Bike · mgc

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Nada é permanente; a dor, a saudade, os problemas, a felicidade. Estamos constantemente numa fase de mudança. Havia quem considerasse que a cura de tudo era o tempo porém, essas teorias não poderiam estar mais erradas. Tempo não era suficiente. Queria mudar tudo, realizar as coisas a minha maneira, alterar o jogo por completo. Adorava sentir a aragem gélida a embater contra os meus longos cabelos, enquanto pressinto a adrenalina a percorrer cada parte do meu corpo. Imaginar ser a única pessoa a caminhar sobre o mosaico dos pátios do colégio, e o resto à minha volta ser uma mera passagem em câmara lenta.

Repleta de pensamentos revolucionários, pouso o caderno onde guardo todos os planos e provas para a grande aventura. Verifico o relógio pendurado por cima das camas perfeitamente alinhadas, confirmando que por volta desta hora, teria um encontro marcado no parapeito da janela, como já fazia parte da rotina repetitiva e fatigante.

Esboço um largo sorriso ao observar Michael na janela contrária, extremamente alegre por ter o conhecimento que estávamos mais perto do que nunca a realizar o que sempre caprichamos. Ergo uma sobrancelha com a ausência do rapaz de cabelos claros, questionando-me se teria sido apanhado desprevenido pelo seu companheiro de quarto, ainda desconhecido. Um breve suspiro sai dos meus lábios carnudos ao verificar a sua chegada com um papel branco que rapidamente o coloca no vidro límpido.

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Hoje é o dia. Não poderia estar mais ansioso por voltar a sentir o teu cheiro fantástico.

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Elevo o braço fino formando um coração nuns gestos rápidos, após ler a sua nota escrita com a sua caligrafia desordenada e pouco cuidada. Estaria a enganar-me se negasse a enorme vontade que tenho de abraçar o meu grande amigo de anos até ter a completa certeza que não o iria largar. Desejava esse afeto desde o angustiante dia em que fomos separados por obrigação. O colégio, conhecido com as suas normas distintas e rigorosas aplicou um contrato em que não haveria qualquer misturas entre os dois sexos, devido a um rumor ridículo de há anos.

Mesmo com as diversas e variadas barreiras, Michael nunca desistira de manter o contacto regular. Sendo ambos conhecidos por os superiores por causa das nossas imprudências e atividades invasoras estamos limitados a conversas de janela para janela. Bilhetes escondidos nos arbustos do jardim encantador. Olhares pelas grades que no qual jurava saber todas as falhas. Contudo, nada conseguia substituir o nosso típico encontro às cinco da tarde no parapeito, em que estava destinado partilharmos os detalhes da nossa futura aventura.

Impaciente com a minha extensa demora, o rapaz de cabelos loiros elabora sinais de aborrecimento provocando um sorriso da minha parte. Num ápice, retiro a folha branca da gaveta desarrumada utilizando uma caneta escura para escrever a curta mensagem.

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É hoje que nunca mais te largo, Clifford.

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