25 - Algo de bom em meio a dor

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Já havia se passado uma semana desde a morte de Ascaban, mas sentia que tinham se passado apenas alguns segundos desde que soube que ele havia morrido, a dor e a saudade eram tão grandes que sentia dificuldades para respirar respirar. Minhas emoções estavam a mil. O casamento havia sido adiado até que Paul e eu se recuperasse. Tinha pesadelos todas as noites com aquele fatídico dia e ficava revivendo a dor de perdê-lo todos os dias após o incidente.

- Imaginei que estaria aqui - olhei para trás e vi Jhony. Estávamos no jardim secreto.

- Não tenho muitos lugares para ir - falei com a vox distante. Após o surto que tive depois de saber que Ascaban havia morrido não tinha chorado desde então, o choro vinha com sabor amargo até a garganta e eu o engolia. Jhony se aproximou e me abraçou. Um abraço tão acolhedor, protetor, sem julgamentos.

- Shhh, calma Bela, calma – libertei toda a minha dor em seus braços aos soluços e choro.

- Me diz que essa dor um dia vai passar Jhony.

- Não posso, minha querida. Ou estaria mentindo.

- Antes dele morrer dissemos coisas horríveis um para o outro, nosso amor foi posto em dúvida e ele se foi com esse sentimento amargo. Ele se foi acreditando que eu o enganei, que menti e o traí.

- Não pense isso, tenho certeza que ele sabia que o sentimento de amor era real, dizemos besteira quando estamos com raiva, mas são palavras movidas por magoa.

Coloquei minha cabeça em seu colo, enquanto ele repousou a mão em meu ombro.

- Você ainda sente muito a falta dela? - perguntei.

- A cada instante. Todas as vezes que meu coração da uma batida me lembro que seu coração não bate mais e amaldiçoo minha existência - ele suspirou imerso em seus próprios pensamentos - você me lembra muito a ela sabia?

- A diferença é que sua mulher não te matou. Já eu... matei o Ascaban - eu chorava sem parar - se eu tivesse tido mais tempo pra treinar e controlar esses poderes.

A dor rasgava meu peito.

- Não se culpe Bela. Crystal também morreu por minha culpa. Sei bem como é esse sentimento.

- Crystal, então esse era o nome dela.

- Achei que já tinha dito a você o nome dela.

- Não.

- Na verdade era um apelido, porque sua marca de cristal era diferente das demais.

- Como se chamava?

- Katherine.

- Que coincidência, ela tem o mesmo nome da minha mãe.

- Naquela época só existiam poucas mulheres chamadas Katherine, pois não era um nome comum - senti seus batimentos aumentarem - disse que sua mãe morreu na guerra, mas e seu pai?- Jhony perguntou meio intrigado.

- Eu não sei. Ninguém sabe na verdade. Só minha mãe sabia, mas ela não contou a ninguém.

- Você tem certeza? Quero dizer... nunca o procurou ou procurou saber quem era ele?

- Sim. Morrei a vida inteira ma floresta e só via pessoas da vila, como o procuraria?

- Como você se chama? Quero dizer, qual o seu nome completo? - ele pareceu apreensivo.

- Beliza Shonttely Thgil. Mas por quê? - agora eu começava ficar inquieta.

- Bela, preste atenção - me segurou pelos ombros - sua mãe deixou algum tipo de pista sobre quem era seu pai?

- Não, quer dizer, quando alguém perguntava a ela quem era o meu pai ela dizia umas coisas sem sentido algum.

- Você se lembra como era?

- Eu não sei, não me lembro.

- Faça um esforço, vamos, estou implorando.

- Deixa eu ver "fui beijada pela sombra da noite e o seu irmão amanhecer deitou-se comigo. Então a luz engravidou-me". Acho que era isso.

- Impossível! Impossível! - Jhony parecia ter visto um fantasma, pois estava pálido.

- Jhony! O que foi? - perguntei preocupada.

- Isso explica tudo. O porquê de você conseguir entrar aqui, não é porque você tem o poder da luz, é porque você tem nosso sangue.

- Seu sangue? Eu não estou entendo onde você quer chegar Jhony.

- Beliza esse lugar é protegido por uma magia de sangue. O meu sangue e o da sua mãe Katherine Shonttely.

- Como sabe o nome da minha mãe? Espere, você falou o seu sangue e o da minha mãe? Então você...

Aquilo era surreal demais para eu acreditar. O Jhony, meu pai?

- Jhony, isso só deve ser um engano ou coincidência, não pode ser.

- Beliza o seu último nome Thgil, leia ele ao contrário, fica Beliza Shonttely...

- Light, de Jhony Light. Você. Mas, mas como? - minha cabeça havia dado um nó.

- Eu só soube que sua mãe estava na guerra quando Gregor me disse que ela havia sido encontrada morta e o bebê estava desaparecido. Gregor sabia sobre você, que sua mãe estava grávida. Não pude a proteger, nem a ela e nem a você. Ninguém sabia se a criança realmente havia sobrevivido, pois isso era impossível já que você nasceu muito antes do previsto.

- Minha mãe usou força vital para me proteger, usou tudo o que lhe restou de vida para que eu pudesse viver. Eu havia sido carbonizada quando o poder começou a entrar em mim, mas de alguma maneira sobrevivi e sem cicatrizes.

- Você deve ter herdado meu poder de cura – ele parou e pareceu se lembrar de algo – no leito de morte minha irmã, Jasmine havia me dito que a criança havia sobrevivido e que era uma garota de fogo. Isso explica tudo.

- Tudo o que?

- A criança de fogo era você, ela usou isso como forma de Gregor não entender que você havia sobrevivido e era a criança que carregava o poder da luz – ele me olhou com carinho – minha filha, minha menininha. Como que eu pude não reconhecer você?

- Então você é meu pai?

- Eu sei que é muito para se absorver e vou entender se...

Não esperei ele dizer mais nada.
Demos um abraço bem forte enquanto chorávamos. Ele era o meu pai, o meu pai de verdade. Naquele momento eu não me importava com mais nada naquele momento. Depois contamos informações básicas um sobre o outro e parecia que tínhamos vivido toda uma vida juntos.

- Jhony, quer dizer, pai, por que o senhor nunca foi atrás de mim já que sabia onde eu estava?

- Eu não podia. Eu me aliei ao meu irmão e em troca ele prometeu não ir atrás de você. Bem, ele cumpriu sua parte no trato. Nós só não contávamos que logo você fosse a menina escolhida para ser a guardiã do poder da luz.

- Mas e agora, o que vai acontecer?

- Depois de manhã é o dia do seu casamento com Paul. Você tem certeza que vai fazer isso?

- Eu tenho que salvar o povo que agora é meu povo, os seres de luz. Acho que é isso que significa ser uma líder, sempre pensar primeiro nos outros e se sacrificar para o bem de todos.

- Me orgulho muito de você filha e eu vou te ajudar. Não sei como, mas eu vou. Agora que a encontrei jamais a deixarei – seu olhar era terno.

- Também não pretendo lhe deixar.

- Bom, acho melhor você entrar.

- Está bem.

Então eu entrei para o castelo e subi para o meu quarto, estudei a língua e costumes do povo do reino das trevas e a noite estava me sentido muito cansada e sonolenta apesar de não ter feito nada. Fechei a porta e resolvi descansar um pouco.

Caí num sono profundo e logo perdi os sentidos. Abri meus olhos, mas não acordava, eu estava tendo uma visão. Alguém estava tentando se comunicar comigo, mas quem? Não vejo direito, não pode ser, é Ascaban.

A última guardiã da Luz (Completo)Où les histoires vivent. Découvrez maintenant