onze

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 Era só uma questão de tempo. Uma interrogação retórica que iria ser descodificada em breve. Por enquanto, permanecia sentada no soalho, arrumando todos os pertences únicos e indispensáveis para a nossa longa conquista. Após um mês em terreno pacífico e seguro, as ambições de Michael alcançaram o patamar desconhecido, até mesmo para a sua mente caótica. Entre roupas caducas e acessórios com significados incalculáveis pretendia terminar a aborrecida tarefa sem antes presenciar um dos comentários típicos e ousados de Jeremy que, batucava com a capa de um vinil a madeira escura da extensa prateleira.

– Há alguma razão em particular para esta decisão repentina? – ele questiona, sem hesitações ou receios da sua inconveniência.

Mesmo que não tivesse uma resposta credível e concreta, devido aos pensamentos cobertos entre páginas rabiscadas e ações mudas vindas do jovem de madeixas vermelhas caídas sob a sua face pálida, fui forçada a suspirar pesadamente em busca de uma justificação credível. Todavia, ambicionava expandir o conceito de liberdade para além da situação em que nos encontrávamos. Estalei os dedos, fechando a mochila num ápice sendo forçada a encarar a expressão do dono do bar carismático que, aguardava pacientemente por uma resposta.

– Lembras-te de quando tentaste desvendar a melhor refeição mexicana e acabaste por baixar os braços por não saber uma resposta? – comentei, tomando partido divertido da sua interrogação. – Tacos&Burritos.

Ambos soltamos gargalhadas descoordenadas ao relembrar o cenário passado. Jeremy era sem sombras de dúvida um amigo a manter, um conselheiro nas horas vagas com um traço de romântico incurável encobrido. Saberia que algum dia ele iria querer cobrar as noites desenroladas no balcão, acompanhados por Nicholas e Monique onde tagarelávamos sobre os nossos cenários mais constrangedores; quem conseguia identificar o cliente mais sensível ao líquido saciável. Iria relembrar a sua presença, não somente pela sua personalidade imprevisível mas também pela generosidade e amizade por nos ter mantido seguros depois de identificar o nosso problema.

– Não hesitem em regressar caso precisarem. – ele avisa, cruzando os braços sob a camisa branca. – A estadia continua a ser de borla mas não se fiem nas bebidas.

– Irei ter isso em mente. – murmuro, recebendo um abraço da parte do jovem. – Oferece a mixtape que fizeste à Monique, quero progressos quando regressar!

– Não estravas atrasada?


Enrolada no cobertor acolhedor, apreciava a brisa gélida do final de tarde acompanhado pelas cores inigualáveis do pôr-do-sol que com a sua tonalidade amarelada envolvia a minha mente uma sensação de conforto, ao contrário do vento incomodativo que não aparentava cessar. Após as extensas horas somente guiados por um mapa desatualizado e duas antiquadas bicicletas em pleno território francês, não poderia exigir mais do que um descanso privilegiado; onde as árvores que balançavam consoante a direção da brisa, a relva que apesar de fatigada da época árdua permanecia afável, as pequenas lâmpadas penduradas nos pequenos galhos provenientes de algum festejo anual e, até mesmo o sucinto lago embelezado com as folhas secas. Todos os mínimos pormenores indicavam que, era a altura certa para o frequentar, como se de facto, estivessem à espera pacientemente pelo nosso próximo passo.

Estimava as ruas planas da capital porém, fora impossível não realçar as diferenças ao embater com o olhar nas ações e atitudes das pessoas que caminhavam pelos passeios de pedra. Perante a minha figura, os únicos sons audíveis eram os resmungos e palavras desamigáveis entre condutores apressados ou a música produzida pelos auscultadores altíssimos de alguns jovens. Entre multidões entretidas com o seu aparelho eletrónico, abstraídas com o seu próprio mundo paralelo, poucos eram que trocavam falatórios curtos ou assuntos aplausíveis. Qual seria o verdadeiro significado de liberdade para estas pessoas? Enquanto a minha expressão de admiração apreciava cada detalhe enquanto empurrava a minha bicicleta e distraía Michael nas suas investigações pelo papel despedaçado, as restantes almas agiam como a liberdade fosse algo tomado como garantido. Até quando podemos ter o «algo» como garantido?

– Nunca se deve desistir de coisas em que não conseguimos refletir sobre elas durante um mero dia. – Michael profere, no exato momento em que encaro a sua expressão serena.

– Para além de súbito aventureiro também te dedicas à leitura de mentes? – comento, aconchegando a manta xadrez em torno do meu pescoço. – Estás diferente, Mike.

Em seguida das minhas palavras proferidas, as baixas chamas provenientes da fogueira desvaneceram, tal como a feição tranquila de Michael. Era insólito o facto de praticamente não falarmos sobre os assuntos que mais nos passam nos pensamentos. E, neste caso nem mesmo o silêncio permanente conseguia encobrir a mudança gradual nas atitudes de Michael no último mês. Ou até mesmo compreender a diversidade de emoções que sentia regularmente sem explicação ou avisos prévios. Estava perante uma parede branca com fissuras, onde estavas representavam todas as memórias omitidas.

– Não tens aquele fogo presente no teu olhar e tens a perfeita noção disso. – admito numa voz exasperada, um pouco reticente da sua possível reação.

– Ouve, somos apenas nós, os nossos medos, os nossos momentos, sem terceiros daqui em adiante. – o rapaz de cabelos vermelhos articula, deitando-se sob a relva macia. – E eu adoro esse detalhe.

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EU SEI QUE DEMOREI UM MÊS A ATUALIZAR 

também sei que disse que ia haver ação mas meus caros este tipo de ação é o oito ou oitenta só avisei para preparação psicológica ( ͡° ͜ʖ ͡°)

a primeira parte do capítulo podem pensar que não é nada de especial porém, aqui tudo tem um motivo meus caros

então, contem-me o que acham que passa na cabeça deste mitchelito avermelhado

to mt out 

léo



Bike · mgcWhere stories live. Discover now