|TRINTA| - O NEVOEIRO.

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Volto a observar a foto que destaca Miranda, buscando entender o que realmente havia ocorrido para que ela tirasse a própria vida. Pela foto ela aparentava ser uma garota feliz, com vitalidade e saúde para uma longa vida. E como em um clique, eu tenho a certeza que o fato de Harry ser tão relutante em mencionar Miranda, é o motivo de seu suicídio. E automaticamente me vejo pensando se Harry sabia de algo que era desconhecido pela família da garota.

Meus pensamentos e questionamentos são dispersos ao som da porta de entrada se abrindo, revelando aos poucos a presença de Harry. Seu olhar fita o que tenho em mãos, e não demora para que ele relacione sobre o que se trata. Suas expressões se tornam frias e rígidas, e ele fecha os olhos a medida que seus punhos cerram ferozmente, ressaltando as veias em suas mãos.

─ O que você está fazendo? ─ Harry é grosso, mas percebo que ele tenta controlar a fúria que o domina no momento.

Seu olhar se ergue em direção aos meus, transbordando a raiva evidente sobre eles. Me sinto pequena e desprotegida, me encolhendo por instinto, como uma criança que recebe uma bronca pela primeira vez. Não consigo emitir nenhum som e nem me mover, é como se o olhar de Harry me predessem ali, de forma que eu me torne sua prisioneira.

Seus passos tornam-se pesados enquanto ele caminha em minha direção. Suas pupilas estão dilatadas de maneira que é impossível ver as íris verdes que sempre se destacam em seu olhar. Sua reação começa a me assustar cada vez mais, a medida que eu fico inerte a qualquer ação. O que claramente instiga ainda mais o nervosismo de Harry.

─ Eu lhe fiz uma pergunta! ─ Ele é agressivo em suas palavras, ao mesmo tempo que sua mão agarra meu braço, me trazendo para perto de sí. Encaro seus olhos, a medida que sinto o ardume na região do meu braço por onde Harry me segura.

─ Você está me machucando. ─ Minha voz é trêmula e sinto as lágrimas brotarem em meus olhos.

A ameaça que sinto por parte de Harry, evidencia o terror e o medo que me consome em vê-lo dessa maneira agressivo. Evito de o olhar nos olhos, com receio de voltar a ver toda a raiva e fúria presente dentro deles. Sentindo-me cada vez mais frágil, como se qualquer coisa, até mesmo uma palavra, fosse capaz de me quebrar ao meio. E o modo como Harry se mantém dominante sobre mim, faz com que aos poucos eu tema o que possa vir a seguir.

─ Harry, por favor! ─ Suplico, tentando em vão me desvincular de sua mão.

Seu olhar observa a própria mão, que ainda está firme em meu braço. E aos poucos eu sinto o sangue voltar a circular naquela região a medida que Harry solta sua mão de mim. Ele me analisa, certificando que tudo esteja bem, tomando bruscamente a matéria do jornal da minha mão.

Meu corpo estremesse, e eu passo a acariciar meu braço em uma tentativa de aliviar a dor na região que se mantém avermelhada. Suspiro, passando a mão por meu rosto e limpando os requisitos de lágrimas. Percebo o olhar de Harry sobre mim, fixos na parte em que é possível ver a região do meu braço marcada por ele.

─ Eu não queria machucar você. ─ Sua voz é melancólica, e Harry tenta se aproximar, mas eu me esquivo dando alguns passos para trás. ─ Por favor, não me afaste de você!

─ Você não quer que eu me afaste? ─ Digo irônica, proferindo toda a minha indignação. ─ Você me afasta todas as vezes em que se recusa a falar sobre ela. ─ Aponto em direção a matéria do jornal nas mãos de Harry, que mencionam sobre Miranda.

─ Por que você se importa tanto com isso? ─ Harry altera novamente seu tom de voz, passando as mãos por entre seus cabelos, um tanto quanto aflito.

─ Porque eu gosto de você, e  quero conhecer você, a sua história. ─ Elevo meu tom de voz, enquanto Harry balança negativamente sua cabeça, não aprovando o meu desejo.

