|DEZESSEIS| - ENQUANTO HOUVER ESPERANÇA.

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Noto a luz acessa que emana da cozinha e não me recordo de tê-la acendido anteriormente. Caminho a passos lentos e silenciosos com receio do que posso vir a encontrar. Respiro fundo, tomando coragem para continuar, porém ao vislumbrar de relance o ambiente da cozinha me deparo com Harry mexendo dentro do armário.

Ele olha em minha direção e não parece se importar ao ser visto em minha casa. Me atento no que Harry está fazendo, vendo o guardar os frascos e cartelas de remédio dados pelo hospital do qual meu pai ficaria a base por algumas semanas.

─ Os medicamentos ficaram dentro do carro, aproveitei para guardá-los. ─ Harry justifica ao analisar minha feição de desentendimento.

─ Sem problemas. ─ Digo, o vendo guardar o último frasco dentro do armário. ─ Foi uma longa noite. ─ Reflito sobre a angústia de ficar no hospital e Harry concorda com um sorriso singelo. ─ Fique, que eu irei preparar algo para comermos. ─ Proponho, porém, Harry nega não se mostrando confortável.

─ Obrigado, mas irei para casa. Foi realmente uma longa noite! ─ Ele diz rapidamente, e eu não o respondo, permanecendo em silêncio e em partes desapontada por sua recusa.

Harry enfia as mãos nos bolsos dianteiros da calça, sem graça e caminha em direção a porta da cozinha que dá saída para o quintal, sem dizer ou fazer um gesto de despedida. O vejo através da janela e desisto de tentar me aproximar dele. Talvez, nós nunca funcionariamos como amigos. O retiro de meus pensamentos e vou até a sala me acomodando no sofá de maneira relaxada.

Foco minha atenção na lista de canais e seus diversos entretenimento, buscando por algo que chamasse meu interesse. Contudo e infelizmente pelo horário da noite a maioria dos canais transmitem filmes antigos ou no pior estilo terror e suspense, algo que claramente nunca me cativou.

Continuo minha busca, entretanto tenho a sensação de ouvir o som de porta se abrindo. Automaticamente, olho em direção a porta da entrada, porém, tudo está igual e intacto. Respiro aliviada, mas o receio ainda resiste dentro de mim.

Escuto o som de passos se aproximando e de instinto olho para atrás, vendo Harry se aproximar, com seu semblante sereno e o caminhar calmo. O olho surpresa e curiosa pela sua presença que a poucos minutos me foi negada.

─ O que você está fazendo aqui? ─ Questiono Harry, o seguindo com o olhar, enquanto ele caminha em direção ao sofá.

─ Eu mudei de idéia. ─ Ele dá de ombros, descontraído, se acomodando no sofá. ─ O que nós iremos assistir? ─ Harry encara a televisão tentando decifrar o que é transmitido e eu o olho desconfiada, sem entender sua atitude. ─ O que foi? ─ O moreno interroga ao perceber meu olhar sobre ele.

─ Nada. ─ Digo de imediato, sem saber ao certo como agir com Harry.

─ O que você gosta de assistir? ─ Harry está descontraído, mostrando o quanto simpático e amigável ele pode ser.

─ Qualquer coisa, menos filme de terror! ─ Manifesto minha opinião e Harry acha graça, sorrindo de lado.

─ Todo filme de terror é legal! Várias mortes e gente sendo possuídas por espíritos. ─ Harry diz animado, querendo tirar onda comigo e eu lanço um olhar de repreensão, do qual ele ignora completamente.

─ Não há graça nenhuma nisso! ─ Rebato sua resposta, tentando pegar o controle de volta, mas, Harry recua a mão impedindo que eu pegue o que desejo.

─ É só um filme, não é real. ─ Ele ri relaxado, e eu rolo os olhos em resposta.

Harry se recupera da crise de riso, enquanto eu observo sua postura aos poucos se tornar séria novamente. E me pego pensando se eu veria a versão tranquila e animada dele outra vez. Harry concentra sua atenção a lista de canais que muda constantemente em uma velocidade considerável, na busca que agrade seu gosto.

O SEGREDO DA NOITEWhere stories live. Discover now