|DEZESSETE| - PORSCHE 1956.

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─ Acho que esses presentimentos tem mais haver com o acidente do meu pai. ─ Avalio, chegando a uma conclusão mais óbvia, a fim de por término as conversas alheias de minha mãe.

─ Talvez. ─ Ela reflete, após alguns segundos em silêncio. ─ É que eu tive mais de um presentimento ruim só essa semana! ─ Minha mãe insiste, e eu começo a perceber a impaciência que se sobressai em mim.

─ Você age como se eu estivesse sozinha, meu pai está aqui. ─ Digo, não ligando pelo irritamento que predomina meu tom de voz.

─ Com um par de muletas e um pé quebrando, eu tenho certeza que ele poderá ajudar! ─ Minha mãe diz impulsiva, com o ar irônico e superior presente em suas palavras.

─ Ele torceu o tornozelo. ─ Corrijo a afirmação errada feita por minha mãe, contendo o meu sarcasmo pela sua falta de informação.

─ É quase a mesma coisa! ─ Ela rebate, e sei distinguir que esse não era o ponto principal da conversa que minha mãe deseja expor.

Ela desiste de continuar no mesmo tópico de conversar, e passa a mencionar sobre as aulas de yoga que se inscreveu, fazendo com que eu deixe de prestar atenção, uma vez que eu já havia ouvido a versão curta dessa história e agora teria que encarar a versão repleta de detalhes. E acredite quando digo que são muitos os detalhes que minha mãe gosta de mencionar.

Enxágo o último prato pertencente a louça suja, ao mesmo instante, que me pego pensando quando minha mãe daria um fim a essa ligação que já não possue mais um sentido significativo. Dessa forma, tento colocar um término a nossa conversa, contudo, minha mãe não parece notar minhas intenções.

Porém, em frações de segundos vejo a minha liberdade enfim chegar, ao ouvir a voz firme e grave de meu pai emanar pelo ambiente da cozinha, interrompendo a conversa que ainda é sustentada por minha mãe.

─ Mia, você pode vir aqui por um instante?

─ O que seu pai quer? ─ O tom argumentativo e curioso de minha mãe é evidente.

─ Ele deve estar precisando de ajuda. ─ Digo, enxaguando as mãos a fim de me livrar da espuma que as cobria.  ─ Tenho que desligar, antes que ele resolva fazer sozinho e se machuque.

─ Eu sei muito bem como ele é! ─ Minha mãe é convicta em suas palavras, expressando o conhecimento dos anos de experiência ao lado de meu pai. ─ Se cuide e aproveite suas férias. Vejo você em algumas semanas!

─ Se cuide também! ─ Digo, percebendo a vontade que surge em minha mãe em querer dar uma continuidade em nossa conversa, evitando o fim da mesma. Contudo, sou rápida e trato por logo desligar a ligação.

Nos últimos dias, desde a queda de meu pai, os seus movimentos foram comprometidos. As muletas o ajudam, mas não é tudo que ele consegue fazer. A mecânica foi abdicada e passada para o comando de Harry nesse período, com o intuito de dessobregarregar meu pai visando uma melhor e rápida recuperação.

Caminho em direção a sala, sabendo que vou encontrar meu pai ali, assim como eu o havia ajudado a se acomodar há alguns bons minutos atrás. Observo sua postura calma, vendo sua atenção se desviar da televisão para os papéis organizados ao seu lado de tempo em tempo.

─ Preciso que você leve esses projetos e documentos para o Harry. ─ Meu pai se manifesta ao notar minha presença na sala, logo estendendo alguns papéis em minha direção.

─ Posso levar amanhã? Já está tarde. ─ Devolvo os papéis ao constar no relógio da sala serem onze e vinte da noite.

─ Tem que ser agora. Esses papéis precisam ser revisados com urgência. ─ Ele os ergue novamente, chacoalhando em minha direção.

O SEGREDO DA NOITEWhere stories live. Discover now