─ Você não tinha o direito de mexer nas minhas coisas. ─ Ele muda o assunto, me encarando fixamente nos olhos, mostrando seu descontentamento. ─ Isso é parte da minha vida, não da sua e muito menos da nossa. ─ Harry é rude, chacoalhando a matéria de jornal em sua mão.

Meu coração sente a dor que as suas palavras me causam, e eu o olho, abatida, buscando por uma esperança em seu olhar que possa interferir em meus sentimentos. Contudo, as únicas coisas que Harry sente é fúria e raiva perante á mim. Ele suspira, preparando-se para dizer algo, porém o som da porta se abrindo o impede, levando  ambas as nossas atenções até meu pai que adentra a edícula.

Seu cenho está franzido, e seu olhar intrigador passa por mim, pairando sobre Harry alguns segundos. Ele se ajeita, devido a bota-ortopédica, procurando apoio para fechar a porta atrás de sí. Meu pai volta a me encarar e eu desvio o olhar não querendo que ele perceba que eu estava chorando.

─ O que está acontecendo aqui? Eu consigo ouvir vocês de dentro de casa. ─ Há preocupação em sua voz, e seu olhar passa inconstante entre mim e Harry. ─ Vocês não vão dizer nada?

Observo a postura de Harry se acalmar aos poucos, a medida que ele dobra novamente a notícia do jornal e a guarda no bolso traseiro da calça. Percebo que assim como eu, meu pai olha atentamente para Harry, firmando suas vistas ao papel. Seus olhos castanhos encontram os meus, ficando evidente a preocupação dentro deles.

─ Mia? ─ Meu pai pondera á mim, me encarando a espera de uma resposta que sane suas dúvidas.

─ Eu não sei. Eu acho que eu não sei de mais nada. ─ Dou de ombros, olhando para Harry que mantém seu olhar baixo. E volto a fitar meu pai, que não compreende o que digo. ─ Por que você não pergunta a Harry? Talvez, ele evite de guardar tantos segredos.

Harry suspira irônico em reação as minhas palavras, se mostrando inconformado com minhas atitudes. Meu pai une as sobrancelhas analisando o que eu havia dito e busca pelo olhar de Harry. Eles se entreolham, a medida que meu pai parece tomar consciência do que está acontecendo.

─ Isso é sobre Miranda? ─ Meu pai pergunta tranquilamente para Harry, que concorda em um aceno de cabeça. Ao mesmo tempo que eu olho perplexa para os dois, e uma sensação de traição domina meus sentimentos.

─ Você sabe sobre ela? ─ Olho para meu pai, desolada, com a revelação que se conclue a cada instante.

─ Eu contei a seu pai algumas semanas depois que eu me mudei para Ventura. ─ Harry toma a frente, não deixando meu pai se pronunciar, e esclarecendo aquilo que nem eu mesma sei se realmente desejo descobrir.

─ É claro que contou. ─ Sou sarcástica, fitando Harry com ironia.

Meu estômago embrulha em repulsa com o fato recém descoberto, e me vejo aos poucos perdendo o ar. Não consigo olhar para Harry, pela raiva e desconsolo que me dominam. Seguro as lágrimas que desejam cair de meus olhos, mas as evito, não querendo que eles presencie a minha franqueza.

Saio em disparada em direção a saída, sem designar meu olhar a Harry. Meus passos se desaceleram ao notar meu pai, que se mantém em frente a porta. Ele me olha, em um gesto simples, sem dizer nada, mas que transparece seu pedido para que eu não parta.

Nego com a cabeça, e ele compreende que o melhor é me deixar ir. E antes de mover seu corpo, dando-me passagem, seus olhos expressam a cautela que ele sente por mim. Sorrio singela, saindo para fora, sem saber o que fazer ou para onde ir. Apenas desejando me ver livre de tudo isso.

 Apenas desejando me ver livre de tudo isso

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O SEGREDO DA NOITEWhere stories live. Discover now