ATO 12

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Dentre tantos segredos que escondem o mundo, ainda não consegui desvendar o mais simples. Eu.

      — A sala de quadros está disponível para todas as classes nesta semana — dizia Rumpel, gentilmente

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— A sala de quadros está disponível para todas as classes nesta semana — dizia Rumpel, gentilmente.

Petúnia e eu atravessamos o pátio principal passando pelo refeitório. Ao fim, encontrava-se uma enorme escadaria que levava ao segundo andar, cujo local ainda não havia explorado.

— O que seriam essas classes, Petúnia?

— A sua, é a escória delas, Pancada: Delta. Você tem sorte de estar andando com uma Alfa, poucos tem esse privilégio aqui. Seu amigo cego também é da sua classe, apesar de merecer algo mais abaixo.

— Mas, e aí? O que significa? — perguntei desviando os olhos para as portas que seguiam o corredor.

— Rumpel criou essa hierarquia entre nós, para manter o equilíbrio e paz. O cargo Alfa é dado apenas para um irrecuperável que vença as disputas. Dando cem por cento de seu empenho e finalizando as tarefas impostas, você sobe de cargo. No meu caso eu posso fazer o que quiser por minha conta e risco. As regras do orfanato não funcionam para o cargo Alfa. Todos os lugares que são proibidos para um irrecuperável, estão disponíveis para mim. Já o cargo Beta, a liberação é de apenas cinquenta por cento, porém se submete as ordens do Alfa. E os Delta, não tem direito a nada, devem obedecer a qualquer regra imposta pelo Alfa e todos os lugares proibidos do orfanato são proibidos para eles. Dante, meu assistente idiota, é do cargo Beta e obedece a minhas ordens a longo prazo.

— Esse moleque te obedece por chantagem.

— Ah, o abutre cego te contou isso também? Ele deve me admirar muito para sair contando minha vida aos quatro ventos.

— Ele também me disse sobre o cargo alfa, mas não comentou sobre os demais.

— Claro, ele não deve saber nem o próprio sobrenome, quanto mais a hierarquia do orfanato — continuamos seguindo o corredor. Em cima de cada porta, havia placas pregadas que diziam "Biblioteca", "Sala de Utensílios", "Ala hospitalar", "Sala dos quadros", "Sala de cera", entre outras. Quase todas as crianças estavam caminhando naquele corredor em direção a sala de quadros, segurando velhos pinceis e paletas de tinta.

— A biblioteca é proibida para os Delta? — perguntei.

— Sim. Ela só é aberta para o Alfa e os Beta. E mais um detalhe, está vendo lá no fim do corredor? — Petúnia apontou para frente, onde tinha outra escadaria que levava ao terceiro andar — É proibido para todas as classes até o término das férias.

— Por quê? O que tem lá em cima?

— É onde fica nossa sala de aula. Dizem que mais adiante existem outros lugares que escondem vários segredos. Às vezes escutamos gemidos de alguma coisa daqui de baixo. Apenas os funcionários têm acesso além da sala de aula.

Entramos na sala de quadros.

Era espaçoso com vários cavaletes espalhados. Próximo a eles estava um armário grande, escuro onde ficavam os acessórios para as telas. A pouca luz que entrava na sala era das frestas que as tábuas pregadas deixavam. O piso sujo e as prateleiras empoeiradas denunciavam que o lugar estava há muito tempo sem uso.

— Não acha estranho um lugar como este ter tantos segredos?

— E que lugar não tem segredos? A questão é, para mim não tem importância. Tudo aqui é desinteressante, tirando o desaparecimento de Lola — Petúnia respondeu, pegando um dos pinceis do armário — Qual o plano para esta noite?

— Conversaremos sobre isto quando estivermos com o Brok — afirmei.

— Estou aqui — disse o garoto, surgindo atrás de nós de repente. Usava uma boina com um jaleco branco rasgado e com alguns botões faltando. Estava todo manchado de tinta.

— Santo Deus! Quer me matar do coração, moleque? — exclamou Petúnia, afastando-se.

— Quem me dera se morresse desta forma — respondeu.

— Chega vocês dois, por favor! — insisti. Peguei no braço de Brok e no de Petúnia levando-os para fora da sala.

Encostamos em uma parede do corredor e por fim nos entreolhamos.

— Na noite passada, você e Lola estiveram em meus sonhos, Brok.

— O quê? Mas... como...? — perguntou ele surpreso.

— Eu não sei como, mas tenho uma ideia. De acordo com o que você disse eu ocupei a cama em que ela estava. Será que as lembranças que tinha naquele drenador não acabaram se misturando com as minhas?

— É bem possível — afirmou Petúnia — Quando um irrecuperável deixa de usá-los, talvez suas memórias não desaparecem totalmente dos drenadores. Não sei muito como funciona. O abutre deve saber, já que trocou os drenadores com a Lola. Imagina só quanta baboseira ela deve ter sonhado.

— Como sabe disso, sua intrometida? — disse ele, franzindo a testa e tirando a boina da cabeça.

— Gente, isso não importa! Pode ser vantajoso essa mistura de sonhos! Talvez consigamos pistas sobre o paradeiro dela. Preciso de um mapa completo do orfanato.

— Tem um na biblioteca, mas classe Delta não entra lá. Eu podia entrar, mas infelizmente hoje terminou meu período como Alfa — disse Petúnia desapontada.

— Ainda bem — murmurou Brok — Se Pan se destacar neste próximo mês ela pode subir para Classe Beta, e os Beta também podem ir à biblioteca. A disputa por classes se inicia sempre quando o período do Alfa acaba. Só assim conseguira esse mapa, Pan.

— Um mapa para que, afinal? — perguntou Petúnia.

— Se Lola estiver viva, com certeza está em algum lugar daqui. Vocês não conhecem todos os lugares dessa mansão. Um mapa poderá nos dar mais respostas.

— Posso saber por que os três estão cochichando aqui fora? — Rumpel surgiu do nosso lado, com os braços atrás das costas de um sorriso bondoso e ordenou que voltássemos para a sala de quadros.

Talvez meu plano tivesse que esperar mais pouco.

     Talvez meu plano tivesse que esperar mais pouco

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I - Onde Vivem Crianças IrrecuperáveisOnde as histórias ganham vida. Descobre agora