca, virei o corpo para o lado e perfurei sua garganta.

     Naquela hora, todos os espelhos se partiram, fazendo os cacos voarem por todos os lados.

     Abaixei e coloquei os braços sobre o rosto para protegê-lo. Minha segunda versão já não se movimentava mais, e metade do meu corpo também não. Após a chuva de vidros, o tigre guaxinim vinha ao meu alcance, observando-me por alguns segundos e começara a lamber meus ferimentos.

     — O-obrigada... — disse a ele sorrindo.

     O tigre continuava a lamber o resto de meu corpo onde havia os hematomas. Nesse processo continuei deitada ao lado do cadáver da minha rival, que por instantes voltara a se tornar gelatinoso e se dissipara em meio a terra azul. A dor fora passando.

     Em minha perna, não havia mais machucados, apenas leves dores musculares.

     As armas, os vidros e tudo ali desaparecera. Quando senti minhas pernas melhores, levantei e acariciei o tigre guaxinim carinhosamente. Olhando para baixo, não avistei mais o chão rochoso, apenas um vasto infinito de estrelas, com planetas de fundo.

     Pisávamos em algo invisível.

     Abaixo de mim, uma extensa galáxia.

     Era uma vista impressionante.

     Londres continuava acima. Observei com mais atenção, o parlamento britânico, o rio tamisa e a London Eye.

 Observei com mais atenção, o parlamento britânico, o rio tamisa e a London Eye

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